Ontem foi um dia típico dessa temporada de crise e oscilação de humor. As altas das bolsas começaram na manhã do lado de lá do planeta, com a notícia de que hoje, quinta, o governo chinês, na abertura da reunião anual do Congresso Nacional do Povo, anunciará um pacote de estímulo. Mas quando já era a tarde do lado de cá do planeta, os EUA divulgaram um sombrio Livro Bege.
O relatório do Fed lembrou, para quem passou o dia esperando a salvação chinesa, que a economia americana tinha encolhido ainda mais nos últimos dois meses, e que a recuperação econômica não virá tão cedo. Mesmo assim, não derrubou as bolsas. Mas as más notícias continuavam todas lá: quedas de preços das casas, paralisia da construção residencial, quedas das vendas de automóveis, demissões crescentes e contratações congeladas. Ou seja, tudo continua tão ruim quanto na segunda-feira, em que o mercado caiu, mas ontem ele subiu, na expectativa de dias melhores.
Nos momentos de grande incerteza, como o que estamos vivendo, a volatilidade aumenta muito. A segunda-feira foi de queda, a quarta-feira, de alta. O problema é que o aumento da volatilidade representa mais risco. Como já houve muita perda real, cada vez que os mercados despencam, aumenta a fragilidade do sistema. A sucessão de más notícias provoca surtos de pânico nos investidores e leva os mercados a caírem mais, com mais perdedores que ganhadores no fim do dia. Quando aparece alguma boa notícia, há um surto breve de euforia. Nada é durável. O mercado oscila em busca de pontos de certeza.
Uma medida de volatilidade global foi usada por dois economistas do National Bureau of Economic Research, dos Estados Unidos, Francis Diebold e Kamil Yilmaz. Ela mede quanto da volatilidade se deve aos efeitos externos e quanto às fontes domésticas. Uma notícia na China derruba ou levanta os mercados mundo afora? Ontem, levantou. Aplicado a 200 semanas entre janeiro de 92 e maio de 2008, o índice mostrou que a volatilidade não tem tendência. Ocorre em soluços. Quanto mais notícias negativas sobre os principais mercados financeiros do mundo, mais surtos de volatilidade acontecem. Quando surgiram os primeiros sinais da crise do subprime - alguém ainda se lembra de quando era apenas o subprime? - esse índice saltou de 45 para 55, estabilizando em 50 pontos. Após o colapso do Bear Stearns, ele pulou para 65 pontos. Na reunião extraordinária do Fed, num feriado, a volatilidade global bateu em 74 pontos.
Como resultado, os "choques globais" explicavam dois terços da volatilidade, em janeiro de 2008. No início da crise, esses "vazamentos" de um mercado para os outros não explicavam mais que 45% da volatilidade dos mercados. Outra conclusão importante é que cada surto vem ocorrendo a intervalos menores de tempo, o que os levava a concluir que "à medida que a crise evolui, o impacto de cada surto de volatilidade nos balanços das instituições financeiras tende a se intensificar". Como houve um espaço entre a crise do Bear Stearns e o ciclo seguinte, os autores terminavam o estudo mais otimistas. Não tinham visto a pior das quedas: a da quebra do Lehman Brothers.
A volatilidade não tem se limitado ao mercado de ações. As commodities também têm tido altos e baixos. Viveram períodos de bolha, caíram muito, continuam oscilando. Ontem, subiram. O mundo permanece em ambiente instável, onde os preços das commodities, ações, moedas, ativos de qualquer natureza não estão em terreno firme. Podem ir para qualquer lugar. Tempo de montanha-russa.
O economista Nouriel Roubini acha que mesmo as breves altas não tiram o mercado da tendência de baixa. Ainda é Bear Market, como eles chamam a temporada de quedas. Ele diz que os preços das ações estão 50% abaixo do pico e os preços dos imóveis, 25% abaixo do pico, mas prevê mais queda, de 20%. Então, a destruição do patrimônio líquido das famílias nos EUA se tornará dramática. Roubini chama esse processo de "massacre nos mercados financeiros e entre empresas financeiras".
Num texto recente, ele chama de "alta dos tolos" esses períodos de breve recuperação num mercado negativo. Prevê que no segundo ou terceiro trimestre, quando começar a fazer efeito o pacote de estímulos, pode haver um novo período de alta. Mas ainda assim não é o fim da crise, nem da fase de queda de valor dos ativos.
A conclusão dele: "Enquanto isso, o massacre nos mercados financeiros e entre as empresas financeiras vai continuar. O debate sobre estatização dos bancos beira o surreal: com o governo dos EUA já tendo comprometido - entre garantias, investimento, recapitalização e provisão de liquidez - em torno de US$9 trilhões de recursos financeiros (e já tendo gasto US$2 trilhões dessa acachapante soma de US$9 tri). Logo, o sistema financeiro americano já está, de fato, estatizado, e o Fed se tornou o emprestador de primeira instância, não mais o emprestador de última instância. O Tesouro é o gastador e garantidor de primeira e única instância." É um tempo atípico.
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