quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

Agora sendo recebido desta forma no Congresso Nacional, o Brasil despertou, o Brasil hoje é um Brasil diferente do Brasil antes da eleição. Emergiu um Brasil que quer ser protagonista da construção do seu próprio futuro. As pessoas não deixaram de estar mobilizadas a partir do resultado da eleição. O que eu percebo é o contrário. Pessoas continuam emocionadas, continuando querendo construir um futuro melhor para suas famílias e para seus filhos. Essa é uma mobilização inédita na nossa história contemporânea.

O que eu tenho visto aqui hoje no Congresso e o que tenho visto nesses últimos dias por onde eu tenho andado é um sentimento de que, quando o governo olhar para a oposição, eu sugiro que não contabilize mais o número de cadeiras e assentos no Senado e na Câmara. Olhe bem e vai encontrar mais de 50 milhões de brasileiros que vão estar vigilantes e cobrando atitudes deste governo, cobrando investigações em relação às denúncias de corrupção, cobrando a melhoria dos nossos indicadores econômicos, nossos indicadores sociais.

Nós somos hoje um grande exército a favor do Brasil e prontos para fazer a oposição que a opinião pública determinou que se fizesse. Eu chego hoje ao Congresso Nacional para exercer o papel que me foi delegado por grande maioria da população brasileira, por 51 milhões de brasileiros. Vou ser oposição sem adjetivos.

Aécio Neves, senador (MG), em Brasília, 4 de novembro de 2014

Pós-eleição - Luz sobe até 22% no Rio e anula desconto de 2013

• Reajuste da Light, de 17,7%, zera efeito da queda forçada pelo governo nas tarifas em 2013

Danilo Fariello, Clarice Spitz – O Globo

Conta de luz mais cara

BRASÍLIA E RIO - A conta de luz dos cariocas vai subir 17,75% a partir de sexta-feira. Para os consumidores industriais, a alta será ainda maior, de 19,83% a 20,25%. E na iluminação pública o aumento chega a 22,65%. Com os reajustes autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para os clientes da Light, o preço da eletricidade no Brasil subirá ao menos 18% este ano, preveem especialistas. E, assim, será anulado por completo o desconto na conta de luz forçado pelo governo federal em 2012 e que levou a uma queda média de 15,65% no preço da energia no ano passado.

Além disso, analistas preveem que a estiagem e o aumento do custo das térmicas provocarão alta superior a 20% nas tarifas de energia do próximo ano.

Para Priscilla Burity, do banco Brasil Plural - que prevê alta de 19% nas contas de luz este ano - o governo foi surpreendido pela forte seca, que aumentou o uso de termelétricas, com energia mais cara. Pesou ainda o fato de algumas empresas, como Cemig, Cesp e Copel, não terem concordado com a antecipação da renovação do contrato, o que forçou mais desembolsos do governo.

A economista também chama atenção para o fato de que as distribuidoras terão de pagar os empréstimos contraídos com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) ao longo dos próximos anos, o que vai gerar gastos e pressão nos preços das tarifas de energia para o consumidor.
- O que frustra essa política do governo foi que o desconto do ano passado foi desfeito e, com dívidas que foram acumuladas, a conta de luz ainda será problema para o consumidor - disse.

Nas contas da economista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, as tarifas de energia elétrica subirão 17,9% neste ano. A previsão também indica que a queda da conta de luz no ano passado será anulada. Com esta projeção, ela avalia que não há margem pra um reajuste imediato da gasolina sem que o teto da inflação seja rompido. A consultoria prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano com alta de 6,4%, sem considerar um reajuste do combustível.

O reajuste da Light fez com que o preço da energia por kilowatt-hora (kwh) em 31 municípios do Rio, incluindo a capital, atingisse valor superior ao praticado no fim de 2012, antes do desconto, adotado em fevereiro de 2013 dentro do pacote do governo. O preço praticado pela Light, sem impostos, era de R$ 0,38359 por kwh no fim de 2012. Esse valor caiu a R$ 0,31416, com a redução de tarifas, no início de 2013. Com os reajustes no ano passado e o de ontem, o valor subirá a R$ 0,38708, acima do praticado antes da redução.

Risco de estourar teto da meta de inflação
Na média de todos os 3,7 milhões de consumidores da Light , que inclui serviços públicos, comerciais, industriais e o setor rural, o aumento autorizado é de 19,23%. O diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, destacou que o aumento da tarifa da Light foi elevado principalmente em razão do custo maior da energia elétrica no mercado de curto prazo ao longo deste ano. Enquanto que, tradicionalmente, o custo da energia corresponde a cerca de um terço do reajuste, no caso da Light ela significou 58% do aumento.

Em comunicado ao mercado financeiro, a Light ratificou ontem que o aumento foi pressionado pelo reajuste de 21% dos custos não-gerenciáveis da concessão, "principalmente da elevação do preço no mercado de curto prazo, impactado pela deterioração da condição hidrológica do sistema, que afeta o custo da energia dos contratos por disponibilidade de usinas térmicas, que estão sendo amplamente despachadas".

Entre o aumento médio pedido pela Light, de 20,9%, e o aplicado pela Aneel, de 19,23%, está um gasto de cerca de R$ 100 milhões que a companhia entende que deve ser repassado para a tarifa, mas a Aneel, não. Segundo Angela Magalhães Nunes, superintendente de Regulação da Light, as diferenças em discussão não impactam o resultado financeiro da empresa, mas seu caixa.

Segundo levantamento a partir dos dados da Aneel, o aumento médio das 59 tarifas já reajustadas neste ano está em 17,3%. Mas entre julho e outubro, a média dos aumentos é de 25,6% entre as distribuidoras com mais de 500 mil clientes. Na semana passada, a Companhia Energética de Roraima teve reajuste de 54,06%.

A estimativa de economistas é que o reajuste da luz na região metropolitana com o segundo maior peso no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) adicione em torno de 0,05 ponto percentual à inflação neste ano. Segundo as projeções, a inflação, atualmente em 6,75% nos últimos 12 meses encerrados em setembro, deverá terminar o ano dentro do teto da meta de 6,5%. Mas não há consenso sobre o espaço para um reajuste para a gasolina, sem que a meta seja descumprida:

- Com reajuste de 5% na refinaria, ou de 3,5% na bomba, o IPCA fecharia acima do teto. Se o governo vê a inflação acima do teto da meta como limitador, não acho que vai haver reajuste de gasolina - disse Adriana, da consultoria Tendências.

O economista Leonardo França Costa, da Rosenberg Associados, calcula que o impacto do reajuste da Light na inflação pode ficar entre 0,05 e 0,07 ponto, mas que o IPCA deve terminar o ano dentro do intervalo da meta, em 6,3%. Para o ano que vem, no entanto, França Costa estima uma alta das tarifas de energia ainda maior: 21%.

Governo libera Petrobrás para reajustar gasolina, mas adia anúncio

• Porcentual e data do aumento do preço do combustível não ficaram definidos na reunião do conselho desta terça-feira; novo encontro foi marcado para o próximo dia 14

Mônica Ciarelli, Antonio Pita e Fernanda Nunes - O Estado de S. Paulo

O governo decidiu liberar a Petrobrás para reajustar o preço dos combustíveis. Mas a definição do porcentual e da data do aumento não foi acertada na reunião desta terça-feira do conselho de administração da estatal - que durou mais de nove horas. Um novo encontro foi marcado para o dia 14, quando, além do reajuste, é também esperada a divulgação do balanço financeiro da empresa no terceiro trimestre.

“Reajuste de combustível não se anuncia, pratica-se”, disse a presidente da Petrobrás, Graça Foster, ao deixar a reunião. No início da noite, a estatal soltou um comunicado reiterando que, até o momento, não havia definição sobre o tema.

O último aumento nos preços dos combustíveis dado pela Petrobrás entrou em vigor no dia 30 de novembro de 2013, quando a gasolina foi reajustada em 4% e o óleo diesel em 8%.

A reunião desta terça-feira ocorreu em Brasília, onde Graça Foster voltou a fazer uma longa apresentação sobre o cenário da companhia e a necessidade de a empresa de elevar seus preços para recompor as margens de lucro. Ao longo de 2014, a estatal trabalhou a maior parte do tempo com uma defasagem de preços na casa dos 20% em relação à cotação do petróleo no mercado internacional.

O alívio veio no início de outubro, quando o valor do barril de petróleo entrou em queda livre, passando dos US$ 100 para um patamar em torno de US$ 85. Com o movimento, a diferença entre os preços no Brasil e no exterior praticamente deixou de existir, o que reduziu os custos da companhia com a importação de derivados de petróleo.

Mesmo com a recente trégua, Auro Rozembau, analista de petróleo do Bradesco, calcula que a Petrobrás tenha deixado de gerar cerca de R$ 80 bilhões em receita nos últimos três anos por causa da defasagem de preços. Além disso, a valorização do dólar em relação ao real pressiona ainda mais o endividamento da estatal, que já ultrapassa R$ 300 bilhões.

