Para Samuel Pessoa, da FGV, as novas medidas de estímulo econômico não darão resultado no longo prazo
Segundo economista, desaceleração do PIB começou em 2009 e decorre do excesso de intervenção estatal
Mariana Schreiber
SÃO PAULO - O governo já anunciou cinco pacotes de estímulo econômico desde agosto, mas o crescimento do PIB neste ano deve ficar em apenas 2,5%, estima o professor da FGV e sócio da consultoria Tendências Samuel Pessoa.
Segundo o economista, que chama os vários pacotes de "colcha de retalhos", a desaceleração econômica não é de hoje. Começou em 2009, diz, e é reflexo de um excesso de intervenção estatal na economia e da falta de reformas estruturais.
Folha - O governo já anunciou cinco pacotes de estímulo econômico desde agosto. Essa estratégia é adequada?
Samuel Pessoa - Esses pacotes em geral são voltados para o consumo, são muito pontuais e muito setoriais. É quem grita mais, você vai lá escolhe um setor. É uma colcha de retalhos, uma confusão. Mesmo as desonerações, que são boas para o produtor, aumentam a complexidade do sistema tributário.
O governo deveria ter medidas mais estruturadas?
Sim. Essa política econômica, que a gente chama de "micromanagement", de a cada coisinha você inventar um instrumento, gera confusão regulatória e tem pouco efeito de longo prazo. Falta algo mais estruturado, falta um diagnóstico melhor. Essa desaceleração do crescimento não é fruto só de questões externas. Ela aconteceu desde 2009. A taxa média de expansão do PIB desde 2009 está rodando na casa de 3%.
O que puxa essa desaceleração internamente?
A economia foi impactada pela redução da produtividade. O primeiro motivo é o fim de um grande ciclo de reformas que começou no governo Collor [1990-1992] e foi até 2005. Tudo que se fez: abrir e estabilizar a economia, privatizar setores, melhorar marcos regulatórios, uma mini-reforma tributária no governo Lula [2003-2010], tudo isso foi maturando e explica a aceleração do crescimento no governo Lula.
Em 2007, mudou a gestão econômica e começou-se a fazer um monte de medidas que reduzem a produtividade da economia. É uma política de enorme ativismo estatal, de fechamento da economia, que lembra muito o governo Geisel [1974-1979] e gera ineficiência econômica.
Além disso, depois da crise, você tem um modelo de crescimento liderado pelo consumo que gera uma expansão muito forte do setor de serviços e penaliza a indústria. E como a produtividade nos serviços é menor, a expansão do PIB fica menor.
Isso é ruim?
Esse modelo gera um crescimento menor. Mas qual o problema? As pessoas estão felizes, a popularidade da presidente [Dilma Rousseff] é alta. Mas aí tem uma questão de decisão política. A presidente pensa que a indústria é um setor estratégico para o desenvolvimento de longo prazo, exatamente porque é um setor em que a produtividade média é mais alta.
Só que para ter muita indústria tem que poupar que nem chinês, tem que investir que nem chinês. Crescer não é uma coisa fácil. Todo mundo fica louco com a exuberância da China. Vai morar lá. Vai trabalhar 14 horas por dia, poupar metade da renda.
O crescimento puxado pelo consumo está se esgotando?
A economia brasileira está em fase de transição. Estamos chegando no limite do modelo liderado por consumo e crédito. Tem um pouco de esgotamento de demanda, porque produtos duráveis [carros, eletrônicos] você não compra todo ano, e na saída da crise o governo usou muito a demanda de duráveis para manter o crescimento.
Por outro lado, aumentou muito o volume de crédito. Hoje há menos financiamento de carros não porque os bancos estão restringindo crédito, mas porque os bons tomadores de crédito já compraram seus carros e agora quem demanda crédito é gente que não tem como pagar.
O dólar acima de R$ 2 pode elevar o crescimento do PIB?
Sim. Estimula a exportação e desestimula a importação. O problema é a inflação. O limite da desvalorização do câmbio é o impacto inflacionário. Se começar a dar problema, o governo tira o IOF e esse cambio cai para R$ 1,90.
FONTE:: FOLHA DE S. PAULO
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