- O Globo
Com um discurso firme e sem subterfúgios, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, marcou ontem sua volta à luta política, depois da derrota para a presidente Dilma na disputa pela Presidência da República, com a atitude de quem pretende assumir a liderança da oposição brasileira e não dar tréguas ao governo que, embora tendo sido eleito legitimamente, não tem crédito para contar com a boa vontade da oposição, hoje representante de quase metade dos eleitores que votou na eleição presidencial.
Fortalecido pelas urnas, Aécio pretende dedicar sua atuação no Senado a um combate permanente ao PT, assim como a oposição de diversos matizes, que não está disposta a dar espaços para o PT, no Congresso e também nas ruas.
A oposição oficial se afasta, como não poderia ser diferente, de manifestações golpistas que surgem aqui e ali nas primeiras passeatas antipetistas registradas logo depois das eleições. Esse não é o sentimento majoritário da oposição brasileira, mas caberá ao governo se afastar também de seus radicais. E afastar, sobretudo, a ameaça de se alinhar, mais do que já acontece, aos governos bolivarianos que pregam a revolução no continente.
O acordo de cooperação entre o governo venezuelano e o MST, firmado em solo brasileiro, é ato de provocação radical que só acontece devido à complacência do governo brasileiro com seus vizinhos bolivarianos. E a saudação de Nicolás Maduro à reeleição da presidente Dilma, como se fosse o sinal de um aprofundamento da revolução na América Latina mostra que, pelo menos para os venezuelanos, estamos seguindo os seus passos.
Resta para a presidente reeleita mostrar com atos que não se trata disso.
Blogs e publicações ligadas ao petismo, seja por interesses financeiros ou por proximidades ideológicas, ou excepcionalmente os dois, andaram espalhando que o que chamam de "grande imprensa" escondeu as verdadeiras razões por que a Corte de Bolonha negou a extradição do mensaleiro Henrique Pizzolato, que fugiu do país e foi preso na Itália.
Além das péssimas condições das prisões brasileiras, os juízes italianos teriam aceitado outros dois argumentos da defesa, o que evidenciaria as "anomalias do julgamento da Ação Penal 470". Os magistrados italianos teriam apontado a falta de duplo grau de jurisdição no julgamento do mensalão pelo STF, "direito universal", segundo um dos blogueiros, e a omissão de provas apresentadas pela defesa.
Pura mentira. A íntegra da sentença foi divulgada ontem, e nela está dito, com todas as letras, que a Corte considerou "infundadas"todas as alegações da defesa, inclusive a suposta omissão de provas. Com relação ao duplo grau de jurisdição, a sentença diz que esse direito pode ser alvo de exceção quando o interessado já tiver sido julgado em primeira instância por um tribunal superior, tanto é assim que o ordenamento jurídico italiano prevê um único grau de jurisdição na Corte Constitucional.
No fim, o único argumento considerado válido foram as más condições das prisões brasileiras. Toda a onda feita sobre problemas no processo do mensalão acaba de ser derrubada no primeiro teste internacional a que foi submetida.
Para aumentar o ridículo da coisa, circulam entre os petistas justificativas para a insistência do ex-presidente Lula de ter o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, no Ministério da Fazenda depois que a campanha de Dilma demonizou os banqueiros na figura da educadora Neca Setubal. É que o Bradesco seria um "banco popular", enquanto o Itaú seria "um banco de elite".
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