A expectativa em torno de um reajuste movimentou as ações da estatal na BM&FBovespa. Sem uma definição sobre o tema, os papéis acabaram próximos à estabilidade. A preocupação agora é com a divulgação do resultado da estatal no terceiro trimestre, que será divulgado no dia 14, data-limite para a publicação do balanço pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Auditoria. A demora na divulgação do resultado se deve a questionamentos feitos pela auditora PricewaterhouseCoopers (PwC). O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, adiantou no domingo que entre eles estava o pedido da auditoria para a saída do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, citado nas investigações da Operação Lava Jato.

Na sexta-feira, uma reunião do conselho de administração foi interrompida no primeiro item da pauta, quando se discutiam as denúncias de corrupção feitas pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa na Lava Jato. Diante da pressão da PwC, na segunda-feira, Machado pediu licença do cargo por 31 dias. Costa alega ter recebido das mãos do presidente licenciado da Transpetro R$ 500 mil em dinheiro vindo de esquema de corrupção na companhia.

Pesquisa. Em meio às denúncias de corrupção, rebaixamento da nota pela agência de classificação de risco Moody’s e desvalorização das ações, a Petrobrás lançou uma pesquisa entre seus acionistas para avaliar o interesse por seus papéis. O Departamento de Relações com Investidores da estatal informou que o trabalho não tem relação com os “problemas” pelos quais a companhia vem passando, mas funcionará como um termômetro da sua imagem.

Mensagem enviada pelo RI da Petrobrás aos acionistas relata que a Checon Pesquisa foi contratada para ouvir a opinião sobre os investimentos da petroleira. Diz ainda que o grupo de acionistas que participará da pesquisa será escolhido por sorteio.

Verão pode trazer 'corte seletivo' de luz

• Para garantir que usinas estejam preparadas para pico de demanda, energia seria cortada durante madrugadas

• ONS fez alerta ao setor em reunião na última 5ª; para evitar medida, nível de reservatórios tem que chegar a 30%

Machado da Costa - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O Operador Nacional do Sistema (ONS) avisou na quinta-feira (30) a distribuidores e geradores que há risco de serem necessários cortes seletivos de energia para garantir o fornecimento durante os horários de pico, entre janeiro e fevereiro, quando há forte aumento no consumo de eletricidade.

Para manter os reservatórios em nível seguro e evitar apagões nos horários de pico, as usinas deixariam de fornecer energia de madrugada. Os cortes afetariam grandes centros urbanos do Sudeste, como Rio, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Vitória.

A medida pode ser necessária se as chuvas não forem suficientes para elevar os reservatórios ao nível de 30% em janeiro. Atualmente eles estão em 18,27%. No ano passado, neste período, estavam com 41,62% da capacidade.

Durante reunião do Programa Mensal de Operação (PMO), Francisco José Arteiro de Oliveira, diretor de Planejamento e Programação da Operação do ONS, afirmou que o órgão precisaria operar as usinas hidrelétricas de forma a prepará-las para os horários com maior demanda.

Para evitar quedas inesperadas do sistema, o ONS cortaria seletivamente parte do fornecimento na madrugada. Isso permite o aumento do volume de água nas represas.

EM 2001
A operação seria semelhante à planejada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso em 2001, quando os reservatórios encontravam-se em nível superior ao atual.

Em novembro daque- le ano, o nível médio dos reservatórios do Sudeste estava em 23,04%.

Em 2001, esse plano foi evitado por fortes precipitações entre novembro e dezembro, mas o governo não escapou de decretar o racionamento no ano seguinte.

Isso porque, diferentemente do que ocorre hoje, as térmicas não complementavam a base do sistema elétrico.

Procurado, o ONS não se pronunciou, mas sua assessoria confirmou que o alerta foi dado na reunião.

O órgão espera um crescimento da demanda de energia da ordem de 5% em fevereiro, mês no qual são registradas as maiores demandas.

Em 6 de fevereiro 2014, foi registrada a máxima histórica de consumo: no Sudeste, a demanda atingiu pico de 51.261 MW. Como comparação, no domingo (2), último dado disponível, o consumo atingiu 38.542 MW.

A Folha apurou que o órgão vem avisando o setor durante as reuniões há três meses e que sua preocupação aumentou recentemente.

O ONS, porém, espera que ocorra um período chuvoso com volume normal de precipitações a partir da segunda quinzena deste mês, o que seria suficiente para atingir um nível seguro de operação dos reservatórios.

A perspectiva é embasada por institutos meteorológicos contratados pelo operador, segundo o órgão.

Caso em abril de 2015 as reservas hídricas do Sudeste alcancem nível próximo de 40%, o racionamento deverá ser descartado pelo ONS.

Aécio diz que mobilização não termina com resultado da eleição

• Aécio: campanha teve lado ‘macabro’ e lado ‘lindo’, do despertar dos brasileiros

• Recebido no Congresso aos gritos de ‘presidente’, ele afirmou que ‘Brasil hoje é diferente’ de antes da votação

Maria Lima e Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA — Ao chegar ao Senado aclamado por militantes e servidores tucanos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve dificuldades para chegar até o plenário da Casa pela quantidade de pessoas que o cercavam, gritando seu nome. Antes de entrar, afirmou que a mobilização por melhorias não terminou com o resultado da eleição. Devido ao tumulto, o senado adiou um pronunciamento que faria hoje na tribuna da Casa para esta quarta-feira.

– Agora sendo recebido desta forma no Congresso Nacional, o Brasil despertou, o Brasil hoje é um Brasil diferente do Brasil antes da eleição. Emergiu um Brasil que quer ser protagonista da construção do seu próprio futuro. As pessoas não deixaram de estar mobilizadas a partir do resultado da eleição. O que eu percebo é o contrário. Pessoas continuam emocionadas, continuando querendo construir um futuro melhor para suas famílias e para seus filhos. Essa é uma mobilização inédita na nossa história contemporânea.

Aécio também minimizou a presença da oposição no Congresso, bastante inferior numericamente em relação à base governista.

– O que eu tenho visto aqui hoje no Congresso e o que tenho visto nesses últimos dias por onde eu tenho andado é um sentimento de que, quando o governo olhar para a oposição, eu sugiro que não contabilize mais o número de cadeiras e assentos no Senado e na Câmara. Olhe bem e vai encontrar mais de 50 milhões de brasileiros que vão estar vigilantes e cobrando atitudes deste governo, cobrando investigações em relação às denúncias de corrupção, cobrando a melhoria dos nossos indicadores econômicos, nossos indicadores sociais – disse.

– Nós somos hoje um grande exército a favor do Brasil e prontos para fazer a oposição que a opinião pública determinou que se fizesse. Eu chego hoje ao Congresso Nacional para exercer o papel que me foi delegado por grande maioria da população brasileira, por 51 milhões de brasileiros. Vou ser oposição sem adjetivos – completou Aécio.

A respeito da fala da presidente Dilma Rousseff no dia de sua reeleição, de que queria diálogo com as demais forças políticas, Aécio afirmou que o governo deve apresentar propostas de interesse público e cobrou transparência e combate à corrupção.

– Se quiserem dialogar, apresentem propostas que interessem aos brasileiros. No mais, vamos cobrar eficiência na gestão pública, transparência nos gastos públicos, vamos cobrar que as denúncias de corrupção sejam apuradas e investigadas em profundidade. Portanto, hoje o Brasil se encontra com o seu futuro a partir das manifestações que estamos vendo ocorrerem em várias partes do país. A nossa posição será sempre em defesa intransigente da democracia, das liberdades, contra qualquer tentativa de cerceamento da liberdade de imprensa e de quaisquer outras liberdades, sejam coletivas ou individuais – afirmou o senador.

Aécio rejeitou manifestações que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff:

– Eu respeito a democracia permanentemente e qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político – pontuou.

Senador nega defender impeachment de Dilma
Carregado pelos corredores do Senado por uma multidão, o senador Aécio Neves disse nunca ter visto no Parlamento um candidato derrotado a presidente ser recebido com tanta festa em seu retorno a Casa. Disse que essa campanha teve um lado “macabro”, que foi o medo, o terrorismo e o uso além do respeitável da máquina pública por seus adversários, mas também teve um lado “lindo”, que foi o despertar de velhos, crianças e jovens que foram para as ruas vestindo verde e amarelo.

Sempre repetindo que chega mandato com o aval de 51 milhões de brasileiros para fazer uma oposição dura, mandou um recado para o outro lado da Esplanada: a presidente Dilma Rousseff deve tomar muito cuidado, senão seu governo chega no dia 1º de janeiro com cheiro de fim de festa.

