Folha de S. Paulo
Xi Jinping e Donald Trump apenas recolocam
relações sino-americanas na situação de setembro
EUA aliviam sanções contra empresas; China alivia em terras raras, de venda ainda restrita
China e Estados
Unidos concordaram em evitar guerra econômica aberta; aceitaram
fingir que querem ou podem chegar a um acordo. É o que se depreende
do resultado mínimo do encontro entre Xi Jinping e Donald Trump.
A situação voltou apenas para onde estava em meados de setembro. A China
prometeu aliviar em terras raras, comprar uma soja; os americanos prometeram
sancionar menos empresas chinesas e deram uma gorjeta em tarifas.
O assunto não é blablá de política internacional. A depender do tamanho do risco de conflito, grande, taxas de juros e preços de moedas variam muito, como sentimos até aqui neste canto do mundo. Alteram-se decisões de investimento, estratégias de comércio, portas de comércio se abrem e se fecham, no curto e médio prazo.
O acordo possível é evitar a guerra. China e
Estados Unidos disputam a supremacia militar, a liderança em inteligência
artificial, em computação quântica etc.; agora, disputam até
certos recursos naturais. Os EUA limitam faz anos e limitarão a venda de
tecnologia avançada para a China, além de sancionar empresas chinesas avançadas
ou com poder de mercado grande no mundo.
Trump chegou a dizer, na véspera da reunião
com Xi, que discutiria a liberação da venda do chip mais avançado da Nvidia
para os chineses. Causou grande rebuliço e ranger de dentes bipartidário nos
EUA. Limitar
acesso chinês a tecnologia de ponta agora é política de Estado e do
establishment americano. Mas os chineses continuam a dizer que
querem mais acesso e menos sanções contra suas empresas.
Os americanos querem que a China mude sua
política econômica —ou geoeconômica. Isto é, pouco consumo, muito subsídio,
muito investimento e muito excedente de produto industrial para exportação,
saldo comercial enorme, investimento grande no exterior, formação de novas
alianças e dependências no resto do mundo. Não vai acontecer mudança relevante
a não ser em caso de convulsão na cúpula chinesa.
Os chineses
controlam 90% ou mais do mercado mundial de terras raras, além de
fazer dumping, manipular preços, para derrubar concorrentes possíveis no
negócio. Os EUA e países ocidentais ricos correm para encontrar fornecedores de
terras raras e desenvolver fábricas de processamento e de ímãs.
Os EUA acabam
de fazer acordos ou entendimentos mais ou menos firmes com Austrália,
Japão, Malásia, Tailândia, Camboja, Vietnã e Indonésia, por exemplo, a fim de
ter acesso ao minério, coordenar investimentos em fábricas e criar um mercado
paralelo ao chinês. Seria ou será um mercado com grandes subsídios e controles
de preços estatais, americanos inclusive. Mesmo que dê certo ou que também
sejam desenvolvidas tecnologias alternativas, vai levar anos (cinco, mais) para
que se comece a se morder a China. O valor do negócio, em si, é pequeno (US$ 10
bilhões em vendas), mas a escassez provocada ameaça estrangular empresas
industriais da ponta da tecnologia.
Também por isso a China terá o poder de
peitar os EUA por um tempo (os chineses também são fornecedores exclusivos de
muito insumo, farmacêutico inclusive). Os EUA vão aceitar esse jogo? Como vão
ameaçar a China por outros meios? Por ora, há "desacoplamento" (menos
comércio entre os dois países, empresas americanas saindo da China) e guerra
morna —nas relações econômicas. A perspectiva é de desacordo duradouro.
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