Ontem, estimulado pela manchete sobre os números do PIB brasileiro em queda, fiz uma leitura dirigida da Folha de São Paulo buscando as notícias que traziam números, índices e rankings, que transcrevo abaixo. A vista delas, pergunto para otimistas, pessimistas e realistas: o copo está meio cheio ou meio vazio?
1) A economia brasileira caiu 0,5% no terceiro trimestre de 2013 em relação ao trimestre anterior. É o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, durante o auge da crise global, quando houve retração de 1,6% (na comparação com o trimestre anterior).
2) O Brasil melhora a qualidade do seu ensino, mas em ritmo menor. E segue nas últimas posições no ranking entre países. Em matemática, o país ficou em 58º lugar, entre 65 países. Está atrás de Cazaquistão, México e Uruguai. E à frente de Colômbia e Jordânia. Nos demais quesitos, leitura e ciências, o Brasil não cresceu de 2009 para 2012. Em leitura, o Brasil está em 55º, e em ciências, em 59º. Os dados referem-se às provas aplicadas no ano passado.
3) As ações da Petrobras despencaram até 10% ontem após a decepção com o reajuste de 4% da gasolina, considerado insuficiente, e com a falta de detalhes sobre a política de preços da estatal.
4) O aumento da expectativa de vida do brasileiro, de 74,1 anos em 2011 para 74,6 anos em 2012, vai provocar uma redução média de 1,67% no benefício do trabalhador que decidir se aposentar por tempo de contribuição.
5) A parcela de operadoras de planos de saúde que obtiveram a nota mais alta de desempenho caiu de 2012 para 2013. Segundo a ANS, das 878 operadoras, só 11,7% tiveram a nota máxima. Em 2012, eram 17,3%.
6) O Brasil aparece na 72ª colocação no ranking mundial de combate à corrupção que será divulgado hoje em Berlim pela ONG Transparência Internacional. O país caiu três posições em relação a 2012 e permanece no grupo de alerta, formado por nações que não conseguem diminuir a percepção de corrupção com os anos.
7) Vendas de veículos recuam 2,8% em novembro e complicam meta para 2013.
8) Pelo terceiro ano seguido, o Brasil recua posições em um ranking mundial que mede a solidariedade da população. O dado de 2013 mostra que país é o menos generoso da América Latina, ao lado da Venezuela, e o 91º entre todas 135 nações analisadas.
9) Apesar das incertezas que o setor de carnes tinha no começo do ano, as exportações surpreenderam e estão acima das do ano passado. [...] Os dados de ontem da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) indicam exportações acumuladas de 4,74 milhões de toneladas neste ano, 3% mais do que em igual período de 2012. As previsões eram de um volume inferior ao do ano passado. [...] Os dados se referem apenas a carnes "in natura" e não incluem exportações de produtos industrializados.
10) Mais uma vez inflada pela exportação meramente contábil de plataformas de petróleo que nunca saíram do país, a balança comercial registrou saldo positivo de US$ 1,740 bilhão em novembro. Apesar dessas operações, que no ano somam US$ 6,58 bilhões, o resultado das trocas comerciais do país com o exterior permanece negativo em 2013, em US$ 89 milhões.
11) Em outubro, mais uma vez, o índice de desemprego medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) caiu: estava em 5,4% em setembro e recuou para 5,2%, o menor nível desde o início dessa série histórica, em 2002.
12) Brasileiro com pé no breque. Quase sete em cada dez consumidores brasileiros planejam reduzir suas despesas nos próximos 12 meses, segundo pesquisa do BCG (Boston Consulting Group).
Mesmo quando a notícia é relativamente boa, não é boa completamente, resta um senão, um algo a menos:
- Cai em 0,2 pontos percentuais no índice de desemprego, em compensação os consumidores vão reduzir as compras.
- Aumenta a expectativa média de vida, porém cairá a renda média das aposentadorias.
- Exportou-se mais carne “in natura”, mas a balança comercial, apesar de criativas manobras contábeis, é negativa.
- Melhora um pouco a qualidade de ensino, apesar disso o Brasil continua nas últimas posições no ranking mundial.
Não fujo da resposta: na minha visão, que me julgo realista, o copo deve estar é furado.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Vice-presidente do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@gmail.com
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