Folha de S. Paulo
Congresso se empenha em desmoralizar a nobre
atividade de representante da nação
Os bons parlamentares ficam apagados ante a
relevância da mediocridade da maioria dos pares
No salve-se quem puder geral a que se dedica
o Congresso, confirmam-se duas escritas: a de que a legislatura
seguinte será sempre pior que a anterior e aquela outra acerca de nada ser tão
ruim que não possa piorar.
São afirmações pessimistas atinentes ao amarfanhado figurino da antipolítica adotado por arrivistas, embora lamentavelmente realistas em determinadas situações. Numa dessas é onde nosso Parlamento vem se (e nos) colocando.
Na eleição de 2018 já houve queda acentuada
na qualidade dos parlamentares, com a invasão de lacradores de internet.
Desprovidos de noção sobre a natureza da atividade para a qual foram eleitos,
fizeram dos celulares seus instrumentos de trabalho.
Foi ruim, mas a partir de 2022, ficou pior.
Os bons desistiram da função ou ficaram apagados ante a relevância da
mediocridade. O fenômeno da substituição do cardinalato pelo baixo-clero no
comando dos trabalhos já vinha ocorrendo desde 2003, quando o minoritário PT construiu
maioria no poder com base no fisiologismo mensaleiro.
De lá para cá, por motivos diversos, a
deterioração foi se aprofundando até o ponto em que chegamos: um Congresso
disposto a tudo comandado de um lado por um deputado cuja autoridade sofre
processo de erosão e, de outro, por um senador interessado em cargos e emendas.
Ambos —Hugo Motta (Republicanos-PB)
e Davi
Alcolumbre (União-AP)— eleitos num amplo acordo da esquerda à
direita que os faz reféns de compromissos antagônicos entre si. Isso resulta em
presidências reféns das causas internas.
A lista é parruda: PEC da Blindagem, anistia como moeda de troca, aumento de
vagas na Câmara, deputado ausente na liderança da minoria, reforço aos
fichas-sujas, desvios no uso de emendas, motim em plenário e o que mais esteja
por vir.
No Estado de Direito, instituições não
existem para serem negadas, desmoralizadas, enfraquecidas como fazem
congressistas empenhados em demolir aquela que, em tese, deveria zelar pela
nobre tarefa de representar a vontade da nação.
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