Presidente enfrenta protesto de produtores rurais contrários às demarcações de terras em Mato Grosso do Sul
Luciana Nunes Leal - Enviada Especial
CAMPO GRANDE - Nas duas horas em que participou ontem da solenidade de entrega de 300 ônibus escolares a 78 municípios de Mato Grosso do Sul, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada, fez apelos para que o brasileiro não tenha "complexo de vira-lata" - "não há quem nos derrote" - e ouviu apoio explícito ao seu projeto de reeleição em 2014.
Produtores rurais organizaram um protesto no meio do evento de ontem, realizado no hipódromo de Campo Grande, com faixas e cartazes contra a Fundação Nacional do índio (Funai). Os manifestantes cobravam do governo a suspensão das demarcações das terras indígenas até que o Supremo Tribunal Federal se manifeste sobre o tema. "Demarcação não", gritavam, inclusive na hora do discurso. Alguns usavam camisetas com a inscrição "O Brasil que produz pede socorro".
Os produtores reclamam que a Funai quer demarcar terras legalizadas. Eles se reuniram no domingo e ontem com representantes da Secretaria-Geral da Presidência e devem se encontrar, na próxima semana, com o ministro Gilberto Carvalho. O presidente da Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, disse ter entregue à presidente um documento com reivindicações.
Em resposta à hostilidade dos produtores, aliados de Dilma e do governador André Puccinelli (PMDB) gritavam "Demarcação sim" e outras palavras pró-Dilma. "Acho bom vocês gritarem, democracia é isso também. Só me deixem concluir", disse Dilma no discurso.
A presidente aproveitou o clima para mandar recados à oposição. Citou o cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues ao dizer que o Brasil não pode ter complexo de vira-lata". "Não tem quem nos derrote se não acharmos que estamos derrotados. Enterramos nos últimos dez anos o complexo de vira-lata", disse ela, em referência ao período do PT à frente do governo federal "Hoje, além de mostrar um futebol fantástico, mostramos também que somos capazes de distribuir renda, somos um país mais estável, que controla sua inflação, que tem a menor taxa de desemprego. O Brasil hoje é um país muito melhor do que era há décadas atrás", disse. Dilma chegou a chamar o Estado de "Mato Grosso" e provocou protestos da plateia. Desculpou-se em seguida, incluindo o "Sul", e passou a elogiar as belezas locais como a cidade de Bonito.
Empolgado com a presença de Dilma, o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, Gerson Domingos (PMDB), chegou a afirmar: "O futuro está na sua reeleição".
Ônibus. Depois de um conflito entre os governos federal e estadual por causa da paternidade do programa Caminho da Escola - de compra de ônibus -, Dilma e Puccinelli entregaram chaves de 300 veículos a 78 prefeitos.
Conforme revelou o Estado há uma semana, o desentendimento aconteceu porque adesivos do governo de Mato Grosso do Sul foram colados sobre o logotipo do governo federal, que acabou sumindo. Puccinelli atribuiu o caso a um erro. Nos ônibus entregues ontem, havia adesivos "federais" e "estaduais".
Fonte: O Estado de S. Paulo
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