Nesta quarta-feira, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, se encarregou de passar o recado para a Grécia.
Disse ele que, se os gregos quiserem sair do euro, não haverá quem irá impedi-los. Disse ainda que, caso queiram permanecer no bloco, a melhor maneira para isso será observar o que foi definido nos contratos.
Dia após dia, vai sendo mostrado que os países centrais da área do euro têm se conformado com ter de enfrentar as consequências de eventual saída da Grécia. A situação é parecida com a existente às vésperas da quebra do Lehman Brothers, em 2008. Deixar quebrar seria uma calamidade; mas, se não deixar, como sabê-lo? Ou seja, com a possível saída da Grécia e com tudo o que viria junto ficaria mais fácil convencer os demais a não tratar com leviandade essa hipótese.
Nada menos que 77% dos gregos querem permanecer na zona do euro – apontam as pesquisas. Mas desejam do jeito deles, com sombra e água fresca proporcionadas pela vizinhança.
A saída da Grécia do bloco do euro seria um desastre, embora localizado. Além disso, a simples adoção de nova dracma, fortemente desvalorizada em relação ao euro, mais o calote geral inevitável não resolveriam problemas de fundo. O rombo orçamentário, de 7% do PIB em 2011, ficaria alguma coisa menor, porque o calote diminuiria certas despesas financeiras. No entanto, não seria o suficiente para que a Grécia pudesse dispensar os financiamentos, que ficariam inviáveis em decorrência do calote. O novo banco central da Grécia seria chamado a emitir moeda para pagar contas internas e a inflação iria para onde tivesse de ir. Mas seria incapaz de fornecer moeda forte para pagar importações.
A reinstituição da moeda nacional provocaria perdas inexoráveis de patrimônio da população. Aplicações financeiras nos bancos não poderiam mais ser recuperadas em euros; teriam de ser convertidas em dracmas. Assim como dívidas e compromissos internos, hoje em euros. Nessa paisagem, ficaria difícil evitar a recessão e a perda de salários em proporções até maiores do que as atuais, que o povo grego se recusa a suportar.
Comparações com a Argentina, que saiu do sistema de conversibilidade com o dólar (currency board) em 2002, valem pouco. A Argentina é um país com enorme capacidade de gerar receitas em moeda forte, graças a seu importante setor exportador.
É claro, o risco de contágio para o resto do bloco aumentaria exponencialmente com eventual quebra da Grécia. Mas, realisticamente falando, mesmo saindo caro, seria mais barato blindar o resto da economia europeia mais os bancos europeus do impacto provocado pela quebra da Grécia (2,2% do PIB do euro) do que se a economia em questão fosse a Espanha ou a Itália.
Por isso mesmo, um desastre que se restringisse à Grécia poderia cumprir a função de mostrar aos eurocéticos e a tantos que vêm apostando contra o euro a tragédia que seria para o país que decidisse desistir do bloco.
Por falta de opção, a saída da Grécia da zona do euro parece ter ficado inevitável. O ministro Schäuble pode estar apenas tentando preparar os espíritos.
CONFIRA
O gráfico mostra a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses, a inflação que define a política de juros.
Serviços ainda caros. A inflação no mês de abril, de 0,64%, veio no teto das expectativas. Foi bem mais alta do que a de março (0,21%). É cedo para concluir que a alta do dólar está puxando os preços. Se, de um lado, os importados estão mais caros, de outro, a cotação das commodities está em relativa queda. Continua preocupante a alta dos serviços, que foi de 0,76% em abril, acumula 3,71% no primeiro quadrimestre do ano e atingiu 9,10% em 12 meses.
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