DEU NO VALOR ECONÔMICO
Pesquisas internas do PSDB indicam que a crise na escolha do candidato a vice trata-se de um problema que interessa mais aos políticos que à população. É provável, sobretudo em época de Copa do Mundo. Mas deve-se registrar que esta é a segunda vez que José Serra recusa um companheiro de chapa identificado com a direita para a disputa presidencial.
A outra, como se recorda, foi na eleição de 2002, que José Serra perdeu para o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
Na realidade, o divórcio entre as duas siglas ocorrera um pouco antes, quando Aécio Neves se elegeu presidente da Câmara à revelia do entendimento PSDB-PFL que elegeu (1994) e reelegeu (1998) Fernando Henrique Cardoso.
A situação se agravou quando a Polícia Federal apreendeu R$ 1,2 milhão na sede da Lunus, empresa ligada à então governadora do Maranhão e candidata pefelista ao Palácio do Planalto, Roseana Sarney. Em vez de reconhecer que se tratava de dinheiro para a campanha, o PFL preferiu culpar Serra pela descoberta. Àquela altura, o ministro da Saúde de FHC já despontava como o candidato do PSDB às eleições de 2002.
Confirmada sua candidatura à sucessão de FHC, Serra não hesitou na escolha do partido que indicaria o vice na chapa: o PMDB. A escolhida foi a deputada Rita Camata, hoje no PSDB e candidata ao Senado pelo Espírito Santo. O deputado Michel Temer, que nesta eleição será o candidato a vice da candidata do PT, Dilma Rousseff, já presidia o PMDB.
A marca de partido fisiológico hoje exibida pelo PMDB era mais visível, à época, no PFL, partido que vencera a eleição com os tucanos e levou sua parte no butim eleitoral. Apesar de ter perdido o discurso após a Assembleia Constituinte, o PMDB ainda carregava algum charme de partido de centro-esquerda que combateu a ditadura militar.
A curta história libertária do PMDB era mais utilitária, em 2002, para um candidato com origem na esquerda, sobrevivente de duas ditaduras, ex-presidente da UNE e ex-asilado político como José Serra - condições, aliás, que o tucano ostenta também agora, na campanha eleitoral de 2010.
Serra e o PFL se reencontraram na eleição para a Prefeitura Municipal de São Paulo, em 2004.
Experiência que aproximou Serra de Jorge Bornhausen, ex-presidente pefelista que o renegara em 2002 ("Vou para casa pescar", dizia sobre seus planos para aquela eleição). Já em 2006, Bornhausen gostaria que o PSDB tivesse escolhido Serra para candidato a presidente no lugar de Geraldo Alckmin, um candidato que decepcionou os então pefelistas.
Aos poucos, Serra e o antigo PFL foram se entendendo, muito embora nem sempre o prefeito (2004) e depois governador de São Paulo (2006) tenha concordado com a oposição radical ao governo Lula conduzida pelos pefelistas no Congresso. O entendimento de Serra com o parceiro de oposição, no entanto, durou enquanto Bornhausen esteve no comando da sigla aliada. A relação começou a travar depois das mudanças ocorridas no PFL, que trocou de nome e passou a ser tocado por uma nova gerência.
Uma nova gerência, uma nova geração no comando. Serra manteve boas relações com César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, um dos caciques do antigo PFL e pai do presidente do DEM, Rodrigo Maia. Mas o mesmo não se pode dizer a mesma coisa da relação do candidato tucano a presidente com o filho de César.
É bobagem, no entanto, dizer que Serra ignorou o DEM, na escolha do vice, em virtude da relação pessoal difícil com Rodrigo Maia. Na realidade, Serra nunca achou que a escolha do vice pudesse resultar em ganho de votos expressivo para sua candidatura - com exceção, talvez, se Aécio Neves fosse o candidato (o ex-governador de Minas Gerais deixou o cargo com popularidade lulista, em alguns municípios).
A candidatura do senador Tasso Jereissati à reeleição é um bom exemplo sobre como Serra vê a questão da vice. Tasso foi cogitado no PSDB para companheiro de chapa de Serra. Mas é certo que o ex-governador de São Paulo considera que a decisão de Tasso em concorrer novamente ao Senado dará mais votos à chapa presidencial tucana no Ceará do que se ele fosse candidato a vice-presidente.
