segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Eduardo Bolsonaro quer racha do bolsonarismo, por Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Deputado ameaça influência da família ao pretender assumir sozinho liderança de Jair

O bolsonarismo sempre foi palco de disputas fratricidas. Muitas das quais resultaram em inúmeros expurgos. Mas agora os conflitos alcançaram outro nível. Faltando pouco tempo para o início do julgamento de Jair BolsonaroEduardo Bolsonaro deixa clara sua intenção de provocar um verdadeiro racha.

Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), afirmou que, "se Tarcísio for candidato à Presidência, será pelo PL". Em resposta, Eduardo Bolsonaro anunciou que, caso o governador de São Paulo ingresse na sigla, a família Bolsonaro irá procurar outra legenda.

Para Eduardo, apenas membros da família seriam confiáveis para continuar o legado político de Jair Bolsonaro. Os demais políticos de olho em seu espólio devem ser vistos com desconfiança pois, em sua visão, haveria um processo para "apagar" a família Bolsonaro do cenário político.

Tarcísio respondeu afirmando que, caso fosse eleito presidente, sua primeira medida seria conceder um indulto a Jair Bolsonaro. No entanto, a probabilidade de que Jair Bolsonaro venha a ser salvo por um indulto presidencial é quase nula. Basta lembrar do caso do então deputado bolsonarista Daniel Silveira.

Silveira foi condenado pelo STF em 2022 por ameaça ao Estado de Direito e coação no curso do processo. A sentença de 8 anos e 9 meses de prisão teve origem na divulgação de um vídeo no qual atacava ministros do STF, defendia o fechamento do Supremo e pedia um novo AI-5.

Na época, Jair Bolsonaro concedeu um indulto a Silveira, mas sua prisão foi mantida por unanimidade pelo STF. Isso abriu um precedente para que um possível indulto a Jair Bolsonaro também seja negado. Sobretudo levando em consideração que os crimes pelos quais Bolsonaro será julgado são mais graves e sua pena pode ultrapassar 40 anos de prisão.

Daí a pressão do bolsonarismo pelo impeachment de Alexandre de Moraes via Senado. Contudo, há vários obstáculos. Apenas o presidente do Senado pode decidir se aceita ou não um pedido de impeachment de um ministro do STF. Caso aceite, o parecer precisa de maioria simples (41 votos) para ser aprovado. Porém, a decisão final deve ser confirmada por dois terços (54 votos).

No início de agosto, 41 senadores já se posicionaram a favor do impeachment de Moraes. Apesar disso, Davi Alcolumbre anunciou que não deve pautar o tema. Ainda assim, faltariam 13 votos para chegar aos 54 necessários. Daí o esforço concentrado dos bolsonaristas para eleger o máximo de senadores em 2026. O que não será fácil.

No ano que vem, o Senado irá renovar justamente 54 cadeiras, duas por estado. Para atingir o objetivo de ter dois terços da Casa, os bolsonaristas precisam eleger 39 novos senadores, ou seja, mais de 70% do total. O racha que vem sendo promovido por Eduardo Bolsonaro torna o feito ainda mais difícil.

Não contente em anular seu próprio futuro político e prejudicar o processo do pai, Eduardo Bolsonaro ameaça a influência da família e enfraquece o bolsonarismo ao querer assumir sozinho a liderança exercida por Jair. Perde a extrema direita, ganha o Brasil.

 

 

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