Lula compara-se a Lincoln em evento da CUT em São Paulo
Raphael Di Cunto
SÃO PAULO - Em discurso de comemoração pelos 30 anos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da qual foi um dos fundadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou que a entidade organize seu próprio grupo de mídia, para não ter mais que procurar espaço nos meios de comunicação tradicionais, e comparou-se ao ex-presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln (1809 a 1865) pelas críticas que recebe.
"Estou lendo o livro do Lincoln, e fico impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860, igualzinho batia em mim. E ele não tinha internet para responder, tinha que esperar o telex", brincou Lula. Lincoln, que teve a biografia transformada em filme pelo cineasta Steven Spielberg, entrou para a história ao abolir a escravidão nos EUA e encaminhar a Guerra Civil Americana ao fim - ele foi assassinado antes que isso ocorresse.
O filme, que concorreu ao Oscar neste ano, retrata as tratativas políticas do ex-presidente republicano para aprovar a reforma constitucional que previa o fim da escravidão. Sem os votos necessários no Senado, Lincoln ofereceu cargo para um grupo de senadores do partido adversário que não tinham sido reeleitos votarem a favor do governo.
Em julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, alguns dos principais líderes do primeiro mandato do governo Lula, como o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, foram condenados pela compra de apoio político na Câmara dos Deputados para aprovar projetos de interesse do governo, como a reforma da Previdência.
Lula, que evitou dar entrevistas durante o julgamento do mensalão, criticou ontem a imprensa e os formadores de opinião por "serem contra pessoas progressistas" e terem "bronca" dele por causa de seu sucesso e, agora, do da presidente Dilma Rousseff. "Essa gente nunca quis que eu ganhasse as eleições, nem que a Dilma ganhasse", afirmou.
O ex-presidente disse ainda que a mídia foi contrária as Diretas Já, movimento a favor do voto direto para presidente, e ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, e que só passou a acompanhar esses dois acontecimentos depois que os movimentos sociais já tinham levado milhares de pessoas para protestar nas ruas.
Para Lula, porém, houve uma mudança nos meios de comunicação. Antigamente, disse o petista, os formadores de opinião eram pessoas que falavam "meia dúzia de bobagens na televisão". Depois de seu governo, os sindicatos e movimentos sociais contam com formas de comunicação próprias, como revistas, panfletos, blogs, sites e até uma emissora de televisão, a TVT.
"Já estou na idade de parar de reclamar dos que não gostam de mim e não me dão espaço. Quantas vezes vocês já fizeram passeata em Brasília e não apareceram na televisão? Então por que a gente não organiza o nosso próprio espaço?", questionou Lula. "Temos uma arma poderosa, mas totalmente desorganizada. Em vez de ficar cada um falando o que pensa, temos que tentar formar um pensamento coletivo, mais unitário", cobrou.
No fim da tarde, o ex-presidente participou do 14º Encontro Nacional do Movimento Reintegração da Pessoa Atingida pela Hanseníase (Morhan) onde se encontrou com o governador Sérgio Cabral (PMDB) e com o vice governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato ao governo estadual nas eleições de 2014. Pezão deve ser adversário do senador do PT, Lindbergh Farias. Na quarta-feira o PMDB do Rio divulgou nota ameaçando não apoiar a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff no Estado, caso Lindbergh insista na candidatura.
Em São Paulo, também durante o evento da CUT, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, descartou a desistência da candidatura de Lindbergh. "Nós não estamos pensando em desistência dele, não. A candidatura dele é para valer", disse Falcão.
Segundo Rui Falcão, a tendência no atual cenário de pré-definição de chapas é que haja as duas candidaturas. "O quadro provável lá, inclusive em função da candidatura do [deputado Anthony] Garotinho (PR-RJ), neste período, é termos as duas candidaturas, a do Lindbergh e a do Pezão", disse.
Ele não descartou, contudo, que os partidos venham a se unir em uma coalizão. "Se for possível no ano que vem haver uma convergência para uma unificação, é uma possibilidade."
Falcão disse ainda que os dois partidos têm legitimidade para lançar candidato próprio.
Se houver mesmo as duas candidaturas, disse Falcão, Lindbergh e Pezão devem se unir no segundo turno, caso apenas um deles passe para a segunda fase da disputa. (Com agências noticiosas)
Fonte: Valor Econômico
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