— Eu não me lembro de ter visto na história política brasileira um candidato derrotado chegar e ser recebido no Congresso com essa emoção nos olhos das pessoas. Eu sugiro que a presidente Dilma a partir de agora, quando olhar para o Congresso, não contabilize apenas as cadeiras que ocupamos aqui. Que passe a enxergar aqui os 51 milhões de brasileiros que não aguentam mais tanta maracutaia e descaso com a máquina pública. Estamos renovados e faremos uma oposição sem adjetivos, cobrando tudo que o governo prometeu e não entregou - disse Aécio.

Ele acusou a existência de pessoas infiltradas nas manifestações legítimas da sociedade para defender intervenção militar. Aécio também diz que não defende impeachment da presidente Dilma.

— Essas manifestações tem o nosso repúdio mais radical e veemente. Está havendo uma apropriação indevida de um sentimento livre da sociedade. Vou estar aqui na trincheira para defender sempre a democracia e coibir qualquer medida do governo que implique em censura a liberdade de Imprensa - disse Aécio.

O candidato derrotado do PSDB disse que nem ele nem os aliados defendem o impeachment da presidente Dilma e que foi um dos primeiros a ligar para cumprimentá-la pela vitória.

— O departamento jurídico do PSDB entendeu que era legitimo entrar com o pedido de auditoria nas urnas e nos boletins de apuração, pela forma como foi feita a totalização dos resultados. Não queremos mudar o resultado da eleição. Mas é legítimo ter acesso a totalização e boletins de urnas. É um direito de todos. Até porque se fosse o PT o derrotado, também ia pedir. É uma contribuição que estamos dando á transparência do processo no TSE — disse Aécio.

Com o tumulto, ele optou por fazer o seu primeiro pronunciamento só amanhã.

No aeroporto de Brasília, Aécio diz que se sente vitorioso
Na primeira aparição pública depois de dez dias de reclusão e descanso, o senador Aécio Neves (PSDB), candidato à presidência derrotado no segundo turno, pegou um voo de carreira e chegou no começo da tarde desta terça-feira a Brasília. No aeroporto, foi recebido por políticos e lideranças de vários partidos aliados.

Aécio disse, no aeroporto, que chegou para assumir o seu papel de líder da oposição que o Brasil lhe conferiu.

— Estou chegando para assumir o meu papel de líder da oposição. Vamos cobrar tudo que o governo prometeu e não está fazendo — disse Aécio, que desembarcou sem nenhum assessor por perto, e tirou muitas fotos com eleitores durante o voo de Rio a Brasília. No Rio, o senador foi muito assediado no aeroporto, assim como na capital federal.

Ao ser questionado se ele se sente derrotado pelo resultado do segundo turno, o tucano disse que o sentimento é positivo, e que “os brasileiros acordaram”.

— Eu não me sinto um derrotado. Eu sou um vitorioso porque o que defendemos está vivo no coração dos brasileiros, que é a esperança. Os brasileiros acordaram.

O deputado Paulo Feijó (PR-RJ) veio no mesmo voo que o tucano.

— O Aécio virou um popstar. Vai ter que ter uma paciência... não vai ter um minuto de sossego.

Um rapaz disse:

— Eu votei no senhor.

— Pois é, rapaz. Quase deu, né? — respondeu o senador, que perdeu o segundo turno por cerca de três pontos percentuais, o melhor resultado da oposição em 12 anos.

Uma senhora o abraçou e falou:

— Deixa eu pegar na sua mão, e da próxima vez eu vou pegar na mão do senhor como presidente.

Aécio deve fazer um pronunciamento no Senado.

— Vim cumprir o meu papel. Agora é pé na estrada.

Aécio volta ao Congresso e diz que ‘perdeu vencendo’

• Tucano falou ao chegar no Senado que só vai dialogar se governo apresentar medidas 'que interessem aos brasileiros' e disse ter sido o candidato da democracia e do respeito

Débora Bergamasco, Isadora Peron, Ricardo Brito e Nivaldo Souza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na tentativa de se posicionar como líder da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou nesta terça-feira, 4, ao chegar no Congresso Nacional, que vai "ser a oposição sem adjetivos". "Eu chego hoje ao Congresso Nacional para exercer o papel que me foi delegado por grande maioria da população brasileira, por 51 milhões de brasileiros. Se quiserem dialogar, apresentem propostas que interessem aos brasileiros. No mais, vamos cobrar explicações e eficiência".

Na rápida entrevista que deu no corredor de acesso ao plenário da Casa, Aécio Neves criticou a forma como o governo Dilma atuou durante a campanha eleitoral. Segundo ele, os ataques do PT inviabilizam um diálogo produtivo entre a base aliada e a oposição.

"Esse governo, pela forma como agiu na campanha eleitoral, de uma forma absolutamente desrespeitosa e absolutamente temerária em relação aos beneficiários de programas sociais, que estiveram permanentemente ameaçados de perder os benefícios se nós vencêssemos as eleições, não os legitimam para uma proposta de diálogo sem que o conteúdo das propostas seja conhecido", disseo senador.

Por diversas vezes, o tucano aproveitou para cutucar a petista: "A presidente Dilma deve tomar muito cuidado, senão seu governo chega no dia primeiro de janeiro com cheiro de fim de festa".

Democracia. Presidente nacional do PSDB, o senador mencionou as manifestações pós-eleições de eleitores frustrados com o resultado das eleições e sobre pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff e intervenção militar. "Eu respeito a democracia permanentemente e qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político."

Derrotado na eleição presidencial de outubro, o tucano voltou ao Senado na tarde desta terça-feira, 4, acompanhado por cerca de 600 militantes. Logo na entrada, Aécio afirmou que a derrota para a presidente Dilma Rousseff fortalece na oposição e se declarou "revigorado" com o retorno após uma semana de folga: "O governo da presidente Dilma venceu as eleições perdendo e eu a Marina Silva (PSB) perdemos vencendo".

Economia. Aécio sinalizou que uma das bandeiras que pretende carregar na volta ao Senado passa pela "transparência na economia", o combate à corrupção e a cobrança de melhoria dos indicadores sociais. "Seremos intérpretes da pauta da sociedade brasileira. O Brasil discutiu uma agenda, que passa pela transparência na economia, a melhoria dos nossos indicadores sociais, por uma investigação profunda e dura de todas as denúncias que aí estão a pulular todos os dias. Essa é a agenda da sociedade brasileira, nós vamos estar prontos para defendê-la", destacou.

Ao final da entrevista, o tucano disse que não faria um pronunciamento na tribuna do Senado nesta terça. Ele subiu para seu gabinete, que fica no Anexo I da Casa.

Aécio retorna ao Senado e diz que vai liderar 'exército' da oposição

Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Cercado por militantes e aliados políticos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) retornou nesta terça-feira (4) à cena política depois da derrota nas eleições para a Presidência da República.

Com a promessa de ser o principal líder da oposição no Congresso, o tucano disse que não pretende dialogar com o governo federal se não houver mudanças na postura da presidente Dilma Rousseff e do PT.

"Eu chego hoje ao Congresso Nacional para exercer o papel que me foi delegado pela grande maioria da população brasileira, por 51 milhões de brasileiros. Vou ser oposição sem adjetivos. Se quiserem dialogar, apresentem propostas que interessem aos brasileiros", disse.

"Somos hoje um grande exército a favor do Brasil e prontos para fazer a oposição que a opinião pública determinou que fizéssemos", completou.

Aécio Neves no Senado
Ao chegar à entrada principal do Congresso, onde vai retomar nesta terça suas atividades como senador, Aécio foi saudado por cerca de 200 pessoas que aguardavam sua chegada –a maioria delas, militantes e servidores do Legislativo que apoiaram a candidatura do tucano. Depois das eleições, Aécio descansou por uma semana ao lado da família no interior de Minas.

Com gritos de "Aécio presidente" e "Fora PT", o tucano arrastou os simpatizantes até a entrada do plenário, sempre cercado por deputados e senadores do PSDB e partidos de oposição. No seu desembarque no aeroporto de Brasília, o senador também foi cercado por militantes e aliados políticos que criticaram o governo federal e o PT.

Na rampa que dá acesso ao Congresso, Aécio desceu do carro e foi cercado pelos militantes –que soltaram fogos de artifício no gramado em frente à sede do Legislativo no momento da chegada do tucano.

Ao ironizar a presidente Dilma, o senador disse que o governo tem que "tomar cuidado para não chegar em janeiro com certo cheiro de fim de festa", quando Dilma será empossada para mais um mandato na Presidência.

Aécio disse que cabe ao governo federal dar "gestos objetivos e claros" sobre as suas futuras direções para dialogar com a oposição. "Se for na direção que caminhou nos últimos quatro anos, essa oposição que já é de 51 milhões de brasileiros que foram às urnas tende a crescer nos últimos anos", afirmou.

Emocionado, o tucano disse que não esperava uma recepção "tão forte", o que comprova que o Brasil "despertou" e não deseja mais acompanhar à distância os atos do governo federal.

