Folha de S. Paulo
Derrota exigirá agora novas medidas para
sustentar a arrecadação e reduzir despesas obrigatórias
Ficou evidente que o arcabouço fiscal, regra
aprovada em 2023, morrerá precocemente
A negociação da medida
provisória do aumento de impostos foi desastrosa e também
reveladora do estado das coisas no Congresso
Nacional. Como toparam, do ponto de vista moral, tirar da negociação
da MP o aumento de tributação das bets, proposta que foi apresentada ao governo
pelas lideranças da Câmara dos
Deputados como alternativa ao já esquecido aumento do IOF?
É a prova de que são muitos os parlamentares
comprometidos em blindar as
empresas de apostas eletrônicas, como ocorreu na vergonhosa CPI das Bets.
Como toparam manter a isenção para títulos como LCA e LCI, voltados para os setores do agronegócio e imobiliário, que distorce as condições de negociação de títulos no mercado de capitais brasileiro com custo bilionário para o governo?
Como toparam elevar, em contrapartida, a
alíquota de 18% para as demais aplicações financeiras, aumentando a distância
em relação aos títulos isentos? O relator da MP, Carlos Zarattini (PT-SP), e o
governo cederam para aprovar a medida e foram atropelados.
Com tanta confusão, o melhor que aconteceu
foi a Câmara ter enterrado de vez a MP com a aprovação do requerimento de
retirada da pauta no último dia da sua vigência.
A pressão da poderosa indústria de fundos no
Brasil, que entrou em desespero com o aumento da diferença de tributação entre
as aplicações, levou à derrubada da proposta.
A derrota exigirá agora novas medidas para
sustentar a arrecadação e reduzir despesas obrigatórias em 2026. A incerteza
sobre o que poderá ser feito trará mais ruído fiscal.
O barulho já vinha aumentando diante do risco
de o governo apertar os botões para acionar as chamadas bondades para melhorar
o ambiente econômico no curto prazo e garantir votos nas eleições. A
articulação do presidente Lula para
aprovar no Congresso uma proposta que prevê R$ 5 bilhões anuais para
investimentos nas Forças
Armadas fora da meta fiscal é
mais um sinal negativo.
Trata-se de uma evidência contundente de que
o arcabouço fiscal, a regra proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso em
2023, morrerá precocemente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário