Com a missão de manter a Câmara alinhada ao Planalto, deputado terá de retomar o diálogo com ex-aliados
Karla Correia
Reconhecido como um dos mais experientes articuladores políticos da Câmara dos Deputados, o recém-eleito presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), terá de lidar com um rastro de descontentes dentro do próprio partido e na base aliada. Parte deles, fruto da movimentação pela presidência da Câmara. Prova disso é o diagnóstico, feito por aliados peemdebistas, sobre a sucessão de denúncias surgidas contra Henrique, justamente na reta final da corrida pelo cargo. “Foi fogo amigo”, vaticinou um apoiador do peemedebista, já acostumado à convivência com rachaduras dentro do partido. “Henriquinho”, como é tratado pelos amigos, está longe de ser uma unanimidade dentro do PMDB, reconhece o aliado.
A dedução tem seus motivos. Desde que assumiu o atual mandato, em 2011, Henrique se concentrou na disputa pela presidência da Câmara. Acabou cultivando inimizades em troca de posições que beneficiariam a candidatura ao cargo, dentro e fora do PMDB.
A última disputa pela vaga da Câmara no Tribunal de Contas da União (TCU), em 2011, foi um exemplo de atuação que deixou feridas. Henrique passou por cima do próprio partido, que tinha como candidato o deputado Átila Lins (AM), para apoiar Ana Arraes (PSB-PE), mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Já na época, mirava a presidência da Câmara — ao apoiar a deputada, tentava conquistar o apoio do PSB para sua causa pessoal. Ana Arraes foi eleita com 222 votos. Membro de uma bancada de 80 deputados, Átila Lins obteve apoio de 47 votos. Não escondeu sua mágoa e deixou o partido. Desembarcou no PSD.
Ex-amigo
Situação parecida envolve a escolha do líder do partido na Câmara. Discípulo de Henrique, com quem costumava compor uma dupla praticamente inseparável nos corredores da Casa, o deputado Eduardo Cunha (RJ) foi abandonado por seu mentor na disputa pelo comando da bancada. Ao tomar conhecimento da resistência do Palácio do Planalto ao nome de seu pupilo — visto com especial desconfiança pela presidente Dilma Rousseff —, Henrique recuou imediatamente e passou a apoiar Sandro Mabel (PMDB-GO) para o posto. E voltou a mudar de posição, adotando a neutralidade, quando Cunha se consolidou como o favorito da bancada.
A mudança não aconteceu sem sequelas. A ala ligada a Eduardo Cunha se irritou com o então candidato à presidência da Câmara e a tensão interna do partido por conta da disputa pela liderança chegou a tal ponto que, quando surgiram as primeiras denúncias atingindo Henrique, Cunha se apressou em deixar claro para o aliado de velhos tempos que ele não era a origem dos ataques. Companheiro de partido e um dos apoiadores do parlamentar fluminense, Geddel Vieira Lima adotou estratégia oposta. Defendeu publicamente, em seu perfil no Twitter, que o ex-assessor e braço direito de Henrique, Francisco Bruzzi, fosse afastado do gabinete do peemedebista.
Outra fonte de possíveis problemas são as bancadas do PP, PR e PT. Se durante a campanha Henrique chegou a dizer que levaria ao plenário uma possível decisão sobre cassar o mandato dos condenados no mensalão, ao assumir a cadeira, o discurso foi modificado.
Ao encontrar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, o novo chefe da Câmara garantiu que cumpriria a determinação da Corte de retirar os mandatos dos parlamentares, sem a necessidade de votação no plenário da Casa. A decisão deixou descontentes os deputados dos três partidos — PP, PR e PT —, que descarregaram votos no peemedebista.
Quatro cassados
O julgamento da Ação Penal 470, conhecida porpularmente como mensalão, resultou na condenação de quatro deputados federais: Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), José Genoino (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT). Tão logo saia o acórdão e se encerre a apreciação dos últimos recursos possíveis à defesa, os parlamentares terão de cumprir penas variadas — e devem perder automaticamente as cadeiras na Câmara. João Paulo foi condenado a 9 anos e 4 meses; Valdemar, a 7 anos e 10 meses; Henry, a 7 anos e 2 meses; e Genoino, a 6 anos e 11 meses.
Fonte: Correio Braziliense
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