Nesta sexta-feira saem as Contas Nacionais (evolução do PIB) do quarto trimestre de 2012. Uma das coisas que se verificarão é que a participação da indústria de transformação na renda nacional terá caído de 14,6%, em 2011, para alguma coisa em torno dos 13% em 2012. Segue-se que, se o governo persegue forte crescimento do PIB, cada vez menos poderá contar com a indústria de transformação para isso.
Em outras palavras, no ponto em que estamos, o avanço mais significativo do PIB não se obtém com empurrão ao consumo de bens industriais – seja pelo estímulo ao crédito, seja pela redução de impostos sobre produtos de consumo durável. Será obtido, sim, se o governo puxar pelo avanço dos serviços, o que, evidentemente, não pretende. E, se for verdade que o setor de serviços começa a perder dinamismo, como sugere o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficará inevitável um desempenho também mais limitado do PIB.
Caso se confirme o crescimento da produção (e da renda) da indústria de transformação na ordem de 3% em 2013, como ainda nesta quarta-feira reafirmou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a contribuição desse avanço para o do PIB do ano deve ser inferior a 0,4 ponto porcentual.
Isso não quer dizer que a indústria nacional não deve ser estimulada com agressiva redução de custos e com aumento de escala de produção. É necessário que uma economia como a brasileira tenha um setor industrial forte.
O problema é que as políticas do governo nesse sentido são tímidas e contraditórias. Não conseguem caminhar, por exemplo, na desoneração dos encargos trabalhistas. Primeiro, puxa o câmbio para dar mais competitividade à indústria, mas, no meio do caminho, se arrepende e volta atrás. Além disso, até agora, o governo não se empenhou em abrir o mercado externo. As políticas protecionistas e de defesa comercial, quando eficazes, limitam-se apenas a criar mais reserva de mercado interno. As negociações destinadas à obtenção de acordos de livre comércio praticamente pararam. E a política de boa vizinhança e de tolerância com a Argentina derrubaram o mercado do Mercosul para a indústria. Em relação a 2011, as exportações para o Mercosul em 2012 caíram 18% e, para a Argentina, 20%.
As causas do esvaziamento da indústria vêm sendo objeto de intensas discussões. O livro O futuro da indústria no Brasil, com textos organizados por Edmar Bacha e Monica Baumgarten de Bolle, é valiosa contribuição para isso.
De todo modo, fica demonstrado que decisões estratégicas de política econômica tiveram por resultado a intensificação do esvaziamento da indústria. Esse esvaziamento não deve ser entendido como "desindustrialização" – conforme vai sendo repetido por aí. Não é o caso, na medida em que não há transferência física de fábricas e de linhas de produção para outros países, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa.
O investimento em infraestrutura que começa a ser atacado com mais determinação pelo governo Dilma ajudará a reduzir os custos da indústria – e, portanto, a fortalecê-la. Mas seu impacto somente será observado a longo prazo.
Dois pontos. Duas afirmações se sobressaem entre as que a presidente Dilma Rousseff fez nesta quarta-feira no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. A primeira, de que o governo pretende um investimento de 25% do PIB. Faltou explicar como. A segunda, de que não pode haver divórcio entre público e privado. Se for um jeito de enfrentar a repulsa histórica do PT à privatização, é um grande avanço.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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