O Estado de S. Paulo
Em queda neste ano, preços de produtos agropecuários devem voltar a subir em 2026 no atacado
Um dos principais fatores de alívio no custo
da alimentação no domicílio das famílias brasileiras em 2025, os preços dos
produtos agropecuários no atacado devem voltar a subir em 2026. A dúvida é se a
pressão desses preços sobre a inflação final ao consumidor no ano que vem
poderá vir a ser uma preocupação ao Banco Central.
“Haverá uma aceleração moderada dos preços agropecuários no próximo ano”, diz Fábio Romão, economista sênior da 4intelligence. Segundo ele, a maior parte dos efeitos que puxaram esses preços para baixo e beneficiaram o consumidor neste ano deve se dissipar no ano que vem.
Para o alívio neste ano, além de boas safras em algumas culturas agrícolas, a apreciação do câmbio foi um dos principais responsáveis, com a queda acumulada até aqui de quase 14% do dólar ante o real. Houve também um reflexo temporário da gripe aviária, com a suspensão de compras internacionais elevando a oferta doméstica de aves, o que puxou para baixo, por tabela, o preço de outras proteínas. Aliás, a oferta doméstica de alguns produtos agropecuários também aumentou como resultado das novas alíquotas de importação dos Estados Unidos sobre o Brasil.
É bom lembrar que, em 2024, os produtos agropecuários foram um dos maiores vilões do índice de preços ao produtor amplo (IPA), subindo 15,2%, o que contribuiu para o IGP-M avançar 6,5%. Mas, em 2025, Romão prevê uma deflação de 3,6% nos preços agropecuários, com o IGP-M devendo registrar queda de 0,7%. Não à toa, o alívio projetado para o item alimentação no domicílio no IPCA, com a alta de 8,2% desse item em 2024 desacelerando para um aumento de 3,8% neste ano.
A história deve ser outra em 2026. Romão
estima aumento de 3,9% dos preços agropecuários. Segundo ele, os preços no
atacado de açúcar, arroz, milho, soja, boi gordo, frango, trigo, feijão e café
(que pesam quase 80% do IPA – agropecuário) devem passar de uma pequena
deflação acumulada em 12 meses ao final deste ano para uma razoável aceleração
até meados de 2026, perdendo o ritmo no segundo semestre, mas ainda fechando o
próximo ano com moderada alta.
“Os principais efeitos do ‘tarifaço’ americano, avaliados como desinflacionários, ao tirar força do dólar e tração da economia global, já terão ficado para trás”, diz Romão. Apesar da reversão prevista de deflação para alta moderada, ele não vê os preços agropecuários como o “carro-chefe” das preocupações do BC com a evolução da inflação no varejo em 2026. A atenção ainda deve ser com os preços de serviços, já que o mercado de trabalho segue robusto.

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