O Globo
Campo político tem preso ao seu pé a bola de
ferro da família Bolsonaro, e precisará de jogo de cintura para argumentar em
2026 contra o fim da escala 6x1
Vem aí 2026 com sua eleição e um presságio
trazido pelo Datafolha: 35% dos entrevistados identificaram-se com a direita e
22% com a esquerda. Nada de novo sob este céu de anil. Em agosto de 2006, uma
pesquisa semelhante registrou que a direita tinha 47% contra 30% para a
esquerda. Em 2010, Dilma elegeu-se.
Com a diluição de rótulos como esquerda e
direita essas classificações perderam eficácia. A direita tem presa ao pé a
bola de ferro da família Bolsonaro. Já a esquerda tem duas: a incapacidade de
patrocinar uma agenda para a segurança pública e a má vontade com o
agronegócio.
Há alguns anos criou-se a imagem de uma bancada do BBB, ou seja: do boi, da Bíblia e da bala. Quem menosprezava o potencial político dos três bês esquecia-se de que o B de boi era o agronegócio, o B de Bíblia referia-se ao livro mais vendido no país e o B de bala juntava políticos que seguem a máxima segundo a qual “bandido bom é bandido morto”.
A esquerda tem um comportamento dúbio diante
do B de bala. Quando a polícia do Rio mata 122 “suspeitos” na Penha e o
governador Cláudio Castro é bafejado por uma brisa de popularidade, Lula não
hesitou ao chamar a operação de “matança”.
Quando o prefeito petista de Maricá (RJ),
Washington Quaquá, diz que “lugar de bandido em Maricá é na vala”, Lula e os
petistas fazem-se de desentendidos.
Essa dubiedade decorre da falta de uma
política de segurança sem valas nem matanças. Quando o ministro Ricardo
Lewandowski apresentou seu pacote para a segurança pública, seus conselheiros
sopraram-lhe a ideia de bombar a Polícia Rodoviária Federal, feudo de Flávio
Bolsonaro.
Lula entrará em 2026 com a bandeira do fim da
escala de seis dias de trabalho para um de descanso. A direita ficará contra,
como ficou contra a Lei do Ventre Livre, a Abolição, a jornada de oito horas e
o 13º salário.
Resta saber se uma direita que produziu um
presidente que militou contra as vacinas durante uma epidemia terá jogo de
cintura para dar racionalidade aos seus argumentos contra a nova escala.
Peluso quer código de conduta
Desde outubro, quando subscreveu um estudo da
Fundação Fernando Henrique Cardoso, avaliando o Supremo Tribunal Federal, o
ex-ministro Antonio Cezar Peluso defende a adoção de um código de conduta para
os magistrados do STF.
Assim, são oito os ex-presidentes que defendem
publicamente a mudança, mais o ministro Edson Fachin, atual presidente da
Corte, e a ministra Cármen Lúcia.
Aos nomes dos demais: Rosa Weber, Ayres de
Britto, Marco Aurélio Mello, Carlos Velloso e Celso de Mello. Todos
aposentados.
Os presidentes do STF chegam à cadeira por um
sistema de rodízio. Três ministros (Luiz Fux, Dias Toffoli e Gilmar Mendes)
estiveram na função e continuam no tribunal, mas não se manifestaram. Luís
Roberto Barroso aposentou-se há pouco e também está calado.
Nenhum deles é obrigado a assumir uma
posição, mas a proposta de Fachin é combatida em silêncio. Contra, em público,
só Alexandre de Moraes, numa fala de 2024.
Estranho silêncio, para um tribunal que
começou 2025 mostrando que condenou 371 pessoas pelas badernas golpistas do 8
de Janeiro.
Os traidores e Michelle
Não se pode saber que ventos sopram na
família Bolsonaro, mas o barraco natalino, com Michelle falando em “traição de
pessoas mais próximas” e Flávio Bolsonaro divulgando, em mensagem manuscrita, o
patrocínio do pai à sua candidatura, indica que a coisa irá longe.
Clinton e Epstein
Como era de se esperar, o ex-presidente Bill
Clinton (1993-2001) caiu na roda de saliências criminosas do ricaço tarado
Jeffrey Epstein.
Fala-se mal de Donald Trump (beneficiário do
círculo de relações sexuais de Epstein) e da inflexão irracional do partido
Republicano. Valeria a pena buscar no casal Bill-Hillary a nascente da crise do
partido Democrata.
Galípolo e o Master
O presidente do Banco Central, Gabriel
Galípolo, está numa sinuca de bico com o caso do banco Master.
Se contar tudo o que sabe, muda a essência da
relação do BC com bancos a caminho da quebra, mas, em tempos de festas e do
Especial de Roberto Carlos, faz um milhão de inimigos.
Até agora, Galípolo não foi convincente sobre
o que tratou em seus contatos com o ministro Alexandre de Moraes.
O estilo de Leão XIV
As roupas dos Papas são um indicador de suas
políticas. Desde sua entronização, em 2005, Bento XVI (2005-2013) fez uma opção
pelos tesouros do Vaticano e abandonou o báculo de aço, com um Cristo sofrendo,
trazido por Paulo VI (1963-1978) e mantido por João Paulo II (1978-2005). Além
disso, tornou famosos seus sapatos vermelhos.
O argentino Bergoglio teria dito que “acabou
o carnaval” e Francisco atravessou seu pontificado de 2013 a 2025 com enormes
sapatos pretos.
Leão XIV mostrou uma queda pelo luxo, sem a
pompa de Bento XVI, tirou do armário a peça de aço, mas usa também báculos
dourados com fina ourivesaria.
Até agora, está mais parecido com Francisco
do que com Bento.
A Igreja Católica começou a mudar em 1958,
quando João XXIII começou a dispensar o trono em que era carregado nos ombros
de 12 homens vestidos de preto. Anos depois, João Paulo I mandou-o para o
depósito.
Malu Gaspar disse tudo
A repórter Malu Gaspar disse tudo:
“O ano de 2025 vai terminando amargo para
muita gente que acreditou nos julgamentos dos vândalos golpistas do 8 de
Janeiro e dos articuladores da intentona para impedir a posse de Lula como
salvação da democracia.
Tudo por causa do enredo que começa no contrato da mulher de Alexandre de Moraes com o banco Master, prevendo o pagamento de R$ 3,6 milhões mensais ao longo de três anos por serviços até agora desconhecidos, e segue com a pressão do ministro sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pela aprovação da venda do Master ao BRB, banco estatal de Brasília.”

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