Na escola, a gente aprende que o Executivo executa, o Legislativo legisla e Judiciário julga. Vivemos num tempo em que o Executivo quer legislar, o legislativo quer julgar e o Judiciário executar
Há tempos não se vê um clima tão ruim entre os Poderes da República. É cada um querendo ingressar nas atribuições do outro. E isso não parece próximo de um desfecho, apesar da conversa entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves, com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Eles se mostraram interessados em baixar a temperatura, mas a proposta de emenda constitucional do ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT-RS), que considera injusto o Poder Judiciário tratar das leis aprovadas pelo Congresso, retoma o climão.
Na escola, a gente aprende que o Executivo executa, o Legislativo legisla e Judiciário julga. Vivemos num tempo em que o Executivo quer legislar, o legislativo quer julgar e o Judiciário executar. Tudo trocado. Essa crise, dizem alguns, é apenas reflexo desse modo exacerbado como cada um dos Poderes da República vê a si mesmo. E é difícil até dizer quem tem razão.
O Judiciário, por sua vez, é quem está melhor nessa história. Afinal, só age provocado, muitas vezes pelos próprios congressistas. Dentro do Congresso, os deputados não parecem dispostos a depor armas contra o STF. Hoje, com a Casa convocada para começar a votar a MP dos Portos, aprovada na Comissão Especial, será possível se ter uma ideia de quantos estão com “sede de vingança” e como a maioria reagirá aos problemas institucionais. Aliás, é isso que deve tomar o tempo da Casa, uma vez que as perspectivas de votações são baixas. O líder do PT, José Guimarães, por exemplo, foi para Cuba. Sinal de que não se espera muita produção dessa semana com feriado no meio.
Por falar em feriado…
A pausa da quarta-feira virá sob medida para organizar a seara entre os Poderes. No mais, o destaque deve ficar com o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff amanhã, sob medida para bater bumbo com o baixo índice de desemprego.
No dia seguinte, será a vez dos pré-candidatos a presidente e adversário de Dilma desfilarem seus sorrisos e simpatias nas festas do Dia do Trabalho. Só tem um probleminha: a jornada de 40 horas e o fim do fator previdenciário são questões polêmicas e o apoio a esses projetos hoje pode terminar gerando problemas se eles vierem a se tornar governo, como ocorreu como PT com a reforma previdenciária.
Vale lembrar que, nos tempos de oposição, os petistas criticaram duramente as medidas adotadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso nessa seara. No governo Lula, tudo mudou a ponto de Heloísa Helena, Chico Alencar , Babá, entre outros, largarem o PT por discordarem da mudança de posição. Portanto, conforme avaliam muitos congressistas, os pré-candidatos a presidente devem ser comedidos em relação a esses projetos. Afinal, prudência nunca fez mal a ninguém.
Enquanto isso, em Pernambuco…
Há quem diga que a pauta do encontro foi um dos motivos que levou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a ficar fora da festa paulistana de amanhã. Afinal, não dá para se comprometer com nada que não seja capaz de cumprir. Para completar, nos últimos dias, a exposição de Eduardo foi tanta que incomodou a muitos, dentro e fora do Palácio do Planalto.
Apesar desses desconfortos, Lula considera que não é hora de Dilma romper com o PSB, dando ao pernambucano os argumentos para seguir por outros caminhos, longe do PT.
A perspectiva é a de que a presidente resista às pressões. Afinal, há quem diga que, se Dilma não afastar o PSB do governo e nem destratar o grupo ligado a Eduardo Campos, ficará mais difícil ao socialista construir um discurso fácil rumo a um projeto alternativo. O problema é que essa operação exigirá uma dose de paciência que os petistas não demonstram ter. Resta saber se Dilma terá. Pelo visto, chegou a hora de a presidente testar todos os exercícios de serenidade e temperança que já fez na vida. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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