O Estado de S. Paulo
O governo requentador e reativo agora tem marca e discurso. Nada a ver com ser verdadeiro, bem antes com capacidade de convencer e engajar. O Planalto, longamente acuado, botou na frente – já ao fim do terceiro ano de mandato – e se tornou pauteiro do debate público. Lula, sem nunca ter sido carta fora do baralho, passou a distribuir as cartas, afinal senhor de fórmula que justifica o financiamento à sua gastança e acossa – criminaliza mesmo – a oposição que não lhe quer facilitar a vida.
A menos de ano para a eleição, aquele que era
o taxador das blusinhas será o que isenta quem ganha menos de pagar Imposto de
Renda. Esse é o texto; e é influente. Tem base num feito material, numa
conquista objetiva: a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. Quem cumpre
promessa eleitoral – sobre um tabu – se habilita a prometer mais: o rico vai
custear o alívio do mais pobre. Tudo se desdobrará dessa projeção. Por exemplo:
tarifa zero para o transporte público. Estará no programa de Lula à reeleição.
Não importa se factível, não interessa o custo. Faz sonhar.
Com quase oito anos de atraso, para lembrar
célebre discurso de Mano Brown sobre o palanque de Fernando Haddad em 2018, o
PT parece se reaproximar da base social de que se afastara. O presidente está
bem mais à esquerda do que quando eleito, em 2022. A articulação de frente
ampla contra o capeta, em defesa da democracia, não seria mais suficiente para
vencer. Tampouco o de defesa da soberania ante o assédio ianque.
Lula vai, já foi, ao enfrentamento – bandeira
para 2026 – com o estandarte de combate à desigualdade, investido de todo no
tomar dos ricos para dar aos pobres. Neste momento, veicula-se na TV propaganda
petista que se compromete com a revisão da escala de trabalho 6x1, outro tabu.
Não importa se factível, não interessa o quanto custará. Faz sonhar.
Até faz pouco, Fernando Haddad sendo o
Taxxad, este governo raspador de tacho aumentava impostos sem convicção, quase
clandestinamente, não raro tendo de recuar quando desnudado. Isso mudou. E não
importa se se mente ou se distorce sobre quem pagará a conta. Agora a taxação é
assumida e expandida nos termos da luta política, de modo que quem lhe for
contra estará “contra o Brasil”.
Lula dá o tom – o tom do ano eleitoral: “O
Congresso Nacional não derrotou o governo. Derrotou o povo brasileiro”. Na
Bahia, resumiu o mote da próxima campanha, ao mesmo tempo proclamando a forma
como financiaremos, misturados super-ricos e remediados, a sua tentativa de
reeleição: “Eles (os ricaços) podem saber que é uma questão de dias. Eles vão
pagar o imposto que merecem aqui no Brasil”.
O presidente reafirmou também a escolha do
adversário – a “direita permitida”, segundo o bolsonarismo eduardista: Tarcísio
de Freitas, aquele “defensor dos milionários” que, de acordo com Haddad,
trabalhou contra a MP do IOF para “proteger a Faria Lima”.
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