O tempo passa, o tempo voa...
Mais uma vez o governo, para debelar as consequências da crise econômica, aponta com as medidas paliativas de sempre, dizendo que irão aquecer a economia. O refrão do bolero é o mesmo de sempre: redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre a venda de veículos automotores e, quem sabe, outros produtos, e outras medidas de teor semelhante.
Enquanto isso passaram-se dois governos de Lula da Silva e o início deste de Dilma, nada de mexer nos problemas estruturais da economia: a infraestrutura de transportes continua sucateada; o investimento em inovação e tecnologia permanece pífio; o sistema tributário regressivo e em cascata insiste em castigar e empurrar para a clandestinidade quem poderia ser um microempresário e para a sonegação os demais; a legislação trabalhista, de quase um século, desconhece as mudanças profundas nas relações de trabalho com o avanço tecnológico e das comunicações instantâneas; o orçamento da União, antes de mais nada, continua a ser concebido e executado como um instrumento para fazer girar, via superávit primário, a imensa e crescente dívida pública.
E o que parece ser o pior, ao não se promover as reformas necessárias, e nem mesmo iniciar o debate sobre elas, o que poderia se afigurar como medida emergencial de incentivo para dinamização da economia em tempos de crise, torna-se uma bomba-relógio (“bolha” para os agentes “do mercado”): o estímulo desenfreado ao consumo sem poupança e ao crédito sem lastro.
A situação é tratada com o desprezo e a irresponsabilidade de quem parece estar satisfeito com o único objetivo imediato de manutenção dos índices de aprovação e de simpatia nas pesquisas de popularidade. Se a bomba explodir, mesmo que seja no próprio colo, daqui a alguns anos não importa. Se for no colo de outros, menos ainda.
Por isso perde-se tempo precioso, empurra-se com a barriga as tarefas mais trabalhosas e as vezes desagradáveis. Talvez para depois das eleições, talvez nunca.
E na economia o resultado previsível será mais do mesmo, mais uma formidável desovada de estoque de veículos de passeio e motos nas ruas já congestionadas à base de mais crédito fácil e desoneração tributária. Isso fará a base e as máquinas metalúrgicas, sindicais e eleitorais satisfeitas. Pelo menos até outubro.
Enquanto isso, o grande debate político nacional, no Congresso Nacional e na mídia, fica sendo descobrir na CPI quem recebeu ou deu telefonemas para o Carlinhos Cachoeira e outras coisas menos relevantes, de incumbência de investigadores e delegados de polícia, depois da Justiça e, esperamos, do sistema penitenciário.
Mesmo assim, com CPI e tudo, o pivô das maracutaias consegue depor 2 horas e meia e não falar nada e os perguntadores, desta vez, nem conseguem dar o seu show para a platéia e para televisão de tão fraco, esvaziado e irrelevante que está de tornando o parlamento, por não tratar das grandes questões do desenvolvimento nacional, com os parlamentares se movendo em função da dose de emendas parlamentares aplicadas.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com
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