terça-feira, 29 de junho de 2010

O caso histórico dos jornais de esquerda:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

As pessoas no Brasil não levam em conta a posição da imprensa ou não leem os jornais, afirma o cientista político Alain Rouquié (embaixador da França no Brasil, entre 2000/2003), a propósito da elevada popularidade do presidente Lula, em contraste frontal com o tratamento crítico que lhe é dado pela imprensa brasileira. A pergunta da jornalista Leneide Duarte-Plon – que o entrevistou para a revista Trópico– e as observações dele sobre as novas democracias na América Latina além do colapso dos jornais de esquerda estão na entrevista completa no site .

O pensador francês acaba de publicar o livro À sombra das ditaduras/ A democracia na América Latina, no qual examina as diferentes maneira como as novas democracias continentais lidam com a herança dos regimes militares nos anos 60 e 70 do século passado. Sobre o ocaso da imprensa de esquerda no Brasil, o pensador francês foi direto: “E você conhece um único jornal de esquerda na América Latina?”. A repórter citou Página 12, e a resposta veio pronta, “que ninguém lê”, “foi comprado pelo governo” e “não é mais o bom jornal que foi”. No Chile, também a imprensa é de direita, “mas durante 20 anos houve governos socialistas e democrata-cristãos”.

E, no Brasil, Alain Rouquié destacou faixas da classe média, empresários e mesmo militares, que não compartilham da visão crítica exacerbada em relação a Lula.

Quanto a haver na França espanto de intelectuais pela inexistência de jornais de esquerda no Brasil, Rouquié opinou que os intelectuais franceses são mais franceses do que intelectuais, e na França também já não há jornal de esquerda como no passado. Libération “está quase morrendo”, L’Humanité é “um jornal quase confidencial”, Le Monde “é lido por uma pequena elite”. Considera pouco o saldo francês que “não faz a diferença que pesa na evolução política, econômica e social de nosso país”. Por trás dessa cortina transparente que envolve o desmaio da imprensa de esquerda, há diferenças de fundo político a serem levadas em conta.

Na asfixiante prioridade da informação sobre a reflexão, com o advento da internet, dos jornais gratuitos e ONGs, torna-se indispensável acelerar o debate sobre a liberdade de imprensa no Brasil. A ideia de se propor controle social sobre a imprensa lançou o novo eufemismo de censura em nome da democracia.

Nada a ver com a questão do jornal político ou partidário, que sucumbiu aos custos industriais e tem limitações para sobreviver numa economia de mercado. O perigo ronda a liberdade de informar e opinar.

A entrevista de Alain Rouquié pede passagem para o presidente Lula, o jornalismo político e a América Latina como ponto de chegada, depois do círculo vicioso das ditaduras.
O novo nome da censura da imprensa é o controle social pela democracia


Wilson Figueiredo escreve nesta coluna aos domingos e terças-feiras.

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