Crescimento agora é parte da agenda europeia, mas ainda falta acordo sobre como atingir esse objetivo
PARIS - A Europa tenta começar a sair de seu doloroso labirinto em três movimentos nos próximos 40 dias: a reunião entre o presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, no dia 16; uma cúpula informal dos líderes europeus no dia 23; e, já em junho, a cúpula semestral.
Todos os movimentos girarão em torno do crescimento e, por extensão, do emprego, além da austeridade, cravada na cúpula de março. Que os ventos mudaram na direção do crescimento dá prova contundente o porta-voz da grande banca internacional, Charles Dallara, que, em entrevista à TV Bloomberg, sugeriu relaxar o ritmo dos cortes orçamentários na Grécia.
"Eles contraíram seu Orçamento em 10% nos últimos dois anos, e no ambiente atual pode-se construir um forte argumento em favor da moderação do ajuste fiscal", diz.
Por "ambiente atual", entenda-se a eleição de domingo em que 66% dos votos foram para partidos anti-ajuste.
Dallara é um tremendo falcão, capaz de me dizer, há três anos em Davos, que o presidente Barack Obama era "um moleque" por ter afirmado que, se a banca queria guerra, teria guerra.
Se Dallara agora não quer guerra, trata-se de uma rendição aos fatos, assim expostos na coluna de ontem para o "Financial Times" de Martin Wolf, que não é exatamente populista: "O aperto fiscal não melhora o desempenho de economias que encolhem. (...)De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a relação dívida pública bruta/PIB subirá, não cairá, ano após ano, de 2008 a 2013, na Irlanda, na Itália, na Espanha e em Portugal. Cairá brevemente na Grécia, mas só por causa da reestruturação da dívida".
Se a dívida sobe, em vez de cair, e se não há crescimento, aumenta a chance de calote, como percebem os mercados.
Escreve, por exemplo, Dominique Seux, de "Les Echos", o "Financial Times" francês, sobre a pregação de Hollande pelo crescimento: "O novo presidente teve uma boa intuição: o ambiente é favorável a um discurso sobre o crescimento, pois os mercados, tendo votado pela austeridade, mudam de opinião por causa da Espanha".
A Espanha, mesmo sendo fundamentalista no ajuste, virou bola da vez no mercado da dívida ao resvalar de novo para a recessão.
O problema, portanto, é menos convencer os mercados e mais a Alemanha. O governo alemão até topa incluir crescimento no jogo europeu, desde que não seja à custa de mais dívida e mais deficit para financiar pacotes de estímulo.
Merkel prefere as chamadas reformas estruturais, codinome para reduzir a proteção aos trabalhadores, na pressuposição de que, em sendo mais barato demitir e em sendo os salários mais contidos, as empresas contratarão mais. "Nonsense", fulmina o liberal Martin Wolf: "No médio prazo, [reformas estruturais] aumentarão o desemprego, acelerarão a deflação e aumentarão o peso real da dívida".
É escandalosamente óbvio que a Europa não pode esperar o longo prazo. Mas é também óbvio que os novos ventos, pró-crescimento, ainda não encontraram um barco de ideias sólidas sobre o qual soprar.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário