terça-feira, 30 de abril de 2013

Minas terrestres no campo de Marina - Raymundo Costa

Está em curso no Congresso uma articulação que engrandece, em vez de diminuir a classe política, como é corriqueiro: se PT e PMDB aprovarem o projeto que inviabiliza a participação de novas siglas na disputa presidencial de 2014, o Partido Verde pode oferecer a legenda do PV para a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva disputar a Presidência da República.

Depois das eleições, prevê a conversa, Marina deve tratar, como bem entender, da criação da Rede Sustentabilidade, o partido que pretende criar para concorrer em outubro do próximo ano, mas ameaçado com o campo minado a sua frente, graças ao casuísmo tecido pelos dois maiores partidos - PT e PMDB - da base, tendo por trás a mão peluda do governo.

O projeto virtualmente tira Marina Silva do jogo eleitoral, ao negar à Rede tempo adequado de TV e financiamento do fundo partidário, proporcionalmente ao tamanho de cada bancada, como terão as demais legendas, inclusive aquela criada pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

Verde planeja dar rede para Sustentabilidade

No PV a articulação conta com o apoio do deputado Sarney Filho (MA), líder da bancada do PV na Câmara, e do ex-deputado Fernando Gabeira (RJ), proeminência verde da sigla. É claro, conta com o apoio também do ex-ministro do Meio Ambiente Alfredo Sirkis, um nome certo na Rede Sustentabilidade, quando o partido for criado. E a oposição certa do presidente da sigla, José Luiz de Franca Penna, que transformou o PV uma espécie de cartório.

"Mesmo sabendo que vamos perder deputados para o partido da Marina, como é o caso do Sirkis, nós estamos trabalhando para oferecer-lhe a legenda para a disputa presidencial", confirma o deputado Sarney Filho. "Mas ela (Marina) virá sabendo que é só um abrigo para uma candidatura que tem o nosso ideário. Nós somos poucos e não devemos nos dividir. Depois ela vai cuidar da Rede".

Há três décadas, Zequinha, como o filho de José Sarney é mais conhecido, tinha 25 anos, integrava as fileiras do PDS, o partido do regime militar e foi um dos deputados a votar a favor da emenda do deputado ex-governador Dante de Oliveira (PMDB-MT), que restabelecia as eleições diretas para presidente da República.

"Aquele foi um momento de inflexão do autoritarismo, e a partir daí, acentuou o processo rumo à redemocratização do país", disse o deputado, numa homenagem prestada a Dante de Oliveira, já falecido, em discurso pronunciado no dia 25 de abril, aniversário da votação da emenda constitucional.

Mas o movimento não se restringe a integrantes do PV, o antigo partido de Marina Silva. Dois outros presidenciáveis também apoiam a iniciativa, os dois também ligados à resistência democrática, nos anos de chumbo da ditadura militar: Aécio Neves, cujo tio avô Tancredo Neves viria a se eleger no Colégio Eleitoral (faltaram duas dezenas de votos para aprovar a emenda Dante de Oliveira), e Eduardo Campos, herdeiro político do mítico governador Miguel Arraes, de Pernambuco.

É evidente que a candidatura Marina Silva, no momento, interessa a todos os que não estejam engajados no projeto de reeleição de Dilma. O PV quer se aproveitar do potencial de 20 milhões de votos que Marina teve em 2010, para tentar aumentar de peso político, enquanto Aécio e Campos ganham um reforço para levar a eleição para o segundo turno.

Mas que fique claro: por maior que sejam os interesses dos novos e antigos amigos de Marina, o argumento é a maneira fácil para desqualificar um movimento que, a rigor, carrega a marca do bom combate: a denúncia do autoritarismo de uma maioria casual assentada em base eticamente nada republicana.

A legislação diz que as regras para cada eleição devem ser estabelecidos até um ano antes do pleito. No caso, faltam ainda 17 meses. Mas ninguém tem dúvidas de que o jogo começou quando o ex-presidente Lula da Silva lançou o nome da presidente Dilma Rousseff à reeleição, em fevereiro, na comemoração do aniversário dos 10 anos de governo do PT.

Por essa razão é casuísta o projeto que impede o acesso à televisão e ao fundo partidário criados na atual legislatura. A ideia é boa, já frequentou centenas de vezes o debate parlamentar, mas só agora o governo resolve patrociná-la, depois de deixar vingar o PSD.

Como dizia Marco Maciel, ex-governador, ex-senador e ex-vice-presidente da Arena, PDS, PFL e DEM, tudo pode acontecer, inclusive nada. Mas a sucessão ainda é assunto em aberto. A experiência de Marina no PV indica que a articulação em curso será difícil. Mas não deixa de ser um alento o simples fato de ser imaginada.

"Esperamos uma Rede da Sustentabilidade forte para ser a nossa aliada na luta contra retrocessos na legislação ambiental no Congresso Nacional", diz Zequinha. Nada mais claro e objetivo. Atualmente, falar-se em virtude na prática parlamentar soa ingênuo. Lamentável. Mesmo abrigado em duas siglas, se esse for o futuro, o "ideário" verde será mais forte".

N; a ponta do lápis do presidente do PT, Rui Falcão, o partido pode eleger a maioria do Senado já nas próximas eleições. Para isso, diz o deputado, "basta a gente eleger agora, em 2014, quando um terço do Senado será renovado, mais senadores que o PMDB, o que é absolutamente viável, pela situação que observamos atualmente nos Estados". Fazendo a maioria, o PT também poderá eleger o presidente do Senado, algo impensável até bem pouco tempo. Atualmente, o PMDB conta com uma bancada de 20 senadores, mas seis terão de renovar o mandato. O PT tem 14 senadores, contando-se, entre eles, as ministras Marta Suplicy SP) e Gleisi Hoffmann (SP). Somente três estão em final de mandato. Ou seja, o jogo começa 14 a 11 para o PMDB.

Nas contas de Rui Falcão, o PT pode eleger, em outubro de 2014, o próprio Aníbal Diniz, o governador Jaques Wagner (BA), o deputado José Guimarães ou a prefeita Luizianne Lins, no Ceará, João Coser (ES), Marcelo Déda (SE), Paulo Rocha (PA), Ideli Salvatti (SC) e Eduardo Suplicy (SP). Falcão não diz, mas o PT pode trocar Suplicy por... Sim, Gilberto Kassab.

Fonte: Valor Econômico

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