Luiz Fux também não acredita em caixa dois entre partidos aliados
Jailton de Carvalho, André Souza
BRASÍLIA - O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal
(STF), afirmou ontem que está, sim, caracterizada a compra de votos pelo PT,
conforme denunciou a Procuradoria-Geral da República na origem do processo do
mensalão. Para o ministro, as transferências de dinheiro de Marcos Valério,
apontado como operador do mensalão, ao PL, PP, PTB e PMDB, a mando de
ex-dirigentes petistas, são indicações claras do comércio de apoio político. A
ajuda financeira não seria altruísmo. O ministro Luiz Fux também deixou claro
que não acredita na tese de que os pagamentos eram simples movimentação de
caixa dois entre aliados.
- A disputa por caixa é muito grande, e um partido não fortalece o outro,
viabilizando, portando, uma melhor campanha eleitoral. A natureza em si, o
antagonismo, afasta totalmente a possibilidade de um partido cobrir o caixa um
do outro -disse Marco Aurélio ao ser perguntado sobre o trecho do processo
relacionado à compra de votos, pouco antes do início da sessão.
Dirceu está entre os réus
Marco Aurélio afirmou ainda que a tendência de condenação de réus acusados
de corrupção passiva nesta semana pode ser decisiva na definição da situação
dos réus acusados de corrupção ativa, capítulo que entra na pauta de votação na
próxima semana. Entre os réus acusados de corrupção ativa estão o ex-ministro
José Dirceu, o ex-deputado José Genoíno e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, todos
da antiga cúpula do PT.
- Eu penso que, tendo em conta que se está assentando o recebimento, haverá
a definição de quem realmente pagou, o corruptor. Uma coisa é a corrupção
passiva, considerando o núcleo apenas solicitar. Outra coisa é receber. Quem
recebe, recebe alguma coisa de alguém. Aí é que vai ser interessante. Mas nós
temos que ouvir (relator e revisor). Vai ser a parte mais eletrizante.
No intervalo da reunião, Fux deixou escapar que, para ele, o mensalão não
foi apenas caixa dois. Em conversa com jornalistas, o ministro foi questionado
se concordava com a tese da defesa de que os repasses do PT para os partidos da
base - usando as empresas de Marcos Valério e o Banco Rural - eram recursos não
contabilizados para campanha.
- Não - respondeu.
Mas, logo em seguida, pensou rapidamente no que tinha acabado de dizer e,
rindo, emendou:
- Mas aí você (repórter) já me roubou o script. Caí na sua.
Relator e revisor divergem
O relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, destacou na semana
passada que os repasses não foram caixa dois, mas compra de apoio político no
Congresso. O revisor, Ricardo Lewandowski, afirmou ontem que a compra de votos
era uma "mera inferência" do Ministério Público Federal e que não havia
encontrado provas dessa acusação.
Marco Aurélio também pôs em dúvida a validade de eventuais embargos
infringentes que advogados deverão apresentar no final do processo para
contestar trechos do julgamento em curso. Segundo ele, embargos infringentes
podem não ser apropriados para decisões do plenário do STF porque obrigariam o
mesmo colegiado a decidir duas vezes sobre uma mesma questão.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário