O Plano Real deu nova feição ao Brasil. Os avanços não são fortuitos, não começaram agora. São o encadeamento de conquistas progressivas
HÁ 15 anos, esta Folha publicava em manchete: "Real começa a circular; preços disparam na virada da moeda". Aquelas duas linhas exprimiam certo ceticismo então reinante, embora todos torcessem para que o país conquistasse, enfim, a tão sonhada estabilidade monetária. Deu certo. O Plano Real, que chega ao seu 15º aniversário, marcou o início de uma bem-sucedida nova era para o Brasil.
Para as novas gerações, que, desde que se entendem por gente, manuseiam as mesmas cédulas e moedinhas, superinflação parece algo tão remoto quanto o telégrafo. Mas, apenas 15 anos atrás, nosso martírio era conviver com preços que mudavam todos os dias. Como sempre, quem mais perdia eram os mais pobres, sem meios para se defenderem do imposto inflacionário.
O real foi o único dos 12 planos de estabilização tentados no Brasil -se consideradas as experiências ortodoxas do fim do regime militar- que obteve sucesso.
A taxa de inflação acumulada desde que a nova moeda foi criada até hoje é de 245%. Vale comparar: num único ano, o de 1993, o índice ultrapassara 2.700%. Mais: a última moeda antes do real, o cruzeiro real, existiu por meros 334 dias e acumulou inflação de 3.673%. Isso acabou.
O Plano Real não foi somente uma mudança de moeda. Foi o início de um processo que levou os brasileiros a perceberem as vantagens de ter referência de valor. Foi uma verdadeira revolução cultural, cujo grande artífice foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda de Itamar Franco até a véspera do lançamento da nova moeda.
Cercado de mentes brilhantes, que lograram encontrar solução para um problema secular -o real é nossa décima moeda-, ele construiu a credibilidade do plano repetindo, por meses, que nada aconteceria na calada da noite. Aquilo, em si, era revolucionário, acostumados que estávamos com pacotes baixados da noite para o dia, com eficácia de curto prazo.
Desde seu início, o plano foi uma obra aberta. À época já se alertava para o fato de que a conquista da estabilidade era um processo a ser vencido dia após dia. Só isso já representava uma atitude absolutamente inovadora, honesta, para uma época em que os brasileiros ainda acreditavam em milagreiros na economia.
A estabilidade criava a necessidade de difíceis e urgentes mudanças econômicas. Já no poder, o PSDB topou a parada, e o PT, ainda na oposição, fez de tudo para dificultá-la sempre um pouco mais, votando no Congresso contra tudo o que era de interesse dos brasileiros.
Conquistada a estabilidade, cabia reformar o Estado, modernizá-lo e desatá-lo da herança patrimonialista de séculos. Quem há de negar que conseguimos? O país que temos hoje -melhor do que ontem, mas ainda distante do que será amanhã- é resultado dessas transformações, indissociáveis da história do PSDB.
Com a estabilidade da moeda, tornou-se imperativo pôr em ordem as contas públicas, desorganizadas pela inflação. Foram renegociadas as dívidas de Estados e prefeituras, dando-lhes previsibilidade e condições para que seus governantes pudessem atender melhor a população.
O passo seguinte, em 2000, foi disciplinar as contas do governo central a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Antes, o governo tucano já instituíra mudanças importantes na atuação do Banco Central, com a adoção do sistema de metas de inflação e do regime de câmbio flutuante.
Mas não bastava. Era preciso canalizar energias para o cumprimento de funções básicas na saúde, educação, segurança. Foi então que partimos para as privatizações, cujo sucesso encontra sua mais perfeita tradução na universalização das comunicações e nos ganhos gerados para a vida de todos os 180 milhões de brasileiros.
A desestatização foi acompanhada pelo fortalecimento de empresas como a Petrobras e o Banco do Brasil.
Deixou de ser função do Estado investir diretamente na produção, mas o papel de disciplinador do mercado foi reforçado com a criação de agências reguladoras. O sistema financeiro foi redesenhado por meio do Proer, hoje modelo para a reengenharia das finanças mundiais.
O Plano Real deu nova feição ao Brasil. Os avanços não são fortuitos, não começaram agora.
São o encadeamento de conquistas progressivas, que permitiram a construção de uma economia de mercado moderna, competitiva e integrada de maneira soberana com o mundo. E é só por isso que conseguimos sofrer menos com a crise.
Como dizia Guimarães Rosa, "o caminho se faz no andar". É certo que já poderíamos estar muito mais adiante, aonde o governo Lula não conseguiu nem conseguirá nos levar. Mas o tempo de avançar em breve estará de volta.
