sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Planos pós-novela - Denise Rothenburg

O PT considera o mensalão vencido do ponto de vista eleitoral e quer pautar 2014 no sentido da garantia de benefícios sociais. Falta combinar com o eleitor

Se tem uma coisa que brasileiro adora é novela. Até o falecido senador Antonio Carlos Magalhães, um dos ícones do PFL baiano, não perdia um capítulo das histórias exibidas no horário nobre. Por vezes, chegava a mandar dizer que estava em reunião para não perder os melhores momentos. Mas toda a novela — e quem é noveleiro sabe — tem aquela fase de desinteresse ou os instantes em que o povo pede: “Termina logo com isso, por favor”. É mais ou menos isso que ocorre com o processo do mensalão, no sentimento geral do imaginário popular.

A diferença, entretanto, é que o mensalão não é uma mera trama do horário nobre. É algo sério. Houve um crime e alguém tem que pagar por ele. Resta saber quando e de que forma. Os votos, até agora muito bem fundamentados de um lado e de outro, dão a ideia do tamanho do problema. E ninguém arrisca hoje dizer como votará o decano, ministro Celso de Mello, o protagonista do próximo e decisivo capítulo.

Dada a incerteza, o PT começa a se preparar para as duas hipóteses. No caso de os embargos infringentes serem aceitos e o processo seguir por mais tempo no Supremo Tribunal Federal, os petistas têm pronto o discurso de que houve um exagero na primeira rodada e agora o julgamento, sob a ótica do partido, será mais justo. Se vencer agora, é virar a página e pronto.

Nos dois casos, o discurso está formatado, até porque os petistas consideram que, em termos eleitorais, o assunto mensalão está vencido. Eles embasam esse raciocínio com o resultado da eleição na cidade de São Paulo no ano passado. Lá, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad venceu o ex-prefeito e ex-governador José Serra, enquanto os ícones do PT eram enfileirados na ala dos condenados por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e por aí vai. Portanto, o fato de a saga jurídica terminar em meio à pré-campanha de Dilma Rousseff no ano que vem não tira o partido do sério.

Se o PT tiver que concorrer no ano que vem com a imagem de José Dirceu ou de Delúbio Soares indo para a cadeia, a saída é dizer que o Brasil é tão democrático e livre que até integrantes do Partido dos Trabalhadores são punidos sem dó. Paralelamente, haverá todo um esforço no sentido de tentar pautar a eleição nos seguintes termos: se o povo quiser manter os ganhos sociais, leia-se Bolsa Família, Mais Médicos, Ciência sem Fronteiras e Minha Casa, Minha Vida, a melhor saída será manter o que aí está, ou seja, reeleger a presidente. Assim, os petistas calculam que passam ao largo do processo do mensalão. Falta combinar com os adversários e o eleitor, cada vez mais exigente em todos os campos, embora prevaleça, segundo as pesquisas internas do partido, uma postura mais pragmática por parte do eleitorado.

Enquanto isso, na oposição…
Os oposicionistas, por sua vez, não devem deixar passar em branco se o julgamento se arrastar para o ano que vem. Afinal, a imagem das prisões é forte e desgasta. Ocorre que, num país onde os eleitores se preocupam cada vez mais com o próprio bolso e com o que determinados candidatos fazem pelas pessoas de um modo geral, há quem defenda que o PSDB, por exemplo, não centre todo o seu poder de fogo em críticas ao mensalão, algo que já passou e, verdade seja dita, os réus não dominam o governo hoje.

Atualmente, os petistas temem muito mais os discursos relativos ao legado da Copa do Mundo do que referências aos mensaleiros. Em várias cidades do país, o tal legado — obras de mobilidade urbana e de infraestrutura — ficou para trás. Há alguns meses, por exemplo, mencionei aqui que alguns governadores de estados que tiveram as capitais escolhidas para sediar os jogos simplesmente deixaram de falar na Copa em todas as oportunidades. Alguns governadores detectaram, por exemplo, que em municípios do interior há uma revolta porque as promessas de melhorias em função da Copa não chegaram aos rincões. Se esse feitiço da Copa virar contra o feiticeiro, quem está no poder nos governos federal e estaduais terá mais a explicar do que o governo passado sobre o mensalão. Em 2014, independentemente do voto de Celso de Mello, as apostas são as de que a agenda será outra.

E na base governista…
Levantamento da Arko Advice mostra que a fidelidade de alguns partidos da base está em declínio. Em 2011, por exemplo, o PMDB acompanhou o governo em 64,14% das votações importantes. Em 2012, esse índice baixou para 54,92%. Este ano, está em 44,59%. No PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, os índices de fidelidade em plenário também caíram. No primeiro ano do governo Dilma, foram 70,05%; em 2012, 59,54%. E, agora, está em 44%. Só o DEM, oposição de carteirinha, aumentou o grau de adesão aos projetos governamentais. De 11,61%, passaram para 17,79% no ano passado. Em 2013, ficaram, até agora, em 25,60%. O PSDB é o partido que menos acompanha o governo. De 7,23%, em 2011, chegou a 17, 69% de apoio em 2012. Este ano, ficou em 9,34%. Não é à toa que o partido lidera a oposição ao governo Dilma Rousseff.

Fonte: Correio Braziliense

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