"É uma mobilização inédita na nossa história contemporânea. É o sentimento de que quando o governo olhar para a oposição, eu sugiro que não contabilize mais o número de assentos no senado ou na Câmara, olhe bem que vai encontrar mais de 50 milhões de brasileiros que vão estar vigilantes, cobrando atitudes desse governo, cobrando investigação em relação às denúncias de corrupção."

Aécio disse que está "revigorado" após conquistar o apoio de 48% dos brasileiros nas urnas e pronto para fazer oposição "com a mesma coragem e com a mesma honradez que me preparei para governar o Brasil".

Auditoria
Sobre a auditoria nas urnas da Justiça Eleitoral solicitada pelo próprio PSDB, Aécio afirmou ser "absolutamente natural" que um partido peça para ter acesso ao resultado da votação. Mas negou que a intenção do PSDB seja questionar a reeleição de Dilma.

"O que houve foi uma auditoria para acesso ao sistema do TSE, absolutamente natural. Tem que respeitar as partes envolvidas querendo informações sobre os resultados dos votos. Até no sentido de tranquilizar a sociedade. O resultado está aí. Fui o primeiro a ligar para a presidente e dar os parabéns", afirmou.

O tucano disse que o acesso à totalização e à remessa dos votos é um "direito" de todas as partes envolvidas no processo eleitoral. "Não tenho dúvida em relação à lisura. Se fosse o inverso, a outra parte teria utilizado também."

Intervenção militar
Questionado sobre as manifestações em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff e o resultado das urnas, Aécio disse que os atos políticos não têm o seu apoio e são condenados pelo PSDB –especialmente os que defendem intervenção militar no país. Segundo o tucano, há pessoas "infiltradas" nos atos políticos para tentar associá-los à oposição.

"Eu respeito a democracia permanentemente. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão em outro campo político, não estão em nosso campo político."

No último sábado (1°), cerca de 2.500 pessoas protestaram em São Paulo contra o resultado das urnas e o governo petista. Alguns militantes carregaram faixas em defesa de intervenção militar no país e o impeachment da petista.

"Infelizmente, o governo da presidente Dilma venceu essas eleições perdendo. E lembro Marina Silva: perdi essas eleições vencendo", disse Aécio.

Protesto pede impeachment de Dilma

Mais protestos
Nesta terça, o PT convocou em sua página no Facebook seus seguidores nas redes sociais para "rebater" manifestantes que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Em publicação intitulada "Militância, às armas", o partido afirma que os adversários dos petistas são "representantes do atraso" e "verdadeiros fantasmas do passado". "A vitória de Dilma Rousseff revelou o desespero de setores que insistem em ignorar a vontade da população demonstrada nas urnas", diz a mensagem.

Novos eventos de pedido de impeachment da presidente Dilma foram marcados nas redes sociais para o feriado de Proclamação da República, no dia 15, em São Paulo, no Rio e em Brasília. O evento está sendo convocado por dois grupos.

Um deles é puxado pelo deputado federal eleito Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) e por Paulo Batista, que foi candidato a deputado estadual pelo PRP. O outro é organizado pelo empresário Marcello Reis. Ambos dizem não ser responsáveis pelos pedidos de intervenção militar na última manifestação. "Lógico que tem um grupo que quer intervenção militar, mas não somos um deles", afirmou.

Blocão decide ‘manter governo sob pressão’ e articular candidatura de Eduardo Cunha

• Em almoço com peemedebista, líderes de partidos demonstraram que vão deflagrar consultas em suas bancadas

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA — Com a decisão de manter o governo "sob pressão", os cinco partidos que atuam em conjunto na Câmara articulam a formalização do chamado blocão e o lançamento da candidatura do líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), à Presidência da Casa. Durante almoço na residência de Eduardo Cunha, os líderes do PR, PTB, PSC e Solidariedade, além do próprio PMDB, manifestaram "simpatia" pela candidatura de Eduardo Cunha e vão deflagrar as consultas em suas bancadas. Outra decisão é ter uma atuação que deixe o Palácio do Planalto, segundo participantes, sob "pressão" constante.

A estratégia é em duas frentes: formalizar o blocão na atuação parlamentar, com 152 votos, e uma aliança em torno da candidatura de Eduardo Cunha, podendo ter o apoio de outros partidos para isso.

A intenção é isolar o PT, apesar do discurso. Na saída do encontro, Eduardo Cunha disse que os parlamentares não querem o mesmo partido no Palácio do Planalto e no comando da Câmara e do Senado.

— Não existe a vontade de ter uma hegemonia do mesmo partido, o PT, no Poder Executivo e no Poder Legislativo. Ninguém é contra ninguém. Mas aliado não significa que vamos concordar com tudo. Jamais seremos (totalmente convergentes) — disse Eduardo Cunha, na saída do almoço.

Eduardo Cunha disse que está construindo sua candidatura dentro da Casa.

— Apresentei meu nome dentro da bancada e agora ao bloco. Discutimos formar esse bloco (para 2015) e a minha candidatura. Um bloco para a eleição é uma coisa e para a atividade parlamentar é outra. Embora provavelmente tenha total simpatia dos líderes destes partidos, eles têm que consultar suas bancadas. Isso é um processo em discussão — disse Eduardo Cunha, ressaltando a importância de negociar junto aos colegas:

— Não é um gado que você carrega, são parlamentares.

O líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), disse que o nome de Eduardo Cunha tem sua "simpatia".

— Há muito entusiasmo pela candidatura de Eduardo Cunha. E fizemos uma reafirmação do bloco — disse Jovair.

O presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), foi mais enfático e disse que o acordo está fechado.

— Vamos ter 160 votos. Acho que o PT nem deveria ter candidato. Se tiver, vai ser derrotado — disse Paulinho.

O blocão quer manter uma postura de pressão junto ao governo. Os parlamentares discutiram, no encontro, propostas que podem ser colocadas em votação e que podem incomodar o governo. Uma delas é a chamada "PEC da Bengala", que aumenta de 70 para 75 anos o teto para a aposentadoria de magistrados. Segundo participantes do encontro, a ideia é manter o Planalto sob pressão constante.

Na verdade, esse bloco já vem atuando em conjunto ao longo de 2014, na maioria das votações. O PP fazia parte, mas o Planalto promoveu uma ofensiva antes das eleições para tentar enfraquecer o blocão.

Além disso, agora, com as denúncias da Petrobras, a intenção do grupo de Eduardo Cunha é manter o PP como apoio extraoficial.

PPS aprova tratativas para formação de bloco parlamentar com PSB, PV e Solidariedade

• Se concretizado, o bloco contará com 67 parlamentares, se tornando a segunda força da Câmara. Iniciativa dá continuidade a aproximação construída na eleição presidencial

- Assessoria PPS

A Executiva Nacional do PPS aprovou nesta terça-feira, durante reunião em Brasília, uma indicação para que a bancada federal do partido avance nas tratativas para a formação de um bloco parlamentar na Câmara dos Deputados com o PSB, PV e Solidariedade. O gesto representa a continuidade de um realinhamento político que começou a ser construído nas eleições presidenciais deste ano, quando PPS e PSB estiveram unidos no primeiro turno em torno de Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (PSB-REDE). Já no segundo turno, as quatro legendas rumaram com Aécio Neves (PSDB). Se o bloco se concretizar, ele contará com 67 parlamentares. No atual cenário, sem a formação de outros blocos, seria a segunda força da Casa, atrás apenas do PT, que conta com 70 deputados.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), destacou que essa aproximação é natural num cenário em que a oposição saiu forte das urnas e numa disputa que teve Eduardo e Marina como essenciais para garantir o segundo turno das eleições. “Exercemos papel de fundamental importância. Nossa opção por Eduardo Campos e por Marina, após o trágico acidente que matou o ex-governador de Pernambuco, foi fundamental para garantir o segundo turno”, destacou Freire, que desde o segundo turno vem conversando com lideranças do PSB e Solidariedade.

O secretário-geral do PPS, deputado estadual Davi Zaia (SP), também disse esperar que o partido trabalhe no sentido de fortalecer a frente de oposição que ganhou força com as eleições gerais de outubro passado. “Vamos formar uma frente para consolidar o bloco de oposição e organizar o PPS nas unidades da federação. Temos que nos preparar para 2016 (eleições municipais)”, defendeu Zaia.

Marina
O vice-líder do PPS na Câmara, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), também chamou a atenção para que o partido mantenha o diálogo com Marina Silva e trabalhe para a formação de um polo para ocupar o “vácuo deixado pelas urnas”. O deputado citou o alto índice de abstenção, segundo ele, provocado pelo descontentamento deste público com a política. Defende ainda que o partido tente buscar a atenção da juventude brasileira. Principal público alvo de Marina Silva, então candidata do PV à Presidência da República em 2010, e do PSB em 2014, o jovem, na opinião do parlamentar do PPS, caiu no “canto da sereia” da presidente Dilma Rousseff, ao término do segundo turno. Marina terminou em terceiro na disputa eleitoral.

