Banco estatal tem 31% da JBS, a maior produtora de carne do mundo; grupo assumirá a Delta, acusada de desvios
Márcio Beck, Ronaldo D"Ercole
LIGAÇÕES PERIGOSAS
RIO e SÃO PAULO. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é sócio, com mais de um terço de participação, do principal empreendimento da holding J&F Participações: a empresa de proteína animal (carnes) JBS S.A., formada em setembro de 2009 a partir da associação com a Bertin, outra empresa do segmento. O banco informou que não tem participação acionária na J&F Participações nem concedeu financiamento à holding. Esclareceu que participa exclusivamente, com 31,4%, da JBS S.A, e que financia R$ 1,4 bilhão em investimentos na atividade produtiva da empresa, em operações contratadas entre 2008 e 2011.
O banco informou que usa recursos de giro para atuar no setor de frigoríficos, tendo como principal estratégia a subscrição de ações ou debêntures conversíveis - papéis que podem ser trocados por ações de uma empresa - por meio da sua subsidiária BNDESPAR. Desta forma, o banco liberou R$ 8,1 bilhões desde 2007, em quatro operações com a JBS. A maior delas foi a aquisição de R$ 3,5 bilhões em debêntures para reforçar a estrutura de capital da JBS após a aquisição da Pilgrim"s Pride pela JBS USA e a incorporação da Bertin S.A.
Além disso, o BNDES também aprovou, em junho do ano passado, financiamento de R$ 2,7 bilhões para a Eldorado Celulose e Papel, outra companhia do grupo. O empréstimo do BNDES corresponde a 53% da primeira linha da maior fábrica de celulose do mundo, que está sendo construída no município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. A expectativa é que a unidade comece a operar em novembro, produzindo 1,5 milhão de toneladas por ano de celulose branqueada de eucalipto. O volume de recursos representa quase 20% dos R$ 14 bilhões desembolsados pelo banco para o setor nos últimos dez anos.
A Eldorado, segundo projeção do Banco Original, instituição financeira do grupo JBS, terá receita líquida de R$ 2 bilhões em 2013.
Nascido em 1953 de um pequeno açougue - a Casa de Carnes Mineira, na cidade de Anápolis, em Goiás -, o grupo JBS passou a voar alto na década passada. O fundador do negócio, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, com a ajuda dos filhos José Júnior, Joesley e Wesley, passou ao longo dos anos a adquirir pequenos abatedouros e frigoríficos e, com a marca Friboi, no início dos anos 2000, já era um dos maiores produtores de carne bovina do país.
Internacionalização começou em 2005
A compra da Swift Argentina, em 2005, foi o ponto de partida na internacionalização do grupo. Dois anos depois, já contando com 21 unidades de produção de carne aqui, outras cinco na Argentina e capacidade de abate de 20 mil cabeças de gado por dia, o grupo foi à Bolsa de Valores e captou R$ 1,5 bilhão com o lançamento de suas ações no mercado.
O caixa reforçado abriu caminho para novas aquisições. De uma tacada, arrematou a Smithfield Fiverivers e a Tasman, tornando-se líder na produção de carne também nos Estados Unidos e na Austrália. Em 2008, criou o banco JBS, seu braço no setor financeiro.
Mas a vertiginosa expansão dos negócios da família Batista, sempre com o BNDES como principal financiador, chegaria ao ápice em 2009, quando o grupo anunciou a compra da Pilgrin"s Pride, um dos líderes do segmento de frangos nos Estados Unidos, e a fusão das operações da JBS Friboi com a Bertin, um dos principais concorrentes no mercado nacional de carne bovina.
Fusão com Bertin ampliou negócios
Na fusão com o grupo Bertin, a JBS incorporou também os ativos das áreas de lácteos (a Vigor) e de beleza e cosméticos (das marcas Albany, OX e Neutrox). E, em vez de pagamento em dinheiro, a família Bertin ganhou participação acionária no bloco de controle da JBS S.A.. Os Bertin são sócios dos Batista na JB Participações (com 40% e 60% do capital cada, respectivamente). Com 46,9% das ações da JBS, é a JB que escolhe seus executivos e define as estratégias de negócio da empresa.
O BNDES socorreu a JBS na operação de compra da Pilgrin"s, depois que a crise de 2008 inviabilizou uma emissão de ações da JBS nos Estados Unidos, que seria usada para pagar os acionistas da empresa americana. O banco tem hoje 31% do capital acionário da empresa.
No ramo financeiro, o grupo contou recentemente com um empurrão do Fundo Garantidor de Crédito (FGC, mantido pelos bancos privados) para incorporar o banco Matone. Em novembro do ano passado, o FGC injetou R$ 850 milhões para equilibrar o balanço do Matone, antes de ele ser comprado. Dessa união nasceu o banco Original, novo braço financeiro da holding J&F.
Empresa busca liderança no setor de celulose
Apesar da diversificação do grupo, o negócio de carnes continua sendo a principal atividade. No ano passado as receitas líquidas da JBS representaram 96,6% do faturamento da holding. O negócio de carnes deve perder peso com o início da operação da fábrica de celulose que a J&F inaugura no fim do ano, em Três Lagoas (MS), na qual está investindo R$ 6,2 bilhões, para tornar-se um dos líderes mundiais da commodity. A expectativa é que a unidade comece a operar em novembro.
FONTE: O GLOBO
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