Ao precipitar a disputa pelo Palácio do Planalto – com o lançamento da campanha reeleitoral de Dilma Rousseff no encontro do PT realizado em São Paulo no dia 20 de fevereiro -, o presidente Lula assumiu ostensivamente o comando das relações e decisões políticas do governo, tornando-se uma espécie de “presidente-adjunto”, um novo posto na cúpula federal segundo o antecessor e sociólogo FHC, e nesse campo específico com mais poder que a titular da presidência. Entre as razões ou os motivos básicos dessa precipitação, a cujas implicações políticas se juntarão as de caráter econômico avaliadas no final deste texto, podem ser destacados os dois que se seguem. Primeiro – Necessidade de contenção da cobrança da candidatura do próprio Lula por bases petistas, em especial as sindicais, que deveria crescer na programada “caravana” dele a várias regiões do país. Segundo – O rechaço pela direção do PMDB da articulação do ex-presidente para troca de Michel Temer por Eduardo Campos como candidato a vice de Dilma. Que reforçou o projeto autônomo do governador de Pernambuco e presidente do PSB, considerado o principal risco para quebra da polarização PT-PSDB, peça-chave da estratégia para o pleito de 2014.
O apelo eleitoral dessa polarização – na qual se centraram os discursos de Lula e Dilma no referido encontro -, bem como os benefícios imediatos dela para os aliados, passam a ser também usados contra tal risco (e outros do gênero que uma candidatura pluripartidária de Aécio possa gerar), para o propósito de fechamento, já, de compromissos com a reeleição dos diversos partidos da base governista. Com uma rápida implicação: o “pequeno reajuste” do Ministério, que a presidente havia anunciado, terá de ser bem maior, ganhando a dimensão de troca das cúpulas partidárias pelas promessas de apoio de suas legendas à reeleição. Num processo de negociação em que o “presidente adjunto” tem como objetivo maior assegurar à candidata Dilma amplo predomínio de tempo na propaganda eleitoral “gratuita”.
Quanto ao relacionamento de Lula e do governo com o governador de Pernambuco, está ocorrendo mudança significativa de qualidade: em lugar das reiteradas ofertas de maior espaço na máquina federal, agora incisivas ações para dividir o PSB e fragilizar sua liderança no Nordeste. Trecho da reportagem de O Globo, de anteontem, intitulada “Ciro ataca Eduardo Campos e racha PSB”: “Setores do governo e do PT apostam na estratégia de azedar a relação dos irmãos Ciro e Cid Gomes com Eduardo Campos, a ponto de forçar a saída deles do PSB, uma vez que o governador é majoritário no partido. A presidente Dilma deve receber Cid hoje em audiência, em mais uma tentativa de estreitar a relação com a ala dissidente do PSB. No cálculo governista, a principal região-forte de votos para Campos ainda é o Nordeste. Sem base no Ceará, avalia o Planalto, Campos ficaria enfraquecido em sua área de referência e poderia cogitar de adiar suas pretensões eleitorais”.
No plano da política econômica, a precipitação da disputa presidencial certamente tornará mais incerta a resposta da presidente e candidata aos desafios de uma retomada significativa do crescimento e do controle das pressões inflacionárias, bem como o de melhorar o precário nível da gestão governamental. Em face do grande peso, antecipado, das demandas de aumento dos gastos públicos com os programas sociais, com o funcionalismo, com a intensificação de diversas demandas sindicais. E num contexto em que o Executivo terá reduzido seu peso no Congresso. Do que são exemplares as dificuldades que está tendo relativas a matérias como a partilha dos royalties do pré-sal e mudanças no FPE – Fundo de Participação dos Estados, além das limitações que restringirão o uso abusivo de MPs – Medidas Provisórias.
Jarbas de Holanda é jornalista
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