O Estado de S. Paulo
As próximas eleições serão entre rumos opostos, mas não se trata de direita ou esquerda
De fato as eleições de 2026 estão assumindo
contornos de encruzilhada, da qual literalmente se sai para um lado ou para o
outro. Mas não é entre “direita” ou “esquerda”, entre projetos antagônicos.
As últimas semanas ofereceram lições de como
corporativismo, privilégios de grupos e a volúpia pelo caminho fácil do
assistencialismo são ecumênicos no Brasil. E como é muito mais fácil – entre
outros exemplos – penalizar investimentos e atividade produtiva e salvar
rentismo e apostas.
A “força” que o governo Lula julga estar recuperando vem desse quadro que já foi alguma vez chamado de nacional-desenvolvimentista. E que hoje se nutre fundamentalmente da ideia de que, tocando o barco do mesmo jeito, alguma coisa melhor vai acontecer lá na frente.
O grande espectro que se convencionou chamar
de “oposição” não ostenta rumos claros e se vê desorientado, fracionado e
dividido. E parece estar chegando, por erros próprios, a um dilema que a
desorganização de lideranças poderia ter evitado: é a real possibilidade de que
a insistência em salvar Bolsonaro faça a oposição se perder em si mesma.
Portanto, a encruzilhada que a eleição sugere
é a escolha por mais do mesmo no qual tanto faz “direita” ou “esquerda” (além
da cada vez menos suportável polarização) ou por algum tipo de convergência
política que no mínimo leve em conta a magnitude da grande crise para a qual
caminha o País – institucional e fiscal, agravada por demografia e produtividade
estagnada.
Qualquer que seja a “força” do governo, não é
a das ideias, nem sequer no campo do marketing político. Não é na renovação de
quadros dirigentes, cujo principal símbolo (ou único) é um quase octogenário
preso à volta de um passado que nunca existiu. Sem qualquer fórmula
arrebatadora e caminhando para uma armadilha de contas públicas criada
sobretudo por sua cegueira ideológica.
No outro braço da encruzilhada estão elites
de vários segmentos convencidas de que nomes fazem programas e promovem ideias,
e não o contrário. Excelentes na capacidade de desenvolver alguns nichos de
alta produtividade, de inovação e integração internacional (especialmente a
moderna agroindústria), mas até aqui sem nem sequer uma noção de “projeto
nacional”, que pudesse ter como inspiração, por exemplo, até sua própria
história de sucesso.
Uma encruzilhada desse tipo, exposta também
pelo trauma trumpista, exige para ser enfrentada uma qualidade de lideranças
(não só políticas) cuja ausência é no momento o grande drama nacional. A
“força” de Lula é apenas o retrato disso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário