Na democracia em especial, o julgamento histórico é uma incógnita para os líderes políticos. Juscelino Kubitschek atravessou anos de turbulência institucional e econômica na Presidência, mas o futuro o redimiu como um governante visionário -imagem que o passar do tempo só reforça.
Quem tomar o valor de Winston Churchill pela desastrosa incursão militar na península de Galípoli que patrocinou na Primeira Guerra -ou por sua infeliz passagem pelo Tesouro britânico (1924)- não reconhecerá o estadista consumado pela história.
Com tiranias, é diferente. Os déspotas e seus regimes estão condenados à danação histórica, pois acabarão sucedidos seja por autocratas sem compromisso com o passado, seja por sistemas mais modernos e liberais. Eis uma das poucas sanções morais contra o arbítrio governante.
A ditadura militar brasileira (1964-1985) não foge à regra -à qual a cubana tampouco escapará. Os sete comissários da verdade nomeados pela presidente Dilma Rousseff vão reforçar a linha-mestra dessa narrativa, há muitos anos conduzida, na academia e fora dela, pelos adversários do regime, destacadamente pelas vertentes marxistas da esquerda.
A verdade histórica, em certa medida, está sempre em disputa, pois reflete o embate entre grupos que tentam contá-la no presente. Petistas tendem a realçar o papel de organizações radicais que atuaram na clandestinidade. Buscam uma conciliação difícil entre programas inspirados nos regimes de Cuba e da URSS, de um lado, e a democracia que sucedeu a ditadura militar, do outro.
No plano individual, a comissão poderá ajudar a preencher lacunas de histórias familiares marcadas por assassinatos, torturas e desaparecimentos praticados pelo regime. Deveria dispor-se, também, a reconstituir as narrativas de vítimas da esquerda armada -quer de militantes assassinados por colegas, quer de civis atingidos por atos terroristas.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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