“A campanha do PT conseguiu firmar o discurso de que é defensor dos mais humildes e o jovem excluído acabou migrando para Dilma”, analisou Jordy. Para Jordy, o apelo para mudar o Brasil alcançou quase 60% dos votos no primeiro turno e a vitória de Dilma, no segundo turno, foi apertada. Segundo o deputado do PPS, o principal fluxo migratório de eleitores, de uma etapa para outra do processo eleitoral, constitui-se de jovens.

Também vice-líder do partido, o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) disse ser radicalmente a favor da aproximação com o PSB. “Creio que devemos fazer o bloco e declarar nossa intenção de buscar essa aproximação”, afirmou, chamando a atenção para um fato importante que vai voltar a ganhar peso no seio da sociedade.

“Os ventos da mudança continuam por aí. E vão voltar (com o agravamento da crise econômica). Vivemos um momento de afirmação da oposição e no caminho da esquerda”, analisou o parlamentar.

Outro dirigente que destacou a necessidade de uma mudança do quadro político e partidário foi o prefeito de Vitória Luciano Rezende. Na avaliação dele, a realidade impõe a reaproximação de partidos. “Vamos pensar no bloco com o PSB, mas também devemos analisar outras possibilidades até mesmo dentro da reforma política”, destacou.

Já a deputada federal eleita Carmen Zanotto (PPS-SC) disse que não há a menor dúvida de que a oposição cresceu no pleito de 2014. “Mas precisamos que trabalhar para manter e ampliar essa força. Temos que estar atentos para as mobilizações do governo, que já trabalha para dividir (os partidos que desejam formar blocos) e para criar um novo partido com o objetivo de cooptar parlamentares”, alertou.

Dirigente de Minas Gerais, Juarez Amorim frisou o papel fundamental do PPS na criação de um terceiro polo nas eleições de 2014. “Temos de continuar nossa busca pela terceira via no Brasil. Acredito que o PPS tem mais chance de identidade com PSB, PV, REDE e Solidariedade”.

Já o dirigente Sérgio Campos de Morais, do Rio Grande do Sul, afirmou que a eleição passada mostrou que a sociedade brasileira busca por uma nova alternativa política, mesmo que tenha optado por Dilma Rousseff e Aécio Neves no segundo turno. “Temos de trabalhar na construção de um bloco de centro esquerda democrático. O caminho com o PSB é natural”, destacou.

O PT sem a pele de cordeiro - O Estado de S. Paulo / Editorial

A direção do PT considera que a reeleição da presidente Dilma Rousseff é a oportunidade para fazer uma profunda mudança na organização do Estado, na direção daquilo que o partido chama de "reformas democrático-populares".

Uma resolução da sua Comissão Executiva Nacional - que reúne a nata do comando petista - deixa claro que o partido está convencido de que já pode despir-se da pele de cordeiro que Lula precisou vestir quando se elegeu pela primeira vez, em 2002. Naquela ocasião, recorde-se, o ex-metalúrgico - que em 1989 prometia estatizar tudo e tratar com desprezo os credores internacionais, aos quais chamava de "agiotas" - mudou o discurso e passou a prometer o "respeito aos contratos e obrigações".

Passado o susto da apertadíssima eleição, em que Dilma venceu basicamente porque sua equipe de marketing levou o "vale-tudo" eleitoral a dimensões inéditas, o PT quer tomar a dianteira e pautar o novo mandato da presidente - desta vez na direção de seu antigo projeto de 1989. No radical programa de governo para a campanha eleitoral daquele ano, o texto assinado por Lula dizia: "Se me pedissem para resumir numa frase o sentido do nosso programa, eu diria: reorganizar a sociedade brasileira, conferindo o papel de direção àqueles que vivem no mundo do trabalho e da cultura".

As semelhanças daquele programa de Lula com o adotado pelo atual comando do PT na resolução divulgada nesta semana são claras. Entre as prioridades escolhidas pelo partido para o novo mandato de Dilma, os petistas dizem que "é urgente construir hegemonia na sociedade" e "promover reformas estruturais, com destaque para a reforma política e a democratização da mídia".

A "hegemonia" perseguida pelo PT é o poder de determinar o que é a verdade, o que é certo e o que é errado. Para isso, é necessário "promover reformas estruturais", especialmente a reforma política - que, no modelo petista, significa submeter o Estado a organizações "populares" que respondem ao partido -, e "democratizar a mídia", que é o outro nome para a censura e a tentativa de propagar o pensamento único.

Assim, para o atual comando petista, nostálgico dos anos de sua fundação, a tarefa de "transformar o Brasil" demanda agora uma combinação de ação institucional, de mobilização social e de "revolução cultural". Para isso, o partido quer ampliar a importância de áreas como comunicação, educação, cultura e esporte, "pois as grandes mudanças políticas, econômicas e sociais precisam criar raízes no tecido mais profundo da sociedade brasileira". Eis aí a fórmula da hegemonia proposta pelo PT.

Com esses objetivos em mente, a liderança petista pretende, segundo suas palavras, "incidir na disputa principal em curso neste início do segundo mandato", isto é, "as definições sobre os rumos da política econômica". A pressão pública sobre Dilma - que, recorde-se, só se tornou petista em 2001 e enfrenta desconfiança dentro do partido desde sempre - é uma tentativa de forçá-la a abandonar os compromissos políticos do primeiro mandato, oferecendo-lhe em troca o apoio de sua militância nas ruas.

Nesse sentido, o aceno à oposição feito por Dilma logo após sua vitória foi desdenhado explicitamente na resolução petista. Os mais de 50 milhões de eleitores que votaram em Aécio Neves (PSDB) foram tratados como simpatizantes do "retrocesso neoliberal" e das "piores práticas políticas", a saber: "O machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar".

Aqueles que ousam se opor ao governo são, segundo os petistas, "apoiados pela direita, pelo oligopólio da mídia, pelo grande capital e seus aliados internacionais" e, portanto, não fazem parte do "povo brasileiro". Este, por sua vez, é somente aquele que vota no PT. Por essa razão, o partido diz que "precisa honrar a confiança que, mais uma vez, o povo brasileiro depositou em nós" e anuncia: "Não o decepcionaremos: com a estrela vermelha no peito e um coração valente, avançaremos em direção a um Brasil democrático-popular".

Este é o verdadeiro rosto do PT, que nem mesmo a imensa dificuldade para a reeleição de Dilma conseguiu alterar.

PT convoca militantes virtuais 'às armas' contra adversários

• Partido diz que "representantes do atraso" tentam manter acirramento

Renato Onofre – O Globo

SÃO PAULO - O PT convocou ontem a militância virtual "às armas" para combater as crescentes manifestações nas redes sociais pedindo o impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e a intervenção militar. No último fim de semana, três mil pessoas foram às ruas de São Paulo pedindo desde a deposição da presidente a um golpe militar para tirar o PT do poder. O partido pede que os militantes visitem as páginas oficiais do partido e "armem-se" com argumentos para rebater os ataques nas redes e nas ruas.

A mensagem postada ontem de manhã na página oficial do partido no Facebook com o título "Militância, às armas" afirma que a vitória da presidente Dilma "revelou o desespero de setores que insistem em ignorar a vontade da população". E que os "representantes do atraso estariam tentando manter o acirramento para desestabilizar o segundo mandato da presidente", reeleita no último dia 26 de outubro com 51,64% dos votos.

"Representantes do atraso, verdadeiros fantasmas do passado, eles tentam criar um terceiro turno da disputa eleitoral ao suscitarem sandices como intervenção militar e até o impeachment da presidenta. Esqueceram que o povo não é bobo! Mantenha-se informado em nossos canais e arme-se com argumentos para rebater a ignorância nas redes e nas ruas".

- Nós não vamos reagir às provocações. Nós somos defensores de qualquer tipo de manifestação. Agora, resultado se respeita. Todas as vezes em que perdemos, respeitamos o resultado. Fernando Henrique ganhou de Lula duas vezes no primeiro turno, e em nenhum momento nós apresentamos questionamento ao resultado. O Lula perdeu para o Collor por pouco, e nós não questionamos. Não queremos medir força com ninguém, mas vamos defender nosso projeto - afirmou Alberto Cantalice, vice-presidente nacional do PT.

Na segunda-feira, a reunião da Executiva Nacional do PT, realizada em Brasília, definiu estratégias para a legenda após as eleições. Em um documento classificado como "Resolução política", o PT definiu como uma das prioridades a convocação da militância nas redes para defender o partido.

"Inconformada com a derrota, a oposição cai no ridículo ao questionar o resultado eleitoral no TSE. Ainda ressentida, insiste na divisão do país e investe contra a normalidade institucional", afirmou o documento, elencando como fazer:

"Priorizar ações de comunicação, fortalecendo nossa agência de notícias, articulando-a com mídias digitais, com ação permanente nas redes sociais. Integrar nossas ações de comunicação com o rico movimento cultural em curso no país amplamente divulgado no site do partido, até a próxima reunião do Diretório Nacional".

