DEU EM O GLOBO
A primeira linha do comunicado do G-20 é animadora. Diz que é o primeiro encontro de cúpula do grupo na sua nova capacidade de ser o mais importante fórum de cooperação econômica global. É um atestado de superação do G-8. O presidente Lula não estava lá. O Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes e deu mais um sinal de como é errática sua política externa.
Os líderes mundiais, na reunião em que o Brasil se fez representar pelo ministro Guido Mantega, discutiram a decisiva questão de o que fazer nesta etapa da crise. De um lado, alguns países começam a retomar o crescimento, de outro, países estão ameaçados pelo crescimento exponencial dos déficits e das dívidas do setor público. O que eleva mais o risco de um crise em W, ou seja, com nova recaída mais adiante? O descontrole dos gastos públicos ou a retirada dos estímulos?
Alemanha e Inglaterra, em campos opostos no futebol no exato fim de semana, estiveram unidos na visão de que é preciso ser rigoroso com o corte de gastos e essa foi a posição vitoriosa: o comunicado final se comprometeu a reduzir à metade o déficit até 2013. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos não chegaram a ser eliminados. O presidente Barack Obama entrou em campo dizendo que era preciso manter os estímulos econômicos pela recuperação porque o fortalecimento da economia virá da criação de empregos. Esta posição, que o Brasil apoiou, está no comunicado final. Mas o espectro que ronda a Europa é o de que o peso dos déficits extravagantes mantenha a onda de desconfiança em relação às dívidas que acabe pondo em crise os bancos que carregam estes títulos.
O FMI defendeu que o corte de déficit vai fortalecer a economia. Apresentou até números: a economia mundial cresceria 2,5% mais rapidamente se os Estados Unidos e os países mais ricos cortarem seus déficits mais fundo do que estão planejando. Na TV online do "Wall Street Journal", o âncora Paul Vigna disse que o resumo da reunião do G-20 é uma palavra: austeridade.
O dilema do G-20 foi respondido de forma diferente do que o Ministério da Fazenda queria. O sinal mais forte foi de aperto fiscal, apesar de ter sido também contemplada no documento a preocupação com os estímulos. Não é trivial esse pós-choque de 2008. Como uma pedra jogada no lago, a crise continua provocando ondas sequenciais.
O Brasil não está fora dos riscos, mesmo vivendo momento muito bom. A Europa é um grande parceiro comercial-econômico do Brasil, um grande investidor. Os números divulgados pelo Banco Central mostraram o efeito da crise europeia nas contas externas: queda dos investimentos diretos e aumento das remessas das multinacionais europeias para melhorar suas matrizes estão aprofundando o déficit em transações correntes do Brasil. A confortável situação das reservas nos protege de piores perigos, mas de qualquer maneira o Brasil não está imune. Nenhum país está.
O xadrez é complexo e não há uma solução simples. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na reunião do fim de semana na Basiléia, ressaltou a necessidade de controle dos déficits públicos para tentar evitar novos problemas com os bancos dos países desenvolvidos que poderiam levar à nova crise. Guido Mantega em Toronto falou com jornalistas brasileiros sobre a necessidade de manter os estímulos econômicos e deixar o corte do déficits para depois. É o time do Brasil jogando de forma desencontrada, como joga aqui dentro.
Até por isso a palavra do presidente Lula em Toronto seria importante. Em momentos diplomáticos como a cúpula do G-20, os líderes dos países se reúnem nas reuniões formais e em encontros paralelos. Ao sair de um desses com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, o presidente Barack Obama disse que quando o primeiro-ministro indiano fala, o mundo ouve, pela sua liderança e influência crescentes.
A China fez mais uma das suas. Disse antes que iria valorizar o yuan e assim livrou sua política cambial de ser um dos pontos de controvérsia da reunião. Deixou uma referência a esse compromisso até a penúltima versão, mas na última versão retirou o trecho dizendo que a política cambial é soberana. Assunto interno chinês. Falso. O tema afeta o mundo inteiro.
Outra questão decisiva ficou para a próxima reunião: a regulação bancária. Os grandes bancos terão que se adaptar à nova regulação americana e terão que enfrentar novas exigências de capital e de medidas contra riscos numa regulação global. O que ganharam agora foi apenas o adiamento de discussões detalhadas para novembro.
Há momentos em que a diplomacia brasileira faz esforços fortes no que não é tão decisivo, e outros momentos em que não aparece. O motivo apresentado foi que o presidente precisava coordenar as ações de ajuda ao Nordeste. A tragédia das chuvas foi grave, mas é o governo todo que precisa estar envolvido e o presidente poderia ter se ausentado, sem que isso significasse evidentemente interromper a ajuda às vítimas.
A próxima reunião será em Seul, em novembro, quando o governo Lula estará chegando ao fim.
