Principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento, a Delta Construções também faturou alto em contratos diretos com 18 administrações estaduais. Levantamento feito pelo Estado identificou pagamentos que somam R$ 718,24 milhões em 2011
Novo alvo da CPI, Delta nacional levou R$ 718,2 mi com negócios em 18 Estados
Caso Cachoeira . Um dia após comissão parlamentar do Congresso ter anunciado intenção de investigar todos os contratos e obras da empreiteira no País, levantamento identificou pagamentos de governadores da base e da oposição à construtora envolvida no escândalo
Alfredo Junqueira
RIO - Principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e protagonista do terremoto político provocado pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal, a Delta Construções também faturou alto em contratos diretos com 18 administrações estaduais. Levantamento feito pelo Estado nos bancos de dados dos governos identificou pagamentos que somam R$ 718,24 milhões no ano passado. O total arrecadado pela construtora nos Estados equivale a 83,3% dos R$ 862,43 milhões que a empresa faturou em obras e serviços prestados ao governo federal no mesmo período. Ou seja, somente em 2011 a Delta Construções recebeu R$ 1,58 bilhão em recursos públicos federais e estaduais.
A capilaridade da empresa, que está presente em quase todo o País, explica a reduzida disposição inicial da CPI instaurada no Congresso Nacional de investigar as atividades da empresa para além da Região Centro-Oeste – onde o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se estabeleceu como uma espécie de sócio oculto da construtora. Anteontem no entanto, a comissão anunciou que pretende focar todos os negócios A revelação de que Cláudio Abreu e Heraldo Puccini Neto, diretores da empresa indiciados pela Operação Saint-Michel, do Ministério Público do Distrito Federal, tinham procuração para movimentar contas nacionais da construtora deve forçar a CPI a ampliar suas investigações. E os parlamentares terão farto material de análise nas administrações estaduais. Além de obras, reparos e manutenções, os tesouros e staduais t ambém contrataram a empresa, que pertencia a Fernando Cavendish, para prestação de serviços de limpeza (R$ 92,45 milhões com o Distrito Federal) e locação de veículos para a área de segurança pública (R$ 16,54 milhões com Mato Grosso), por exemplo. O maior faturamento da Delta nos Estados ocorreu no Rio de Janeiro, sede da matriz da empresa.
Só em 2011, a empreiteira recebeu R$ 302,8 milhões da admi- nistração fluminense – a maior parte veio do Departamento de Estradas de Rodagem local (DER-RJ): R$ 98,7 milhões. Amigo íntimo de Cavendish, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) tornou-se um dos potenciais alvos da CPI depois que o ex-governador e deputado fe- deral Anthony Garotinho (PR- RJ) publicou em seu blog fotos e vídeos de festas, shows e jantares com o peemedebista, o em- presário e suas respectivas mulheres na França e em Mônaco. Nos cinco anos e cinco meses de gestão de Cabral, Cavendish faturou R$ 1,49 bilhão no Rio. A relação de amizade colocou Cabral na berlinda e pode levá-lo a prestar esclarecimentos à CPI, apesar das manobras de integrantes da comissão para blin- dar os governadores.
Terra natal. Depois do Rio, o tesouro estadual que mais pagou à Delta foi o de Pernambuco, Estado de origem da empreiteira, fundada em 1961 por Inaldo Soares – pai de Cavendish. No ano passado, o governdor Eduardo Campos (PSB) assinou pagamentos à construtora que totalizaram R$ 105 milhões. O Distrito Federal, de Agnelo Queiroz (PT), outro cotado para depor na CPI por causa das relações de ex-assessores com Cachoeira, aparece em terceiro na lista, com R$ 92,8 milhões. Logo após, com R$ 51,9 milhões, vem Goiás, do tucano Marconi Perillo – governador em situação delicada por causa de sua relação pessoal com o contraventor. Os contratos em vigor podem fazer com que os valores pagos à Delta por algumas administrações estaduais se multipliquem nos próximos anos. Apesar de constar com apenas R$ 3,16 milhões em desembolsos no ano passado, o governo do Amazonas, administrado por Omar Aziz (PSD), por exemplo, assinou quatro contratos no valor total de R$ 143,8 milhões no último trimestre de 2011.
O governo está auditando os processos e admite rescindi-los. O mesmo ocorre no Espírito Santo, do governador Renato Casagrande (PSB), que pagou R$ 3,8 milhões à empresa no ano passado, mas que tem ainda outros contratos, que totalizam R$ 90 milhões com a construtora. Gravações feitas pela PF na Operação Monte Carlo revelaram que Cachoeira e a Delta cobiçavam entrar em Estados como Santa Catarina e Paraná, cujos portais de t ransparência das administrações estaduais informam não terem feito nenhum pagamento à construtora no ano passado. A Região Sul ainda era um local inexplorado pelo esquema, pois no Rio Grande do Sul também não há registro de contratos com a empresa. As assessorias do Amapá, da Bahia, de Minas Gerais, da Paraíba e de Rondônia também afirmaram que não fizeram pagamentos à Delta.
Esquema só não atingiu Região Sul
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná não firmaram nenhum contrato com a Delta no ano passado.
Gravações da PF indicam que esquema de Cachoeira ambicionava fechar negócios na região.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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