Severino Sérgio Estelita Guerra , 61, economista, é senador da República pelo PSDB-PE e presidente nacional do PSDB.
HÁ 15 anos, esta Folha publicava em manchete: "Real começa a circular; preços disparam na virada da moeda". Aquelas duas linhas exprimiam certo ceticismo então reinante, embora todos torcessem para que o país conquistasse, enfim, a tão sonhada estabilidade monetária. Deu certo. O Plano Real, que chega ao seu 15º aniversário, marcou o início de uma bem-sucedida nova era para o Brasil.
Para as novas gerações, que, desde que se entendem por gente, manuseiam as mesmas cédulas e moedinhas, superinflação parece algo tão remoto quanto o telégrafo. Mas, apenas 15 anos atrás, nosso martírio era conviver com preços que mudavam todos os dias. Como sempre, quem mais perdia eram os mais pobres, sem meios para se defenderem do imposto inflacionário.
O real foi o único dos 12 planos de estabilização tentados no Brasil -se consideradas as experiências ortodoxas do fim do regime militar- que obteve sucesso.
A taxa de inflação acumulada desde que a nova moeda foi criada até hoje é de 245%. Vale comparar: num único ano, o de 1993, o índice ultrapassara 2.700%. Mais: a última moeda antes do real, o cruzeiro real, existiu por meros 334 dias e acumulou inflação de 3.673%. Isso acabou.
O Plano Real não foi somente uma mudança de moeda. Foi o início de um processo que levou os brasileiros a perceberem as vantagens de ter referência de valor. Foi uma verdadeira revolução cultural, cujo grande artífice foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda de Itamar Franco até a véspera do lançamento da nova moeda.
Cercado de mentes brilhantes, que lograram encontrar solução para um problema secular -o real é nossa décima moeda-, ele construiu a credibilidade do plano repetindo, por meses, que nada aconteceria na calada da noite. Aquilo, em si, era revolucionário, acostumados que estávamos com pacotes baixados da noite para o dia, com eficácia de curto prazo.
Desde seu início, o plano foi uma obra aberta. À época já se alertava para o fato de que a conquista da estabilidade era um processo a ser vencido dia após dia. Só isso já representava uma atitude absolutamente inovadora, honesta, para uma época em que os brasileiros ainda acreditavam em milagreiros na economia.
A estabilidade criava a necessidade de difíceis e urgentes mudanças econômicas. Já no poder, o PSDB topou a parada, e o PT, ainda na oposição, fez de tudo para dificultá-la sempre um pouco mais, votando no Congresso contra tudo o que era de interesse dos brasileiros.
Conquistada a estabilidade, cabia reformar o Estado, modernizá-lo e desatá-lo da herança patrimonialista de séculos. Quem há de negar que conseguimos? O país que temos hoje -melhor do que ontem, mas ainda distante do que será amanhã- é resultado dessas transformações, indissociáveis da história do PSDB.
Com a estabilidade da moeda, tornou-se imperativo pôr em ordem as contas públicas, desorganizadas pela inflação. Foram renegociadas as dívidas de Estados e prefeituras, dando-lhes previsibilidade e condições para que seus governantes pudessem atender melhor a população.
O passo seguinte, em 2000, foi disciplinar as contas do governo central a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Antes, o governo tucano já instituíra mudanças importantes na atuação do Banco Central, com a adoção do sistema de metas de inflação e do regime de câmbio flutuante.
Mas não bastava. Era preciso canalizar energias para o cumprimento de funções básicas na saúde, educação, segurança. Foi então que partimos para as privatizações, cujo sucesso encontra sua mais perfeita tradução na universalização das comunicações e nos ganhos gerados para a vida de todos os 180 milhões de brasileiros.
A desestatização foi acompanhada pelo fortalecimento de empresas como a Petrobras e o Banco do Brasil.
Deixou de ser função do Estado investir diretamente na produção, mas o papel de disciplinador do mercado foi reforçado com a criação de agências reguladoras. O sistema financeiro foi redesenhado por meio do Proer, hoje modelo para a reengenharia das finanças mundiais.
O Plano Real deu nova feição ao Brasil. Os avanços não são fortuitos, não começaram agora.
São o encadeamento de conquistas progressivas, que permitiram a construção de uma economia de mercado moderna, competitiva e integrada de maneira soberana com o mundo. E é só por isso que conseguimos sofrer menos com a crise.
Como dizia Guimarães Rosa, "o caminho se faz no andar". É certo que já poderíamos estar muito mais adiante, aonde o governo Lula não conseguiu nem conseguirá nos levar. Mas o tempo de avançar em breve estará de volta.
Severino Sérgio Estelita Guerra , 61, economista, é senador da República pelo PSDB-PE e presidente nacional do PSDB.
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