A primeira linha do comunicado do G-20 é animadora. Diz que é o primeiro encontro de cúpula do grupo na sua nova capacidade de ser o mais importante fórum de cooperação econômica global. É um atestado de superação do G-8. O presidente Lula não estava lá. O Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes e deu mais um sinal de como é errática sua política externa.
Os líderes mundiais, na reunião em que o Brasil se fez representar pelo ministro Guido Mantega, discutiram a decisiva questão de o que fazer nesta etapa da crise. De um lado, alguns países começam a retomar o crescimento, de outro, países estão ameaçados pelo crescimento exponencial dos déficits e das dívidas do setor público. O que eleva mais o risco de um crise em W, ou seja, com nova recaída mais adiante? O descontrole dos gastos públicos ou a retirada dos estímulos?
Alemanha e Inglaterra, em campos opostos no futebol no exato fim de semana, estiveram unidos na visão de que é preciso ser rigoroso com o corte de gastos e essa foi a posição vitoriosa: o comunicado final se comprometeu a reduzir à metade o déficit até 2013. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos não chegaram a ser eliminados. O presidente Barack Obama entrou em campo dizendo que era preciso manter os estímulos econômicos pela recuperação porque o fortalecimento da economia virá da criação de empregos. Esta posição, que o Brasil apoiou, está no comunicado final. Mas o espectro que ronda a Europa é o de que o peso dos déficits extravagantes mantenha a onda de desconfiança em relação às dívidas que acabe pondo em crise os bancos que carregam estes títulos.
O FMI defendeu que o corte de déficit vai fortalecer a economia. Apresentou até números: a economia mundial cresceria 2,5% mais rapidamente se os Estados Unidos e os países mais ricos cortarem seus déficits mais fundo do que estão planejando. Na TV online do "Wall Street Journal", o âncora Paul Vigna disse que o resumo da reunião do G-20 é uma palavra: austeridade.
O dilema do G-20 foi respondido de forma diferente do que o Ministério da Fazenda queria. O sinal mais forte foi de aperto fiscal, apesar de ter sido também contemplada no documento a preocupação com os estímulos. Não é trivial esse pós-choque de 2008. Como uma pedra jogada no lago, a crise continua provocando ondas sequenciais.
O Brasil não está fora dos riscos, mesmo vivendo momento muito bom. A Europa é um grande parceiro comercial-econômico do Brasil, um grande investidor. Os números divulgados pelo Banco Central mostraram o efeito da crise europeia nas contas externas: queda dos investimentos diretos e aumento das remessas das multinacionais europeias para melhorar suas matrizes estão aprofundando o déficit em transações correntes do Brasil. A confortável situação das reservas nos protege de piores perigos, mas de qualquer maneira o Brasil não está imune. Nenhum país está.
O xadrez é complexo e não há uma solução simples. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na reunião do fim de semana na Basiléia, ressaltou a necessidade de controle dos déficits públicos para tentar evitar novos problemas com os bancos dos países desenvolvidos que poderiam levar à nova crise. Guido Mantega em Toronto falou com jornalistas brasileiros sobre a necessidade de manter os estímulos econômicos e deixar o corte do déficits para depois. É o time do Brasil jogando de forma desencontrada, como joga aqui dentro.
Até por isso a palavra do presidente Lula em Toronto seria importante. Em momentos diplomáticos como a cúpula do G-20, os líderes dos países se reúnem nas reuniões formais e em encontros paralelos. Ao sair de um desses com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, o presidente Barack Obama disse que quando o primeiro-ministro indiano fala, o mundo ouve, pela sua liderança e influência crescentes.
A China fez mais uma das suas. Disse antes que iria valorizar o yuan e assim livrou sua política cambial de ser um dos pontos de controvérsia da reunião. Deixou uma referência a esse compromisso até a penúltima versão, mas na última versão retirou o trecho dizendo que a política cambial é soberana. Assunto interno chinês. Falso. O tema afeta o mundo inteiro.
Outra questão decisiva ficou para a próxima reunião: a regulação bancária. Os grandes bancos terão que se adaptar à nova regulação americana e terão que enfrentar novas exigências de capital e de medidas contra riscos numa regulação global. O que ganharam agora foi apenas o adiamento de discussões detalhadas para novembro.
Há momentos em que a diplomacia brasileira faz esforços fortes no que não é tão decisivo, e outros momentos em que não aparece. O motivo apresentado foi que o presidente precisava coordenar as ações de ajuda ao Nordeste. A tragédia das chuvas foi grave, mas é o governo todo que precisa estar envolvido e o presidente poderia ter se ausentado, sem que isso significasse evidentemente interromper a ajuda às vítimas.
A próxima reunião será em Seul, em novembro, quando o governo Lula estará chegando ao fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário