quinta-feira, 2 de julho de 2009

Crise engole um quarto do comércio

Eliane Oliveira
DEU EM O GLOBO

Somadas, importações e exportações têm queda de 25,9%. Alta das ‘commodities’ evita resultado pior

A crise financeira internacional, que provocou uma onda de recessão nos grandes mercados consumidores globais e desacelerou fortemente a expansão das economias emergentes, fez desaparecer um quarto do comércio exterior brasileiro no primeiro semestre.

A despeito de um superávit 23,8% maior, de US$ 13,987 bilhões, a corrente de comércio (soma das exportações com as importações), de US$ 125,917 bilhões, encolheu 25,9% ante os seis primeiros meses de 2008.

Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, a principal razão para a queda do comércio exterior brasileiro foi a significativa redução das importações, que tiveram decréscimo de 38%, considerando a média diária de compras do Brasil, somando US$ 55,965 bilhões no semestre.

As exportações, que atingiram US$ 69,952 bilhões, caíram 22,2%.

Só não tiveram desempenho pior graças aos preços das commodities no mercado internacional.

Exportações para Argentina caem 42%

As cotações das commodities, que entraram 2009 no fundo do poço, a partir de abril se recuperaram: é o caso das principais matérias-primas com peso na pauta brasileira.

— O que gera atividade econômica e empregos é a corrente de comércio.

Não adianta ter uma exportação grande e uma importação pequena — avaliou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Castro lembra que as commodities têm compensado a queda das vendas de produtos manufaturados, que chegou a 30,6% em comparação ao primeiro semestre do ano passado.

Considerando só o mês de junho, o recuo na corrente de comércio foi ainda pior: 29,4%, para US$ 24,311 bilhões, resultado de US$ 14,468 bilhões em exportações e de US$ 9,843 bilhões em importações. Com isso, no mês passado, o saldo comercial foi de US$ 4,625 bilhões, o melhor desde dezembro de 2006 (US$ 5 bilhões).

— Em nossa avaliação, a queda das importações foi o grande fator que levou à redução do fluxo comercial.

Somente as compras externas de matérias-primas caíram 37% no semestre — explicou Barral — Quanto às commodities, esses produtos contribuíram de forma acentuada na pauta de exportações.

Os números divulgados ontem mostram que, pela primeira vez desde o primeiro semestre de 2003, o Brasil registrou déficit comercial com a Argentina.

O saldo negativo foi pequeno — de US$ 48 milhões, frente ao déficit de US$ 500 milhões apurado em 2003 — mas é consequência de uma queda de 42,5% nas exportações brasileiras.

A desaceleração da economia argentina e as medidas protecionistas foram responsáveis por esse resultado.

Os embarques de têxteis para o mercado argentino caíram 44,7%; de calçados, 26,7%; de artigos de linha branca, 42,3%, e de móveis, 50,2%.

São produtos afetados pelas restrições às importações do Brasil adotadas pelas autoridades do país vizinho, via exigência de licenças nãoautomáticas.

Barral afirmou que não há consenso ainda se o governo brasileiro entrará na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a Argentina. Uma reunião bilateral que acontecerá em Brasília no próximo dia 14 ajudará nessa decisão.

A Ásia foi o único mercado para onde cresceram as exportações brasileiras, com alta de 15,8%. A China, que desde março virou o principal comprador de produtos brasileiros, ultrapassando os EUA, consolidou essa posição no primeiro semestre, importando US$ 10,454 bilhões.

O fraco desempenho da balança comercial e a saída de investimentos estrangeiros do mercado financeiro levaram o Brasil a perder mais dólares do que receber na semana passada.

Segundo o Banco Central (BC), entre os dias 1º e 26 passados, o fluxo cambial — entrada e saída de moeda estrangeira do país — ficou negativo em US$ 1,227 bilhão, sendo que até o dia 19 esta conta registrava superávit de US$ 380 milhões. No ano, o fluxo cambial acumula saldo positivo de US$ 363 milhões. O BC informou também que, até o dia 24, comprou no mercado à vista US$ 1,407 bilhão.

Colaborou Patrícia Duarte

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