sábado, 6 de setembro de 2025

Ataques hackers assustaram o Banco Central. Por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Galípolo promete novas medidas para combater fraudes; dúvida é se BC está preparado para enfrentar o crime organizado

A megaoperação Carbono Oculto, contra a lavagem de dinheiro do PCC e que chegou à Faria Lima, fez o Banco Central reagir e antecipar medidas regulatórias para conter a infiltração do crime organizado no sistema financeiro.

Não dá para dizer que o BC foi surpreendido. Poucos têm conhecimento, mas a denúncia contra a Reag, empresa alvo da operação, foi feita pelo BC ao Ministério Público. A instituição também já tinha aberto uma consulta pública para colher sugestões do mercado para implementar mudanças nas regras e apertar as instituições de pagamentos.

Não resta dúvida de que a operação pressionou o presidente Gabriel Galípolo a correr com o anúncio e que os casos de abusos se espalharam em velocidade maior do que se imaginava.

Mas foram os ataques hackers ao sistema, como demonstração de força dos criminosos após a operação, que assustaram o Banco Central na última semana.

Na nova lista de proibição do que uma instituição de pagamento não pode fazer, dá para tirar uma ideia dos absurdos que alguns andavam fazendo. Um deles é o compartilhamento de chaves de acesso ao sistema. É como entregar a chave do cofre para os criminosos.

Os ataques se tornarão cada vez mais frequentes, e o BC sabe que terá que agir com instrumentos bem mais poderosos do que dispõe hoje para debelar as ações dos hackers.

Galípolo promete outro pacote de medidas de combate às fraudes para breve. Só não pode demorar. De imediato, o BC estabeleceu mecanismos de prevenção a fraudes e monitoramento integral —24 horas por dia, sete dias por semana— para identificação em tempo real, com base em padrões históricos e comportamentais, de transações atípicas ou fraudulentas.

A dúvida é se a instituição está preparada para enfrentar o embate contra o crime organizado. Galípolo trabalha para aprovar a PEC da autonomia financeira do BC como uma entidade de direito privado e instrumentos mais flexíveis de contratação. Mas o governo não quer dessa forma. O impasse está no ar.

 

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