Já se sabia, desde que Luiz Inácio Lula da Silva passou a faixa presidencial para Dilma Rousseff, que dificilmente o petista seguiria o receituário que tantas vezes recomendou a ex-presidentes como ele: discrição e distância do poder.
Lula só não esteve ainda mais ativo nesse período porque teve de parar para tratar o câncer de laringe que o acometeu. Recuperado, está presente em todas as frentes da política, da CPI ao julgamento do mensalão, passando, é claro, pelas eleições.
Resta saber se, ao abrir tantas picadas de uma só vez, o ex-presidente logrará o êxito que espera ou colocará em xeque sua habilidade de costura política, cantada em prosa e verso.
Lula concebeu uma narrativa política que passa por: 1) negar a existência do mensalão, 2) vingar-se daqueles que julga responsáveis por minar seu governo e 3) eleger seu pupilo em São Paulo para tentar apear o PSDB do poder no Estado em 2014.
Trata-se de uma tarefa hercúlea e difícil de ser cumprida na totalidade, principalmente porque, para implementá-la, Lula vai deixando descontentes pelo caminho e cobrando lealdades nem sempre exequíveis.
No bloco dos feridos já está a senadora Marta Suplicy, que, preterida em São Paulo, não perderá uma oportunidade sequer de constranger o candidato Fernando Haddad.
O time daqueles de quem Lula cobra fidelidade vai do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), a ministros por ele nomeados para o Supremo Tribunal Federal, postos diante da tarefa de dizer se o mensalão existiu ou não e se José Dirceu era o "chefe da quadrilha".
É de esperar que nem toda a orquestra toque como o maestro rege. A ideia de usar a CPI do Cachoeira como cortina de fumaça para o mensalão, por exemplo, saiu pela culatra.
Da mesma forma, se é verdade que Lula vai colher os louros de uma eventual vitória de Haddad, também é correto afirmar que será ele o grande derrotado caso o ex-ministro não vença José Serra (PSDB) em outubro.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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