Raymundo Costa
BRASÍLIA - No momento em que começa a articular apoios para a campanha da reeleição, ao mesmo tempo em que hesita em fazer a reforma ministerial, é menor o apoio à presidente Dilma Rousseff. Duas pesquisas diferentes registram o fato. Uma delas, feita pela empresa de consultoria Arko Advice, revela que a média de apoio à presidente caiu de 54,7%, em 2011, para 45,8% em 2012. A FSB Tracking, por seu turno, entrevistou 220 deputados e registrou que a nota dada pelos parlamentares à relação entre o governo federal e o Congresso caiu de 5,9, em maio de 2011, para 4,4 em dezembro de 2012.
A relação de Dilma com o Congresso foi reprovada, na opinião dos deputados, mas em todas as outras questões ela passou de ano, embora com queda de rendimento: a nota para o desempenho pessoal foi de 7,5 para 6,6, em 14 meses; a nota para o desempenho geral do governo caiu menos, de 6,8 para 6,0, em igual período - maio de 2011 a dezembro de 2014. Entre os aliados, o partido mais insatisfeito é o PR, cuja nota média, em 2012, à relação Executivo-Legislativo foi de 3,2, mesma nota atribuída ao governo pelo Democratas (DEM) e o PSOL. O PR foi o partido mais atingido pela chamada "faxina ética" no início do governo Dilma e perdeu o cobiçado Ministério dos Transportes.
À exceção do PT (6,2), PRB (6,0), PCdoB (5,4) e PTB (5,0), os demais partidos grandes e médios, aliados do governo deram nota abaixo de cinco para a relação de Dilma com o Congresso - foram entrevistados 17 partidos com representantes no Congresso, exceção daqueles com um deputado, para evitar o risco de identificação. A nota média do PMDB, que integra o governo com o vice-presidente, foi 4,5; e a do PSB, que namora uma candidatura presidencial própria, 4,8, apenas um pouco maior do que o gigante pemedebista.
A Arko Advice analisou 83 votações nominais e abertas de interesse do governo na Câmara, e no ano passado, 54 - as eleições municipais afetaram o ritmo da produção legislativa. Nessas votações, o PMDB, o maior entre os aliados de Dilma mas também o mais inquieto com o tamanho de seu quinhão no governo federal, ficou apenas com a sexta posição, em termos de fidelidade aos projetos de interesse do Palácio do Planalto, com uma adesão de 50,3%, ficando atrás de legendas como PP, PSB e PDT. No Senado, o PMDB ficou na sétima colocação, com adesão de 56,94%.
Não é à toa, portanto, que a presidente Dilma, já em campanha pela reeleição, tenha decidido prestigiar a convenção nacional do PMDB, no sábado, que deve reeleger Michel Temer para a presidência do partido. O Palácio do Planalto voltou também a acenar com a ampliação do espaço da sigla, talvez com mais um ministério. Como se trata de uma conversa antiga que nunca chegou a se concretizar, o PMDB se reserva o direito de ser cético.
A presidente Dilma Rousseff também confirmou presença em um jantar ontem à noite em homenagem ao senador e ex-presidente José Sarney no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer. "Ela tirou a semana para vestir o uniforme pemedebista", brincou um dirigente da sigla.
A FSB registra que o "caráter heterogêneo da coalizão governista constitui um elemento de imprevisibilidade do processo decisório, que só pode ser resolvido com um alto custo de compartilhamento e de negociação por parte do governo". Registra que "muitos consideram essa heterogeneidade a causa de um constante mal estar político", mas também que, pouco a pouco, esse "nervosismo democrático vai sendo assimilado como a temperatura normal do ambiente, desde que dentro de certos parâmetros".
Outro indício da queda do apoio político a Dilma está no fato de que o governo foi derrotado oito vezes na Câmara, em 2011. Em 2012, apenas uma. Nas votações de interesse do governo, o PR registrou um índice de apoio de 34,92% e foi a legenda da coalizão mais infiel ao Palácio do Planalto na Câmara.
No Senado, a Arko Advice, analisou 44 votações de interesse do governo, em 2011, e 12 no ano passado. A perda de apoio foi de 57,87% para 56,32% de um ano para o outro. Ainda assim, uma situação bem diferente da que teve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo mandato, que obteve a média de 48,6% de aprovação de projetos de interesse do governo. Mas Dilma teve uma derrota ruidosa, ano passado, durante sessão conjunta do Congresso. Na votação, os senadores aprovaram a urgência para a derrubada dos vetos da presidente à redistribuição dos royalties do petróleo.
Apesar dos percalços de 2012, Dilma pode recuperar o espaço perdido e até ampliar a aliança para a reeleição. Basta, para isso, mais negociação com o Congresso e o atendimento das reivindicações fisiológicas dos aliados. Este ano, a presidente já fez uma rodada de conversas com os principais partidos aliados. Inclusive, o PR.
Fonte: Valor Econômico
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