Nos últimos dez dias, mais 185 mil menções pedindo a retirada da presidente do cargo foram registradas nas redes sociais. Na segunda-feira após as eleições, 35.983 mensagens nas redes sociais tratavam da assinatura de uma petição online a favor de um impeachment. Ontem, foram mais de mil menções.

Aécio repudia radicais e diz que cobrará ações de Dilma

Vandson Lima e Raquel Ulhôa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Sob a promessa de capitanear uma oposição que cobrará "violentamente" da presidente Dilma Rousseff os compromissos assumidos durante a campanha pelos próximos quatro anos, Aécio Neves (PSDB-MG) retornou ontem ao Senado.

O candidato derrotado no segundo turno da disputa presidencial foi recebido por uma caravana de simpatizantes que se acotovelaram para acompanhá-lo em sua entrada no Congresso Nacional. Aécio repudiou manifestações que pedem a volta do regime militar e procurou minimizar o pedido do PSDB de auditoria dos votos, colocando-o na conta do jurídico da campanha.

Hoje, em ato com as lideranças de oposição que sustentaram sua candidatura, Aécio fará no Parlamento seu primeiro grande pronunciamento pós-eleição, que está sendo muito aguardado. Mas o evento pode ter ausências consideráveis. Os cinco governadores eleitos ou reeleitos do PSDB podem não comparecer. O governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, está conversando com os colegas e defendendo uma reunião apenas de governadores com Aécio.

Também reeleito, o governador de Goiás, Marconi Perillo, disse que tende a concordar com a proposta de Alckmin. "O poder Legislativo tem a função de fazer oposição, fiscalizar e fazer uma oposição construtiva, uma crítica que ajude o Brasil. Essa foi a postura do PSDB ao longo do tempo. A eleição colocou o partido na oposição. Agora, nós governadores temos um outro papel", avaliou. "A relação é institucional e tem que ser do mais alto nível, senão o prejudicado é o povo". Segundo Perillo, ele não teve problemas de relacionamento administrativo com a presidente Dilma Rousseff nos quatro anos do primeiro mandato.

Em entrevista aos jornalistas, no café ao lado do plenário do Senado, Aécio disse se sentir "vitorioso" pelo resultado alcançado na campanha. "Se não pude ser vitorioso nos votos, fiz uma campanha honrada, digna das expectativas dos brasileiros. Não sei se do outro lado o governo pode dizer o mesmo. Foi infelizmente a mais perversa das campanhas políticas já praticadas no nosso período de redemocratização. Não me lembro de campanha tão sórdida e mesquinha", afirmou.

"Fizeram ataques pessoais, terrorismo com beneficiários de programas sociais, distribuíram mensagens dizendo a esses beneficiários que se votassem no PSDB teriam sua inscrição anulada". Sobre sua atuação nos próximos quatro anos no Senado, Aécio afirmou: "Vou atuar falando a verdade e cobrando violentamente o governo de seus compromissos assumidos na campanha".

O senador rechaçou qualquer vínculo do PSDB com manifestantes que foram às ruas nos últimos dias pedindo impeachment da presidente Dilma e a volta do regime militar. "Meu repúdio mais violento e radical a manifestações de volta dos militares. Isso é uma apropriação indevida de um sentimento de liberdade da sociedade. Não há nenhum fato específico que leve a [pedir] impeachment. Essas manifestações que se misturam pedindo a volta do regime autoritário tem nosso repúdio mais veemente", garantiu, reiterando que será "oposição permanente e dura", ao governo. "Não sou golpista", pontuou.

O pedido de auditoria dos votos no segundo turno da eleição presidencial, feito pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) foi considerado "natural" por Aécio, que procurou minimizar a questão. "Não foi pedido de recontagem. O que houve foi pedido de auditoria para ter acesso ao sistema. É absolutamente natural e tem de ser respeitado como instrumento das partes envolvidas na campanha eleitoral querer informações sobre a totalização dos votos", alegou.

Segundo Aécio, a decisão pelo pedido não foi sua. "Foi uma decisão do departamento jurídico. Quando consultado, disse que fizessem se achassem necessário, até no sentido de tranquilizar a sociedade brasileira".

Aécio afirmou que não cabe contestar o resultado. "O resultado está aí e não estamos querendo mudá-lo. Fui o primeiro a ligar para a presidente Dilma para cumprimentá-la. Agora, ter acesso ao processo de totalização, de remessa dos dados é direito de todas as partes envolvidas, em benefício do próprio TSE, que obviamente não quer que paire qualquer dúvida". E voltou a defender o pedido. "Não tenho dúvidas em relação à lisura e correção dos ministros do TSE. Mas é instrumento legítimo [o pedido de auditoria]. A ação no TSE foi legítima, em busca da tranquilidade em relação a pessoas que ainda estão perplexas com o resultado", justificou.

Aécio garantiu que o PSDB volta da disputa eleitoral "renovado na capacidade de fazer oposição". Vislumbrou a divisão verificada nas urnas no embate com o executivo, ao dizer: "Quando o governo olhar para nós da oposição, sugiro que deixe de contar as cadeiras que ocupamos e passe a enxergar os mais de 51 milhões de eleitores que querem mudança". E deu a deixa de que não vai esperar virar o ano para buscar desconstruir a gestão. "Esse governo tem que tomar cuidado para não começar janeiro já com clima de fim de festa", afirmou.

PSB tem posições diferentes no Senado e na Câmara

• Senadores pregam independência, e deputados, oposição mais clara ao governo

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - As bancadas do PSB na Câmara e no Senado estão firmando posições divergentes a respeito da relação que terão com o Palácio do Planalto durante o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). Depois de apoiarem a candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno das eleições, a maioria dos senadores passou a defender que o partido exerça uma "oposição propositiva independente". Os deputados estão optando, por sua vez, por adotar, de forma definitiva, uma oposição mais clara, mas que não necessariamente signifique uma aliança com o PSDB.

A reunião dos integrantes do PSB ocorreu separadamente ontem, na sede do partido em Brasília. Pela manhã, os senadores se encontraram e definiram a postura de independência. À tarde, foi a vez dos deputados que, por 15 votos a 8, preferiram partir para a oposição. A decisão formal só deverá ser anunciada, no entanto, na Executiva, que está prevista para acontecer em duas semanas.

Senadores defendem que o PSB pratique uma oposição "responsável", votando com o governo quando se tratar de temas de interesse nacional, analisando caso a caso. Nos bastidores, governadores do PSB pretendem aparar arestas com Dilma para evitar que uma má relação com o governo federal comprometa as administrações estaduais.

- Nossa posição é de independência - disse o senador Rodrigo Rollemberg, governador eleito do Distrito Federal. - Não vamos apoiar o governo, mas também não vamos estar aliados ao PSDB. Nossa posição é de independência. Mas, a posição oficial só vai sair depois da reunião da Executiva.

De tarde, o tom foi de embate em relação ao governo do PT. O líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), disse que o partido adotará uma postura de "oposição de terceira via" a partir de 2015. Candidato a vice na chapa de Marina Silva, ele disse que o partido retomará o comportamento que teve antes das eleições, ou seja, de oposição na Câmara.

- A oposição que temos retomará à condição de oposição da terceira via, ou seja, não vamos aderir à oposição tradicional - disse, defendendo que o momento é de retomar o comportamento original da legenda.

Delgado contra Cunha
Beto Albuquerque afirmou ainda que o PSB vai trabalhar para lançar o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) para presidente da Câmara e ainda tentar negociar a formação de um bloco parlamentar na Casa ao lado do PPS e do PV. Sobre uma fusão com o PPS, ele disse que o assunto está "sobrestado" (suspenso).

O lançamento de Delgado para a presidência da Câmara seria uma forma de enfrentar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e, possivelmente, um nome do PT. Delgado, que se lançou na disputa anterior, não alcançou votos suficientes para ocupar o cargo. Mas, segundo os socialistas, é um nome forte. Não há empecilhos para que o partido tenha candidato próprio na disputa, já que a sigla não pretende se aliar nem ao governo nem à oposição mais tradicional.

Sem confirmar se será mesmo candidato, Delgado defendeu uma postura de oposição e disse que conversará com os demais partidos da oposição.

- A decisão vai ser do partido, mas não vejo impedimento se o Senado tiver uma posição, e a Câmara, outra. E não necessariamente significa uma aliança com a oposição tradicional. Eles vão fazer a oposição deles - disse Júlio Delgado.

Grupo inicia caminhada por reforma política em SP

• Com a presença da candidata derrotada nas eleições presidenciais de outubro, Luciana Genro (PSOL), cerca de 300 pessoas caminham na Av. Paulista

José Roberto Castro - O Estado de S. Paulo

Um grupo de cerca de 300 manifestantes que participa de ato em defesa da reforma política com concentração no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) iniciou na noite desta terça-feira, debaixo de chuva, uma caminhada que interdita a pista da Avenida Paulista no sentido Consolação.

