segunda-feira, 14 de maio de 2012

Merkel sofre derrota em eleição no mais importante Estado da Alemanha

Na defensiva. Péssimo desempenho nas urnas mostra que chanceler alemã vem perdendo gradativamente poder e, cada vez mais, vê sua imagem desgastada em razão do pacote de austeridade imposto a países da União Europeia, do qual ela é defensora intransigente

Jamil Chade

GENEBRA - Em um espelho do debate que toma conta da Europa, o eleitorado alemão rejeitou ontem as medidas de austeridade econômica e a chanceler Angela Merkel sofreu uma dura derrota na eleição local do Estado de Renânia do Norte-Vestfália, o mais importante do país. O resultado das eleições de ontem aumentam a pressão e o questionamento sobre sua política de cortes de gastos. A votação foi a última antes da eleição geral, em 2013, e considerada como um importante teste para medir
a popularidade de Merkel. A crise na Europa já causou a queda de 11 governos. O último foi o de Nicolas Sarkozy, na França, que perdeu para um socialista, François Hollande, que pregava justamente uma revisão da política de austeridade. Merkel, cada vez mais isolada no continente, agora sofre uma importante derrota em casa, em um debate que reflete exatamente os embates no restante da Europa.

A Renânia do Norte-Vestfália é o Estado mais populoso da Alemanha e tem uma economia do tamanho da Turquia. A região é a mais industrializada do país e considerada um termômetro da opinião pública alemã. Ontem, o debate europeu sobre crescimento e austeridade foi transferido para as urnas. Norbert Röttgen, pessoa de confiança de Merkel, liderou uma campanha propondo o a certo das contas estaduais. Já a vencedora, Hannelore Kraft, propôs uma reforma mais gradual das contas e insistia na necessidade de investir em educação e saúde. Não por acaso, o resultado é uma derrota para Merkel. Não só seu partido perdeu a eleição co-mo as ideias que defende para a Grécia foram rejeitadas. Röttgen, durante a campanha, chegou a alertar que a eleição seria um “referendo” sobre a posição de Merkel a respeito da dívida europeia e definiria se seu projeto “seria fortalecido ou enfraquecido”.

Agora, o resultado enfraquece a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, e fragiliza ainda mais a posição da chanceler dentro do partido. Ela busca seu terceiro mandato em 2013 e sua campanha teria como base a posição dura que tomou com rela-ção à Grécia e a outros países do bloco. A derrota ocorre às vésperas de uma visita de Hollande, que pedirá que Merkel reveja seus planos para a Europa. Ontem, os sociais democratas (SPD) obtiveram 39% dos votos e, se aliados aos Verdes (12,2%), formariam um governo regional. Ambos já estavam no poder, mas em um governo de minoria. Kraft foi obrigada a convocar eleições depois que seu orçamento não foi aprovado no Parlamento local. Agora, poderá governar com ampla maioria. Já o partido da chanceler viu seu apoio cair de 35%, em 2010, para 25%, o pior resultado nesse estado desde a 2ª Guerra. Kraft ainda sai como uma futura adversária de Merkel e já deixou claro ontem que o resultado era um “importante sinal para as eleições gerais”. Em 2013, segundo ela, o debate também será entre crescimento e austeridade. Há sete anos, foi justamente a derrota do então chanceler Gerhard Schroeder na Renânia do Norte-Vestfália que forçou a convocação de eleições antecipadas, nas quais ele seria derrotado por Merkel.

Partido Pirata terá 18 cadeiras em Parlamento local

Em toda a Europa, eleitores descontentes com os líderes políticos do continente estão abandonando siglas tradicionais e votando em partidos novos, com propostas diferentes. Na Alemanha, o principal expoente desse fenômeno é o Partido Pirata. Em abril, a sigla recebeu 8% dos votos nas eleições no Estado de Schleswig-Holstein. Isso foi suficiente para o partido conseguir entrar no Parlamento estadual. O Partido Pirata já tem representantes em três Estados alemães. Ontem, eles conquistaram 7,5% dos votos na eleição da Renânia do Norte-Vestfália, Estado mais importante do país. De acordo com estimativas, eles ficariam com 18 assentos no Parlamento local.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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