domingo, 17 de fevereiro de 2013

Jogo apertado - Tereza Cruvinel

A pedido de seu vice, Michel Temer, Dilma deixou a reforma ministerial para depois da convenção do PMDB, marcada para 2 de março

Olhando de onde estamos, a 19 meses da eleição presidencial, a presidente Dilma faz jus ao tratamento de favorita. Afora a popularidade, ela tem o maior leque de alianças, o apoio de Lula, e seu governo é bem percebido, no que pesem os tropeços da economia. Mas, já nestas preliminares do jogo a que estamos assistindo, começa a surgir a percepção de que a disputa não será um passeio, mesmo para a favorita. Ela própria parece ter isso claro quando toma nas mãos tanto a rédea da economia quanto a da articulação política.

Ontem, a ex-ministra Marina Silva lançou seu novo partido. Por menos ameaçadora que seja sua possível candidatura, ela não teria menos que os 20 milhões de votos obtidos em 2010. E olhe que o número de desiludidos com a política tradicional, dispostos a votar numa proposta “sonhática”, para usar a expressão por ela cunhada, só fez aumentar de lá para cá. Marina candidata joga mais água no moinho do segundo turno, que vai se desenhando como cada vez mais provável.

Da mesma forma, a candidatura de Eduardo Campos. Seu partido é pequeno, a natureza da candidatura indefinida, suas alianças hoje ainda são uma incógnita. Mesmo assim, ele pode rachar o Nordeste, grande celeiro de votos do PT. Em 2002, Ciro Gomes teve 12% dos votos nacionais, bastante concentrados no Ceará e na região. Nada indica que Campos venha a ter menos votos que Ciro, muito pelo contrário. Então, como já não parece possível evitar sua candidatura, na seara dilmista o empenho é para evitar, pelo menos, que ele se apresente como candidato do campo adversário, de modo a tê-lo como aliado natural no eventual segundo turno.

Enquanto o candidato do PSDB, Aécio Neves, não põe seu bloco na rua, Dilma deve tratar de seu terreiro, aconselhou Lula: precisa consolidar suas alianças e aproveitar a reforma ministerial para acomodar todo mundo no barco para a viagem rumo a 2014.

Foi a pedido de seu vice, Michel Temer, que Dilma deixou a reforma para depois de 2 de março, quando será realizada a convenção do PMDB para a eleição do comando nacional. Temer receia que as frustrações com a reforma acabem interferindo neste evento, que também é crucial para a travessia. A ideia é deixar tudo como está: o senador Valdir Raupp (RO) como presidente, e ele como presidente de honra. Ultrapassado mais esse marco, Dilma fará o que todos já sabem: nomear Afif Domingos, do PSD, e Gabriel Chalita, do PMDB paulista. Os mineiros, entretanto, estão insatisfeitos e insinuando que podem se jogar no colo de Aécio Neves. Dilma deve ainda trocar Brizola Neto por um pedetista que garanta o apoio do partido. A bancada prefere o deputado Vieira da Cunha (RS). Precisa ainda contemplar o PR. Se for necessário, ela sacrificará algum ministro técnico de sua cota pessoal.

Na economia, duas preocupações dominam o momento. Uma, a inflação, que para ser domada exigirá alguma alta nos juros, para desgosto da presidente. Em fevereiro, ainda deve ser alta. Pegará a baixa da conta de luz, mas também o aumento da gasolina. Segundo ponto no radar de Dilma, os editais de concessões ao setor privado, garantia de investimentos para alavancar o crescimento. Em maio, o governo espera bons resultados da licitação de novos lotes de petróleo. Depois de quase seis anos sem leilão, o mercado está ávido. Mas o de rodovias, marcado para junho, e o ferrovias, para julho, preocupam tanto quanto o de portos, em agosto. O road-show dos ministros Guido Mantega, Gleisi Hoffmann e Antônio Patriota, nos próximos dias, é tido como crucial para a aprovação do governo nestes testes, que afora os investimentos, indicarão o grau de confiança do empresariado.

Tudo isso, somado, vai indicando uma eleição apertada em 2014, ainda que Dilma seja a favorita.

Lincoln e a política

Muito já se escreveu sobre o filme de Steven Spielberg, baseado no livro de Doris Kearns Goodwin, sobre o elenco e os aspectos técnicos da produção, sobre a interpretação magistral de Lincoln por Daniel Day-Lewis . O filme é uma aula de história, mas ensina também sobre política, especialmente sobre o relacionamento entre o governo e o Congresso no presidencialismo.

Os “sonháticos” de modo geral, que buscam uma política “pura”, livre de barganhas, acordos, concessões, alianças e cooptações, verão ou viram no filme o maior estadista americano valer-se do que aqui chamamos de fisiologismo para conquistar seu maior objetivo, a abolição da escravatura.

O roteiro do filme baseou-se na parte do livro que aborda o fim da Guerra da Secessão e o esforço de Lincoln para aprovar a 13ª emenda constitucional, a da abolição. Já passara no Senado, mas, para aprová-la na Câmara, ainda que todos os deputados de seu Partido Republicano votassem a favor, ainda faltariam 20 votos. Lincoln e seus articuladores marcam a votação para antes da posse do novo Congresso, recentemente eleito, mirando os deputados democratas que não se haviam reelegido e em breve estariam ao relento. “Vamos lhes oferecer empregos”, ordena Lincoln. Os cargos são negociados e a emenda é aprovada por dois votos a mais que o necessário. O líder dos radicais republicanos, Thaddeus Stevens (também magnificamente interpretado por Tommy Lee Jones), que tinha uma relação conflituosa com Lincoln, resume: “Uma medida histórica acaba de ser aprovada, com corrupção, pelo homem mais puro da América”.

Nome a caminho

As queixas do STF sobre a falta que faz o 11º ministro estão apressando a nomeação do substituto de Ayres Britto pela presidente da República. Entre os nomes que correm na bolsa, dois são os mais fortes: Heleno Torres, professor da USP, e Humberto Bergmann Ávila, advogado tributarista gaúcho.

Fonte: Correio Braziliense

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