Ex-presidente quer governador em chapa com Dilma, mas socialista pode se afastar
Maria Lima, Júnia Gama e Flávio Freire
BRASÍLIA e FORTALEZA - Está por um fio e pode azedar de vez a boa relação do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com a cúpula do PT, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Com os nervos à flor da pele com o que considera ingerência de Lula junto aos irmãos cearenses Ciro e Cid Gomes para dividir o seu partido, Campos pode precipitar uma decisão dependendo do estrago causado pela visita do ex-presidente hoje a Fortaleza, onde será recebido com festa pelos irmãos Gomes.
Cid, por sua vez, será um dos convidados de honra do seminário sobre os 10 anos do PT no governo federal, que acontece hoje à noite em Fortaleza. Pelo protocolo, sentará ao lado de Lula, que amanhã também participa de um almoço reservado com Cid na capital cearense, antes de os dois partirem, no mesmo helicóptero, para a cidade de Redenção, onde Lula receberá o título de honoris causa da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
Na terça-feira, a pedido de Lula, o governador da Bahia, Jaques Wagner, esteve em Recife e renovou o convite para que Eduardo Campos seja vice de Dilma. Diante da negativa, o próprio Lula deve procurar o socialista para mais uma tentativa neste sentido. Enquanto Lula rifa a chapa Dilma/Michel Temer, a presidente tenta desfazer o mal-estar com o PMDB e ontem ofereceu um jantar para as bancadas do partido, governadores e outras lideranças peemedebistas, em homenagem ao ex-presidente do Senado José Sarney.
- Lula e o PT estão colocando Eduardo na parede. Se não tiver um distensionamento e Lula for mesmo ao Ceará, ele será obrigado a tomar uma decisão, que pode ser a entrega dos cargos ou anúncio de sua candidatura. O PT está sendo burro de deixar escapar um aliado sem tentar conciliar - disse ontem um dos interlocutores de Campos.
Do lado governista, entretanto, a avaliação é que a estratégia de Lula é justamente encurralar Eduardo Campos para que antecipe sua decisão.
- Eduardo e o PSB cresceram na barriga dos outros. Tem gente dele em todos os governos dos estados. Agora ele vai ter que se decidir e ter um lado. Lula está colocando ele nas cordas - disse um líder da base aliada.
Segundo interlocutores de Lula, ele não desiste de ter o presidente do PSB na chapa de Dilma, porque considera esta a única possibilidade de Campos desistir de disputar a Presidência da República ano que vem. A maior preocupação de Lula é que o pernambucano seja "adotado" pelas elites, como acha que já está acontecendo, e se torne um novo Collor, tirando votos preciosos da presidente Dilma.
Lula sabe que irá enfrentar grande resistência do próprio PT para levar adiante esse projeto de chapa Dilma/Campos em 2014, mas acredita que é um movimento necessário e que parte expressiva do PT, apesar de nutrir desconfianças em relação ao pernambucano, também considera melhor mantê-lo por perto do que tê-lo como inimigo.
No seminário de Fortaleza, a fala inicial caberá ao vice-presidente do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral, com conteúdo político sobre a importância da aliança entre as legendas. As comparações entre os governos de Lula e Dilma com o do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso devem prosseguir.
Fonte: O Globo
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