Ao som de músicas que criticam a imprensa e o Congresso, os manifestantes são seguidos pela Polícia Militar (PM), que não interfere na caminhada, e pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Eles defendem uma reforma política feita por meio de plebiscito para a convocação de uma Constituinte exclusiva e cantam paródias como "Se você pensa que o Congresso é sério, o Congresso não é sério não".

Nomes como a ex-candidata do Psol a presidente, Luciana Genro, e o cantor Fernando Anitelli, vocalista do grupo Teatro Mágico, já discursaram no alto do caminhão, que neste momento vai à frente da passeata. "A impressão que deu é que aquele povo (da manifestação de sábado, 1) estava usando o volume morto do cérebro", disse Anitelli, em crítica aos artistas e aos demais manifestantes que participaram do ato pelo impeachment da presidente reeleita, Dilma Rousseff.

Doleiro confirma pagamento de R$ 1 milhão a Gleisi Hoffman

• Youssef diz ter dado R$ 1 milhão à campanha de Gleisi em 2010, como apontou ex-diretor

Ricardo Brandt e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

O doleiro Alberto Youssef afirmou em sua delação premiada que deu R$ 1 milhão para a campanha de 2010 da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), que foi eleita senadora naquele ano. Alvo central da Operação Lava Jato, o doleiro disse que o valor foi entregue a um empresário, dono de shopping em Curitiba (PR), em quatro parcelas: três no centro de compras e outra na casa dele, em um condomínio de alto padrão da capital paranaense.

A afirmação de Youssef confirma o que disse o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, também em delação premiada, de que em 2010 recebeu pedido “para ajudar a campanha” de Gleisi, conforme revelou o Estado.Segundo ele, foi o marido da senadora, o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, quem fez a solicitação. Youssef confirmou esse pedido e disse ter viabilizado a entrega do valor.

O ex-diretor e o doleiro são réus do processo que apura superfaturamento, desvios, lavagem de dinheiro, corrupção e propina na Petrobrás. O esquema, sob comando de PT, PMDB e PP, abasteceu outros partidos, como PSDB e PSB, segundo os delatores – ambos buscam redução de pena em troca das confissões e da colaboração com fatos novos nos processos.

Gleisi e Bernardo negam o pedido e o recebimento dos valores. A ex-ministra sustenta não conhecer o doleiro nem nunca ter tido contato com ele ou com o esquema sob investigação da Justiça Federal.

Depois de eleita em 2010, Gleisi se licenciou do Senado no começo de 2011 para assumir o cargo de ministra chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff – cargo que ocupou até o começo do ano, quando saiu para disputar o governo do Paraná. A petista ficou em terceiro lugar na disputa, com 14,9% dos votos.

Naquela época, Bernardo era titular de Planejamento, Orçamento e Gestão do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua delação, Costa lembrou o fato de Bernardo, em 2010, ser ainda ministro do Planejamento. Com o início do governo Dilma, em 2011, o petista foi transferido para a pasta das Comunicações.

Agenda. O ex-diretor da Petrobrás disse que o repasse de R$ 1 milhão para a campanha da senadora “se comprova” na inscrição que ele próprio lançou em sua agenda pessoal, apreendida pela Polícia Federal no dia 20 de março, três dias depois da deflagração da Lava Jato.
Numa página do caderno de Costa consta, entre outras, a seguinte anotação: “PB 0,1”. Segundo o delator da Lava Jato, o registro significa “Paulo Bernardo, R$ 1 milhão”.
Youssef, por sua vez, afirmou que os valores foram entregues ao empresário indicado por Bernardo por um emissário seu, que não teve o nome revelado.

Os investigadores da Lava Jato acreditam que a quantia de R$ 1 milhão supostamente destinada à campanha de Gleisi em 2010 foi entregue em espécie. Eles procuram o emissário de Youssef, responsável pela entrega do dinheiro, para confirmar os pagamentos.
Costa já concluiu o processo de delação, após sucessivos depoimentos a um grupo de procuradores da República. Youssef decidiu seguir o mesmo caminho e ainda está fazendo declarações.

Cota. Em seu relato, o ex-diretor da Petrobrás disse que o dinheiro para a campanha de Gleisi saiu de uma cota equivalente a 1% sobre o valor de contratos superfaturados da Petrobrás.

Esse valor, afirmou Costa, era da “propina do PP”, partido da base aliada ao governo Dilma que foi presidido pelo deputado José Janene (PR), morto em 2010. Ele foi líder do PP na Câmara e réu do mensalão no Supremo Tribunal Federal. Youssef contou em seu depoimento à Justiça Federal que Costa, apesar de cuidar do 1% destinado ao PP na diretoria de Abastecimento, “muitas vezes tinha que atender a pedidos do PMDB e do PT”.

Com a palavra, a defesa
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) informou, via assessoria de imprensa, que “não conhece Alberto Youssef”. “Desconheço completamente os fatos”, informou Gleisi. “Todas as doações constam na prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral.” A senadora informou ainda que avalia “com seus advogados, quais providências legais assumirá em relação ao caso”.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, informou que “não pediu nem recebeu qualquer importância” e que nunca falou com o doleiro Alberto Youssef. “Reafirmo o que já lhe disse: desconheço esse assunto. Nunca falei com o senhor Youssef, por qualquer meio.”

Bernardo confirmou conhecer o dono do shopping citado pelo doleiro, mas nega qualquer irregularidade. O proprietário do shopping, localizado em Curitiba, foi procurado pela reportagem, mas até esta matéria ser concluída não havia respondido aos questionamentos.

Saída de Machado opõe PMDB ao Planalto

• Para governo, afastamento é definitivo, enquanto aliados planejam volta dele à Transpetro

Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA -A licença de Sergio Machado da presidência da Transpetro por um mês, para que seja investigada a denúncia de seu envolvimento em corrupção, pôs ontem em campos opostos o Palácio do Planalto e o PMDB. Enquanto no governo o afastamento de Machado é dado como definitivo e um assunto superado, peemedebistas trataram a situação como temporária.

Em conversas reservadas, aliados de Machado no Congresso defendiam ontem que a investigação priorize as denúncias que pesam contra ele, para que Machado possa de fato voltar a ocupar o cargo ao fim dos 31 dias de licença.

Amigo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e indicado para o cargo em 2003 com o apoio da bancada de senadores do partido, o presidente licenciado da companhia passou a terça-feira telefonando para peemedebistas em busca de apoio e de garantia de que não será abandonado em meio a denúncias feitas por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Costa afirmou à Justiça ter recebido R$ 500 mil de Machado para direcionar uma licitação para compra de navios para a Transpetro. Senadores o aconselharam a submergir durante este mês e aguardar as investigações.

Acordo é negado
No PMDB, senadores negam que tenha havido um acordo com o Planalto para que Machado saísse da presidência da empresa de forma "honrosa", por meio da licença, em vez de ter sido demitido pelo Conselho de Administração da Petrobras. Os peemedebistas afirmam que vão esperar o mês de novembro para, então, se posicionar claramente sobre o assunto.

- Essa máxima que a presidente Dilma criou de que quem foi citado na Operação Lava-Jato terá que sair do cargo só valeu para o caso de Machado e do PMDB. Ele se licenciou para se defender, não há acordo, e esperamos que ele volte. Vamos esperar estes 31 dias para ver qual será a postura do governo. Esse tempo determinará nossa posição daqui para a frente - afirmou um peemedebista da cúpula.

No governo, a avaliação é que Machado não teria condições práticas de voltar, já que a PricewaterhouseCoopers (PwC), que audita o resultado financeiro da empresa, recusou-se a validar o balanço do terceiro trimestre, alegando que Machado não poderia assinar o documento porque seu nome foi citado por Costa ao Ministério Público em delação premiada.

Justiça libera José Dirceu para cumprir pena em casa

• Ex-ministro condenado no mensalão é solto perto de completar um ano preso

• Petista poderá circular em Brasília e trabalhar na sua consultoria, mas tem que dormir em casa e não poderá ir a bares

Severino Motta – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Condenado por corrupção no julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu foi autorizado pela Justiça nesta terça-feira (4) a cumprir o restante de sua pena em casa em Brasília, a poucos dias de completar um ano na prisão.

Chefe da Casa Civil no início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2005, e então um dos principais integrantes da cúpula do PT, Dirceu foi beneficiado com a chamada progressão de regime, que ocorre quando o preso cumpre um sexto de sua pena.

Descrito pelo STF como um esquema de corrupção organizado pelo PT para comprar apoio político no Congresso, o mensalão marcou o governo Lula. Integrantes da cúpula petista, como Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares foram condenados.

No caso de Dirceu, a pena por corrupção ativa foi de 7 anos e 11 meses para ele cumprir em regime semiaberto.

Dirceu deixou pela última vez o CPP (Centro de Progressão Penitenciária) por volta das 7h30 de terça em direção ao escritório de advocacia onde trabalha. No CPP, os presos podem sair para trabalhar, mas o primeiro local em que o ex-ministro esteve preso foi na Penitenciária da Papuda.

