sábado, 11 de outubro de 2025

O discurso de Lula. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O governo requentador e reativo agora tem marca e discurso. Nada a ver com ser verdadeiro, bem antes com capacidade de convencer e engajar. O Planalto, longamente acuado, botou na frente – já ao fim do terceiro ano de mandato – e se tornou pauteiro do debate público. Lula, sem nunca ter sido carta fora do baralho, passou a distribuir as cartas, afinal senhor de fórmula que justifica o financiamento à sua gastança e acossa – criminaliza mesmo – a oposição que não lhe quer facilitar a vida.

A menos de ano para a eleição, aquele que era o taxador das blusinhas será o que isenta quem ganha menos de pagar Imposto de Renda. Esse é o texto; e é influente. Tem base num feito material, numa conquista objetiva: a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. Quem cumpre promessa eleitoral – sobre um tabu – se habilita a prometer mais: o rico vai custear o alívio do mais pobre. Tudo se desdobrará dessa projeção. Por exemplo: tarifa zero para o transporte público. Estará no programa de Lula à reeleição. Não importa se factível, não interessa o custo. Faz sonhar.

Com quase oito anos de atraso, para lembrar célebre discurso de Mano Brown sobre o palanque de Fernando Haddad em 2018, o PT parece se reaproximar da base social de que se afastara. O presidente está bem mais à esquerda do que quando eleito, em 2022. A articulação de frente ampla contra o capeta, em defesa da democracia, não seria mais suficiente para vencer. Tampouco o de defesa da soberania ante o assédio ianque.

Lula vai, já foi, ao enfrentamento – bandeira para 2026 – com o estandarte de combate à desigualdade, investido de todo no tomar dos ricos para dar aos pobres. Neste momento, veicula-se na TV propaganda petista que se compromete com a revisão da escala de trabalho 6x1, outro tabu. Não importa se factível, não interessa o quanto custará. Faz sonhar.

Até faz pouco, Fernando Haddad sendo o Taxxad, este governo raspador de tacho aumentava impostos sem convicção, quase clandestinamente, não raro tendo de recuar quando desnudado. Isso mudou. E não importa se se mente ou se distorce sobre quem pagará a conta. Agora a taxação é assumida e expandida nos termos da luta política, de modo que quem lhe for contra estará “contra o Brasil”.

Lula dá o tom – o tom do ano eleitoral: “O Congresso Nacional não derrotou o governo. Derrotou o povo brasileiro”. Na Bahia, resumiu o mote da próxima campanha, ao mesmo tempo proclamando a forma como financiaremos, misturados super-ricos e remediados, a sua tentativa de reeleição: “Eles (os ricaços) podem saber que é uma questão de dias. Eles vão pagar o imposto que merecem aqui no Brasil”.

O presidente reafirmou também a escolha do adversário – a “direita permitida”, segundo o bolsonarismo eduardista: Tarcísio de Freitas, aquele “defensor dos milionários” que, de acordo com Haddad, trabalhou contra a MP do IOF para “proteger a Faria Lima”.

 

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