Para Serra, o senador seria favorito na disputa pelo governo do Ceará, caso decidisse disputar o posto. O senador é que preferiu tentar a reeleição a concorrer a um quarto mandato no governo estadual. Seja com candidatos aos governos estaduais ou ao Senado, Serra espera ganhar mais em comprometimento dos aliados com a campanha.
A vaga de candidato a vice-presidente, portanto, era moeda de troca para alguma composição efetiva, como para demolir o palanque de Dilma Rousseff no Paraná.
É provável que não tenha passado pela cabeça do candidato que o DEM fosse esticar a corda e exigir a vaga de vice. Até depois da convenção do PSDB que formalizou a indicação de Serra como candidato, realizada em Salvador (BA), território de tradição pefelista, a exigência demista do vice ainda era vista no PSDB como implicância de Rodrigo Maia. Com uma ou outra exceção.
Na realidade, o presidente do Democratas refletia apenas a média do que se dizia em seu partido: se o candidato a vice não seria Aécio, se a vaga não seria oferecida a um outro partido que somasse mais tempo no horário de televisão do candidato, não haveria motivo para o PSDB recusar a vaga ao DEM, companheiro de quase oito anos de oposição.
Rejeitado por José Serra, o futuro do Democratas está ameaçado, a menos que o tucano vença as eleições de 3 de outubro. Na hipótese de vitória de Dilma Rousseff, a tendência do antigo PFL é se dividir entre aqueles que vão aderir ao governo, talvez a maioria, e aqueles que vão se acomodar entre os tucanos ou no PPS.
Curiosa situação: o DEM fez a troca de geração no comando, saiu dos grotões governistas mas não se tornou um partido urbano, redutos em geral mais refratários ao governo e acessíveis ao discurso de oposição. Numa e noutra situação foi enjeitado por Serra para campanhas nacionais. Gilberto Kassab foi a exceção, na eleição de 2004 para a prefeitura de São Paulo.
Raymundo Costa é repórter especial de Política da sucursal de Brasília.
Pesquisas internas do PSDB indicam que a crise na escolha do candidato a vice trata-se de um problema que interessa mais aos políticos que à população. É provável, sobretudo em época de Copa do Mundo. Mas deve-se registrar que esta é a segunda vez que José Serra recusa um companheiro de chapa identificado com a direita para a disputa presidencial.
A outra, como se recorda, foi na eleição de 2002, que José Serra perdeu para o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
Na realidade, o divórcio entre as duas siglas ocorrera um pouco antes, quando Aécio Neves se elegeu presidente da Câmara à revelia do entendimento PSDB-PFL que elegeu (1994) e reelegeu (1998) Fernando Henrique Cardoso.
A situação se agravou quando a Polícia Federal apreendeu R$ 1,2 milhão na sede da Lunus, empresa ligada à então governadora do Maranhão e candidata pefelista ao Palácio do Planalto, Roseana Sarney. Em vez de reconhecer que se tratava de dinheiro para a campanha, o PFL preferiu culpar Serra pela descoberta. Àquela altura, o ministro da Saúde de FHC já despontava como o candidato do PSDB às eleições de 2002.
Confirmada sua candidatura à sucessão de FHC, Serra não hesitou na escolha do partido que indicaria o vice na chapa: o PMDB. A escolhida foi a deputada Rita Camata, hoje no PSDB e candidata ao Senado pelo Espírito Santo. O deputado Michel Temer, que nesta eleição será o candidato a vice da candidata do PT, Dilma Rousseff, já presidia o PMDB.
A marca de partido fisiológico hoje exibida pelo PMDB era mais visível, à época, no PFL, partido que vencera a eleição com os tucanos e levou sua parte no butim eleitoral. Apesar de ter perdido o discurso após a Assembleia Constituinte, o PMDB ainda carregava algum charme de partido de centro-esquerda que combateu a ditadura militar.
A curta história libertária do PMDB era mais utilitária, em 2002, para um candidato com origem na esquerda, sobrevivente de duas ditaduras, ex-presidente da UNE e ex-asilado político como José Serra - condições, aliás, que o tucano ostenta também agora, na campanha eleitoral de 2010.
