Folha de S. Paulo
Petismo reage a derrota em MP dos impostos
emulando discurso da antipolítica
Parlamentos surgiram historicamente para
controlar gastos de governantes
Luiz Inácio Lula da Silva
foi eleito presidente entre outras razões porque, naquele 2022, representava a
união de forças democráticas contra um adversário que já escancarara seus
ímpetos autoritários. Não que Lula e o PT tenham sido
sempre baluartes da elegância republicana, mas jogam dentro das quatro linhas
da Constituição,
o que Bolsonaro não fazia.
Não importa o que digam as pesquisas eleitorais hoje, o próximo pleito deverá ser, como o anterior, uma disputa apertada. É do interesse de Lula, portanto, seguir cultivando a imagem de democrata dedicado.
Esse é um terreno em que seu adversário mais
provável, Tarcísio
de Freitas, que já prometeu indultar golpistas e já vestiu o boné do Maga
trumpiano, tem escorregado feio.
Nesse contexto, parece-me um erro o petismo
reagir à derrota
da MP de aumento dos impostos atacando o Parlamento. "Congresso
inimigo do povo" foi o mote escolhido pelo deputado Lindbergh
Farias, líder do PT na Câmara.
Vejo dois problemas nessa atitude. Em
primeiro lugar, ela emula o discurso antipolítica da extrema direita.
Qualificar o adversário como inimigo é uma
forma de tentar roubar-lhe legitimidade. Ele deixa de ser alguém com um ponto
de vista diferente, que pode ser objeto de debate e de negociação, para
tornar-se figura malévola a ser combatida e eliminada. Aliás, a expressão
"inimigo do povo" já deu margem a tantos abusos ao longo da história
que democratas genuínos deveriam abster-se de utilizá-la.
Em segundo lugar, a retirada da MP dos
impostos é o que se pode chamar de "fair game" (alvo legítimo). É
absolutamente normal e esperado que um Congresso dominado por oposicionistas
vote para não aumentar o espaço fiscal para gastos do Executivo num ano
eleitoral. O PT cansou de fazer isso quando era oposição. E nem dá muito para
falar em sabotagem sistemática quando o PL que isenta o IR dos pobres e aumenta
o dos ricos passou por unanimidade na Câmara.
Parlamentos, não custa lembrar, surgiram
justamente para tentar controlar os gastos de governantes.
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