Marcos de Moura e Souza
BELO HORIZONTE - O prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), passou os últimos três anos e meio governando com participação de petistas e tucanos em sua equipe. Mas agora tem de escolher um lado numa disputa travada pelos dois partidos por mais espaços em seu eventual segundo mandato. PT e PSDB querem fechar uma aliança proporcional com PSB, o que tende a garantir a um ou a outro mais vereadores em outubro. Lacerda faz suspense e mede seus passos para não melindrar demais nenhuma das duas legendas. Mas em conversas reservadas já diz que dá preferência à posição dos tucanos.
O PT tem a vice-prefeitura e passou a pleitear também a aliança proporcional. Os tucanos reagiram com críticas e sustentam que o lógico é que se os petistas ficarem com a vice, eles devem sair fortalecidos na Câmara dos Vereadores. Lacerda comprou o argumento do PSDB.
"Essa reação do PSDB é justa. O PT querer a vice e a aliança proporcional desequilibra o jogo a favor do PT", disse o prefeito a um interlocutor muito próximo ouvido pelo Valor. Em abril, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, veio a Belo Horizonte e defendeu que além da vice-prefeitura seu partido fosse brindado com a aliança proporcional, o que, pelos cálculos petistas daria ao PT até oito vereadores em outubro.
"O PT exigiu a proporcional entre os dois partidos e nós já estávamos em conversações com os vereadores do PSB. Aí chegou o Rui Falcão com essa novidade. E isso nós não aceitaremos. Não haverá essa hipótese de o PT ter as duas [vice e a aliança]", disse o deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais, Marcos Pestana. O deputado se recusa a responder se o PSDB pode deixar a chapa se os desejos do PT forem atendidos por Lacerda. "Não tem essa hipótese porque todo mundo tem juízo." Seria comprar briga com o PSDB de Aécio Neves e do governador Antonio Anastasia, diz ele. Pestana lembra que uma pesquisa encomendada por seu partido ao Vox Populi sobre quem são os principais cabos eleitorais nas eleições municipais em Belo Horizonte, mostrou Aécio como o mais influente com 55%; Anastasia com 12% e só em terceiro aparece o ex-prefeito da capital mineira Fernando Pimentel (PT).
Se Lacerda for reeleito costurando com o PT uma aliança proporcional para a eleição de vereadores, os riscos de futuras dores de cabeça na Câmara tendem a aumentar. Isso porque o PT poderá eleger vereadores críticos ao prefeito, amplificando as resistências já existentes na atual legislatura. Com oito vereadores, o PT seria o maior partido da Câmara.
Reginaldo Lopes, deputado federal e presidente do PT mineiro, diz que já está "fechado" com o PSB que seu partido terá a vice e a aliança proporcional. Mas quem conversa com o prefeito com frequência sobre isso diz que para ele "o jogo para definir essa questão ainda está acontecendo". E que deve seguir em aberto até o início de junho.
Marcio Lacerda sabe mais do que ninguém do equilibrismo que precisa fazer em para manter petistas e tucanos ao seu lado. "Meu maior cuidado é não dar um passo agora que possa ameaçar a aliança tanto com o PT quanto com o PSDB", disse ele na quinta-feira, segundo o interlocutor ouvido pela reportagem. A cinco meses das eleições, o prefeito avalia que o risco de disputar a reeleição só com o PT ou só com o PSDB é pequeno, mas não descartável. Neste momento, 15 partidos dizem que apoiarão sua candidatura.
No equilibrismo de Belo Horizonte estaria também pesando uma pré-costura de apoio do PSB nacional à futura campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Num possível cenário atrelado ao apoio, o PT deixaria para o PSB a candidatura ao governo de Minas em 2014. Pimentel, ministro do Desenvolvimento, abriria mão de seus planos de suceder Anastasia.
Lacerda foi lançado em 2008 a candidato a prefeito pelo então governador Aécio Neves, em acordo com o então prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. E chega ao seu último ano do primeiro mandato como favoritíssimo nas urnas de outubro. Uma pesquisa interna encomendada recentemente pela prefeitura apontou que ele tem 80% de aprovação.
Sua popularidade alimenta as especulações de que poderá ser o nome mais viável para se candidatar a governador de Minas em 2014. Lacerda nega, mas não com muita veemência. A aliados mais próximos ele tem dito frases como: "a ideia de uma candidatura a 2014 não tem minha simpatia" e "não é minha prioridade". Mas Lacerda, que terá 68 anos em 2014, diz também que só poderia ser candidato com as benções de Aécio e Pimentel.
Numa entrevista ao jornal "Hoje em Dia", de Belo Horizonte, publicada no dia 6 de maio, o presidente do PSB de Minas, Walfrido dos Mares Guia, deixou a aberta a possibilidade de Lacerda renunciar no meio de um eventual segundo mandato para concorrer em 2014. "Ele não pensa nisso, posso lhe assegurar porque sou amigo dele. Agora, se a circunstância vier a trazê-lo nessa direção, ele não tem o direito de recusar." Mares Guia disse ainda que pode acontecer de os partidos que apoiam Lacerda agora pedirem que ele seja candidato a governador.
Tanta especulação ajudou a apimentar o debate interno no PT local para a indicação do nome do candidato a vice. Afinal, o escolhido, se eleito, poderá - no cálculo de lideranças petistas - entrar no jogo com chances de herdar a prefeitura da capital mineira no meio do mandato e de fazer planos de longo prazo. O debate interno no PT para as eleições deste ano passou a levar em conta 2014 e 2016.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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