A CPMI poderá caminhar rapidamente para fraudar a expectativa favorável que gerou na oposição pública confirmando sua restrição a “bagrinhos” (como a imprensa avaliou as con-vocações para depoimentos feitas em sessão da semana passada). Ou conseguirá ainda re-cuperar ao menos parte dessa expectativa de-cidindo a extensão delas para apuração das grandes conexões do grupo de Carlos Cachoei-ra nos planos empresarial e político, que envol-vem vários governos estaduais e o federal. Possibilidade tornada mais improvável pelo completo silêncio com que o próprio Cachoeira reagiu na sessão de ontem às perguntas e acu-sações que lhe foram dirigidas. E cenário que parece inviável em face da forte barragem do Palácio do Planalto – esta com apoio do PMDB – a que se aprove tal extensão.
Mas, mesmo que, lamentavelmente, se frus-tre o propósito explicitado, de identificação e desmonte de uma ampla rede de corrupção, o funcionamento da CPMI nas duas primeiras semanas conseguiu bloquear, quase inviabili-zando já, o objetivo básico que levou o presi-dente Lula e a direção do PT a patrocinarem sua criação. Esse objetivo era o uso dela como mecanismo para neutralizar o julgamento do mensalão, esvaziando-o, desacreditando-o ou forçando mais uma protelação. E foi posto em prática através de três propostas centrais dos petistas: 1ª - restrição seletiva das apurações a políticos e administradores oposicionistas (para banalização dos crimes atribuídos aos réus do mensalão) e, sobretudo, ao governador de Goi-ás, Marconi Perillo, como vingança pela revela-ção feita por ele de que informara pessoalmen-te o presidente Lula sobre ações dos mensalei-ros antes da explosão do escândalo; 2ª – con-vocação do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, para depoimento na Comissão, onde seria acusado de retardamento de opera-ção da PF contra Cachoeira (a fim de intimidá-lo e desqualificá-lo no referido julgamento pelo STF); ; e 3ª - convocação, também de um jorna-lista da Veja, Policarpo Júnior da sucursal de Brasília, para tentar associá-lo a Cachoeira e desacreditar a revista, como parte de outro ob-jetivo do PT: o controle da mídia. As três pro-postas (a segunda rechaçada pelo STF) não prosperaram na Comissão.
O bloqueio a elas deveu-se basicamente à direção do PMDB. Quanto à primeira, por inte-resse especificamente partidário: o de proteger o correligionário governador fluminense, Sérgio Cabral. E a postura contrária às outras duas adotada com base em análise e cálculo de im-plicações políticas e institucionais, ligados às eleições deste ano, à disputa das mesas direto-ras do Senado e da Câmara em 2012 e ao plei-to presidencial de 2014. Tais análise e cálculo recomendaram distanciamento claro em relação ao PT no processo do mensalão e resistência a passos direcionados ao controle da mídia. Ca-be assinalar que essas posturas do PMDB – (envolvendo articulação com o PSDB e decisi-vas para o fracasso das propostas do lulope-tismo) – foram facilitadas por um obstáculo adi-cional com que este não contava: o mal-estar da presidente Dilma quanto à própria criação da CPMI (vista por ela como fator negativo para o governo em face do risco de envolver contratos e autoridades federais) e o seu cuidado de dis-tinguir-se do empenho do antecessor de buscar a todo custo o controle da mídia.
“Tiro no pé” – Trechos da coluna de Merval Pereira, no Globo de domingo, com o título acima: “O flagrante da mensagem do deputado petista Cândido Vacarezza garantindo imunida-de ao governador do Rio, Sérgio Cabral, é mais uma confirmação de que essa CPI do Cachoei-ra está se revelando o maior erro dos últimos tempos do grupo político que está no poder”. “Por enquanto, está dando tudo errado. A tenta-tiva de constranger os ministros do Supremo (com a convocação do Procurador Geral Rober-to Gurgel) resultou numa reação do Judiciário, que se viu impelido a não deixar dúvidas sobre sua independência. A vontade de procrastinar o julgamento (do mensalão) para o próximo ano... ficou tão explícita que o revisor do processo, Ricardo Lewandowski, viu-se na obrigação de anunciar que pretende apresentar seu voto ain-da no primeiro semestre, permitindo que o jul-gamento comece logo em seguida”. “Com rela-ção à imprensa, todos os esforços do senador Collor de Mello, o ‘laranja’ da tramoia petista, têm sido em vão, e as relações do PT com o PMDB estão azedando...”.
Jarbas de Holanda é jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário