Folha de S. Paulo
Diretora do FMI e BC inglês temem baixa
súbita das ações, o que afetaria também o Brasil
Economia de Trump e altas dívidas de países
ricos incentivam busca de ativos alternativos
"A história nos diz que o sentimento
pode virar de modo abrupto", disse
Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário
Internacional, nesta quarta. Sim, falava de bolha sem ousar dizer o nome,
assim como o fez o Banco da Inglaterra (o BC deles) em relatório publicado
também nesta quarta.
Isto é: tratam de superinvestimento
em inteligência artificial e correlatos; de preço exagerado de ações de
grandes empresas. Georgieva disse que o otimismo com a IA "incendiou"
os mercados e ajuda a sustentar o crescimento da economia dos EUA e do mundo.
No caso de reviravolta "abrupta", o caldo engrossaria por aqui também: "...condições financeiras mais restritivas poderiam reduzir o crescimento mundial, expor vulnerabilidades e tornar a vida especialmente difícil para os países em desenvolvimento", disse Georgieva. Na semana que vem, tem reunião do FMI.
Há mais riscos: a perda de confiança no dólar e nos
títulos públicos americanos por causa da dívida crescente e descontrolada dos
EUA e da ameaça trumpista de tomar o Fed, o BC americano. "Há sinais
preocupantes de que o teste pode chegar", disse Georgina.
O Comitê de Política Financeira do BoE escreveu
em relatório: "Riscos relacionados a tensões geopolíticas, fragmentação
global de comércio e mercados financeiros e pressões nos mercados de dívida de
governos permanecem elevados. O risco de uma correção abrupta no mercado
aumentou". O S&P 500 subiu 15% neste ano.
Há mais altas de interesse. O
preço do ouro aumentou 54% no ano. O metal passou o euro em volume de
reservas dos bancos centrais. Desde as sanções (confiscos) contra a Rússia, por
cautela recorre-se a um pouco mais de ouro no lugar de títulos de dívida do
governo dos EUA, por exemplo.
Desconfiança da política econômica de Trump e
o nível alto e ora insolúvel de dívida de governos de países ricos incentivam a
fuga para outros ativos: ouro, criptoativos. O preço do bitcoin subiu
32% no ano. É medo. Um pingo desse dinheiro que migra dos EUA até caiu aqui no
Brasil e em emergentes.
O comitê do BoE nota o recorde das Bolsas e o
peso das cinco maiores empresas no índice de ações S&P 500, que é de 30%, o
maior em meio século. O preço das ações em relação a retornos esperados das
empresas está no maior nível em quase 25 anos (perde para o do período da bolha
"ponto com").
Uma queda dos preços das ações de empresas
grandes de tecnologia teria,
pois, efeito em quem investe no índice (na variação média).
A bolha "ponto com" inflou de 1995
a 2000. Estourou também com a contribuição de alta de juros do Fed; levou a
Nasdaq ao colapso e contribuiu para a breve recessão de 2001 nos EUA.
Entre os riscos de baixa, o BoE cita:
capacidade ou adoção "desapontadora" de IA; competição mais acirrada;
escassez de oferta de energia, dados e outros insumos para a IA; mudanças
conceituais que exijam infraestrutura diferente de uso e desenvolvimento de IA
Jensen Huang, da Nvidia, e Jeff
Bezos, da Amazon, têm dito que "esta bolha é diferente". No caso das
líderes de IA, se trata de empresas imensas, não bagrinhos da era "ponto
com", bem capitalizadas, que usam caixa para investir (menos dívida) que
na pior das hipóteses, de "ajuste", deixarão avanços tecnológicos e
infraestruturas com impacto real, imediato e duradouro na economia.
Prever bolha é quase coisa de vidente. Mas o
Brasil deveria colocar as barbas de molho. O ambiente está tenso, no mundo e
na politicazinha
doméstica.
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