Serra e o PFL se reencontraram na eleição para a Prefeitura Municipal de São Paulo, em 2004.
Experiência que aproximou Serra de Jorge Bornhausen, ex-presidente pefelista que o renegara em 2002 ("Vou para casa pescar", dizia sobre seus planos para aquela eleição). Já em 2006, Bornhausen gostaria que o PSDB tivesse escolhido Serra para candidato a presidente no lugar de Geraldo Alckmin, um candidato que decepcionou os então pefelistas.
Aos poucos, Serra e o antigo PFL foram se entendendo, muito embora nem sempre o prefeito (2004) e depois governador de São Paulo (2006) tenha concordado com a oposição radical ao governo Lula conduzida pelos pefelistas no Congresso. O entendimento de Serra com o parceiro de oposição, no entanto, durou enquanto Bornhausen esteve no comando da sigla aliada. A relação começou a travar depois das mudanças ocorridas no PFL, que trocou de nome e passou a ser tocado por uma nova gerência.
Uma nova gerência, uma nova geração no comando. Serra manteve boas relações com César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, um dos caciques do antigo PFL e pai do presidente do DEM, Rodrigo Maia. Mas o mesmo não se pode dizer a mesma coisa da relação do candidato tucano a presidente com o filho de César.
É bobagem, no entanto, dizer que Serra ignorou o DEM, na escolha do vice, em virtude da relação pessoal difícil com Rodrigo Maia. Na realidade, Serra nunca achou que a escolha do vice pudesse resultar em ganho de votos expressivo para sua candidatura - com exceção, talvez, se Aécio Neves fosse o candidato (o ex-governador de Minas Gerais deixou o cargo com popularidade lulista, em alguns municípios).
A candidatura do senador Tasso Jereissati à reeleição é um bom exemplo sobre como Serra vê a questão da vice. Tasso foi cogitado no PSDB para companheiro de chapa de Serra. Mas é certo que o ex-governador de São Paulo considera que a decisão de Tasso em concorrer novamente ao Senado dará mais votos à chapa presidencial tucana no Ceará do que se ele fosse candidato a vice-presidente.
Para Serra, o senador seria favorito na disputa pelo governo do Ceará, caso decidisse disputar o posto. O senador é que preferiu tentar a reeleição a concorrer a um quarto mandato no governo estadual. Seja com candidatos aos governos estaduais ou ao Senado, Serra espera ganhar mais em comprometimento dos aliados com a campanha.
A vaga de candidato a vice-presidente, portanto, era moeda de troca para alguma composição efetiva, como para demolir o palanque de Dilma Rousseff no Paraná.
É provável que não tenha passado pela cabeça do candidato que o DEM fosse esticar a corda e exigir a vaga de vice. Até depois da convenção do PSDB que formalizou a indicação de Serra como candidato, realizada em Salvador (BA), território de tradição pefelista, a exigência demista do vice ainda era vista no PSDB como implicância de Rodrigo Maia. Com uma ou outra exceção.
Na realidade, o presidente do Democratas refletia apenas a média do que se dizia em seu partido: se o candidato a vice não seria Aécio, se a vaga não seria oferecida a um outro partido que somasse mais tempo no horário de televisão do candidato, não haveria motivo para o PSDB recusar a vaga ao DEM, companheiro de quase oito anos de oposição.
Rejeitado por José Serra, o futuro do Democratas está ameaçado, a menos que o tucano vença as eleições de 3 de outubro. Na hipótese de vitória de Dilma Rousseff, a tendência do antigo PFL é se dividir entre aqueles que vão aderir ao governo, talvez a maioria, e aqueles que vão se acomodar entre os tucanos ou no PPS.
Curiosa situação: o DEM fez a troca de geração no comando, saiu dos grotões governistas mas não se tornou um partido urbano, redutos em geral mais refratários ao governo e acessíveis ao discurso de oposição. Numa e noutra situação foi enjeitado por Serra para campanhas nacionais. Gilberto Kassab foi a exceção, na eleição de 2004 para a prefeitura de São Paulo.
Raymundo Costa é repórter especial de Política da sucursal de Brasília.
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