Na saída, duas pessoas que não se identificaram usaram seus guardas chuvas para tentar protegê-lo de fotógrafos e de comediantes de programas de TV que tentaram lhe entregar maços de dinheiro. Após criticar os comediantes, Dirceu entrou num carro e seguiu para o escritório.

No início da tarde, Dirceu compareceu à audiência com o juiz da Vara de Execuções Penais que o autorizou a sair da prisão. Enquanto o petista ingressava no prédio, uma mulher que estava no local o chamou de "ladrão".

A princípio, ele só poderia deixar o regime semiaberto de prisão em março do ano que vem, mas, como trabalhou e estudou no período em que ficou preso, conseguiu abater 142 dias de sua pena, o que antecipou sua progressão para o regime aberto.

A partir de agora, Dirceu ficará sob observação da Justiça, tendo que se apresentar periodicamente ao juiz responsável pela execução de sua pena. Em tese, passaria as noites numa Casa do Albergado, mas, como não existe este tipo de estabelecimento em Brasília, poderá cumprir o resto da pena em casa.

A atual namorada de Dirceu é funcionária do Senado e mora num apartamento no bairro Sudoeste. Fora da cadeia, Dirceu poderá circular pela cidade e terá de se recolher à sua residência entre 21h e 5h. Não poderá frequentar bares, portar armas ou entorpecentes e nem se encontrar com outros condenados da Justiça, sejam eles do processo do mensalão ou não.

Com a progressão do regime, o ex-ministro também não precisará mais do emprego no escritório de advocacia de José Gerardo Grossi. Graças ao trabalho, em que ganhava R$ 2,1 mil, ele podia deixar a prisão durante o dia para dar expediente. No regime aberto, Dirceu deve ser autorizado a trabalhar na sua empresa de consultoria.

Beneficiados
Em prisão domiciliar, o ex-ministro será o sexto condenado do mensalão beneficiado. Genoino, Delúbio, o ex-tesoureiro do PL (atual PR) Jacinto Lamas e os ex-deputados Bispo Rodrigues (PR-RJ) e Pedro Henry (PP-MT) já cumprem pena em casa.

Nos próximos dias, também devem ser autorizados ao regime aberto de prisão o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-presidente do PR e ex-deputado Valdemar Costa Neto.

Além disso, chegaram ao Supremo Tribunal Federal na última semana pedidos de progressão de regime do ex-presidente do PP Pedro Corrêa e do advogado Rogério Tolentino. Todos já teriam cumprido um sexto de suas penas.

Cerco amplo ao esquema de corrupção na Petrobras – O Globo / Editorial

Com a evolução do noticiário sobre a usina de corrupção montada dentro da Petrobras pelo menos a partir de 2004, com a nomeação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento, o tamanho do escândalo não parou de aumentar.

Desde a revelação de que uma operação da Polícia Federal, a Lava-Jato, deflagrada a partir de Curitiba com a participação da Justiça Federal do Paraná, por meio do juiz Sergio Moro, e do Ministério Público estabelecera sólidas conexões entre o doleiro Alberto Youssef e o já ex-diretor Paulo Roberto, o escândalo começou ganhar contornos de um novo mensalão de petistas e aliados. Pois os milhões surrupiados da Petrobras pelo superfaturamento de contratos gerenciados por Paulo Roberto Costa - e talvez não só - também tomaram o caminho dos subterrâneos da política.

Mas o caso da Petrobras deve superar o mensalão, e não apenas em cifras. Uma diferença decisiva está no aparato mobilizado para investigar a roubalheira na estatal. O recurso legal da delação premiada parece ser usado de forma eficiente com Youssef e Paulo Roberto, e há pelo menos um executivo de empreiteira que se coloca à disposição para também ajudar em troca de atenuação de penas. A própria empresa se valerá de instrumento semelhante criado pela Lei Anticorrupção, recém-promulgada. Além disso, o fato de a estatal ser empresa com ações negociadas no exterior a torna subordinada à dura legislação americana destinada a punir falcatruas em companhias de capital aberto.

O afastamento de Sérgio Machado da presidência da Transpetro, mesmo apadrinhado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), é resultado prático da aplicação de regras de governança criadas nos Estados Unidos. É certo que, se dependesse do Conselho de Administração da estatal, controlado pelo Executivo, Machado continuaria no cargo, mesmo que Paulo Roberto Costa houvesse testemunhado ter recebido dele a propina de R$ 500 mil. E deve poder provar a denúncia, como rezam as regras da delação premiada. O desligamento, por meio de uma protocolar "licença", foi exigência da empresa de auditoria financeira da estatal, a PricewaterhouseCoopers (PwC), ao se recusar a atestar a validade do balanço do terceiro trimestre da empresa. De acordo com as normas, Sérgio Machado não poderia assinar o demonstrativo. Teve de sair, com todo o apadrinhamento.

A estatal foi, ainda, forçada pela PwC a contratar uma investigação independente de todas as denúncias. Com acerto, os investigadores querem, entre outros assuntos, saber se houve qualquer participação do ex-presidente José Sérgio Gabrielli no esquema. Afinal, parece impossível que diretores atuassem no paralelo (Paulo Roberto, Cerveró, Jorge Zelada, Jorge Duque e Sérgio Machado, pelo que se conhece até agora) sem que o presidente da estatal nada soubesse.

Pelo jeito, foi grave erro do lulopetismo saquear a Petrobras, como fez, em escala menor, com o Banco do Brasil, no mensalão.

Merval Pereira - Oposição sem trégua

- O Globo

Com um discurso firme e sem subterfúgios, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, marcou ontem sua volta à luta política, depois da derrota para a presidente Dilma na disputa pela Presidência da República, com a atitude de quem pretende assumir a liderança da oposição brasileira e não dar tréguas ao governo que, embora tendo sido eleito legitimamente, não tem crédito para contar com a boa vontade da oposição, hoje representante de quase metade dos eleitores que votou na eleição presidencial.

Fortalecido pelas urnas, Aécio pretende dedicar sua atuação no Senado a um combate permanente ao PT, assim como a oposição de diversos matizes, que não está disposta a dar espaços para o PT, no Congresso e também nas ruas.

A oposição oficial se afasta, como não poderia ser diferente, de manifestações golpistas que surgem aqui e ali nas primeiras passeatas antipetistas registradas logo depois das eleições. Esse não é o sentimento majoritário da oposição brasileira, mas caberá ao governo se afastar também de seus radicais. E afastar, sobretudo, a ameaça de se alinhar, mais do que já acontece, aos governos bolivarianos que pregam a revolução no continente.

O acordo de cooperação entre o governo venezuelano e o MST, firmado em solo brasileiro, é ato de provocação radical que só acontece devido à complacência do governo brasileiro com seus vizinhos bolivarianos. E a saudação de Nicolás Maduro à reeleição da presidente Dilma, como se fosse o sinal de um aprofundamento da revolução na América Latina mostra que, pelo menos para os venezuelanos, estamos seguindo os seus passos.

Resta para a presidente reeleita mostrar com atos que não se trata disso.

Blogs e publicações ligadas ao petismo, seja por interesses financeiros ou por proximidades ideológicas, ou excepcionalmente os dois, andaram espalhando que o que chamam de "grande imprensa" escondeu as verdadeiras razões por que a Corte de Bolonha negou a extradição do mensaleiro Henrique Pizzolato, que fugiu do país e foi preso na Itália.

Além das péssimas condições das prisões brasileiras, os juízes italianos teriam aceitado outros dois argumentos da defesa, o que evidenciaria as "anomalias do julgamento da Ação Penal 470". Os magistrados italianos teriam apontado a falta de duplo grau de jurisdição no julgamento do mensalão pelo STF, "direito universal", segundo um dos blogueiros, e a omissão de provas apresentadas pela defesa.

Pura mentira. A íntegra da sentença foi divulgada ontem, e nela está dito, com todas as letras, que a Corte considerou "infundadas"todas as alegações da defesa, inclusive a suposta omissão de provas. Com relação ao duplo grau de jurisdição, a sentença diz que esse direito pode ser alvo de exceção quando o interessado já tiver sido julgado em primeira instância por um tribunal superior, tanto é assim que o ordenamento jurídico italiano prevê um único grau de jurisdição na Corte Constitucional.

No fim, o único argumento considerado válido foram as más condições das prisões brasileiras. Toda a onda feita sobre problemas no processo do mensalão acaba de ser derrubada no primeiro teste internacional a que foi submetida.

Para aumentar o ridículo da coisa, circulam entre os petistas justificativas para a insistência do ex-presidente Lula de ter o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, no Ministério da Fazenda depois que a campanha de Dilma demonizou os banqueiros na figura da educadora Neca Setubal. É que o Bradesco seria um "banco popular", enquanto o Itaú seria "um banco de elite".