Determinação às distribuidoras é a de que, em casos de blecautes, seja suspenso, prioritariamente, o fornecimento às áreas menos favorecidas, onde não haja prédios, hotéis e fábricas. Dilma teme que a falta de luz em regiões carentes prejudique a reeleição
Sílvio Ribas
A maior parte dos brasileiros prejudicados pela série de apagões ocorridos desde a posse da presidente Dilma Rousseff — o mais recente deles aconteceu anteontem e afetou mais de 6 milhões de pessoas em 13 estados e no Distrito Federal — está nas camadas mais pobres da população, sobretudo moradores das periferias das principais metrópoles do país. Em virtude de protocolos obedecidos pelas concessionárias de distribuição de eletricidade durante o que as empresas chamam de grandes “perturbações” do Sistema Interligado Nacional (SIN), a ordem é cortar o fornecimento nas áreas menos favorecidas e populosas, onde não haja prédios, hotéis e empresas.
Gestores das companhias estaduais de energia explicam que o procedimento técnico conhecido como Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), coordenado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), impõe cortes seletivos com o critério de evitar transtornos nos principais centros comerciais e empresariais e na regiões mais ricas, como, por exemplo, a Zona Sul do Rio, devido à maior concentração de empreendimentos de grande porte. “Os problemas decorrentes de falta de energia são maiores nas áreas em que há prédios, pois há o risco de pessoas ficarem presas em elevadores e de terem que descer muitos andares de escada. Nas áreas residenciais, é menos traumático ficar sem luz, mesmo que por algumas horas”, disse um técnico consultado pelo Correio.
Nos bastidores do governo, há, porém, preocupação com esse processo seletivo, pois o público mais prejudicado pelos blecautes está na base eleitoral da presidente Dilma Rousseff. Caso os apagões se tornem frequentes, como alertam os especialistas, podem tirar votos importantes para a reeleição da petista neste ano. Nas reuniões internas do governo, ocorridas nos últimos dois dias e comandadas pela presidente, o clima é de apreensão. Não bastassem os problemas na economia, com inflação e juros em alta e baixo crescimento econômico, agora o fantasma do racionamento voltou a assombrar o Palácio do Planalto, onde não se admite a possibilidade da repetição de 2001, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a limitar o consumo de energia, provocando enorme desgaste ao governo na época.
O Planalto reconhece que a forte onda de calor e a estiagem nas áreas onde estão os grandes reservatórios de hidrelétricas são preocupantes e podem aumentar o pessimismo em relação ao governo. Impulsionado pelo uso de sistemas de refrigeração, o consumo de energia cresceu 11,8% em janeiro frente a igual período de 2013, para 68,828 mil megawatts (MW) médios. A tensão é tamanha em repetir o vexame de apagões em pleno ano eleitoral, que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) alertou às distribuidoras para que não divulguem projeções meteorológicas “para não assustar” a população.
No caso dos Eracs implantados esta semana, as distribuidoras estaduais tiveram que suspender 8% de sua carga por um período de pelo menos 35 minutos, a partir das 14h03. No Distrito Federal, 16 mil pessoas ficaram sem luz. A maioria das vítimas estava nas áreas rurais de Planaltina e Brazlândia, distantes do centro da capital. As empresas ressalvam, contudo, a exclusão de presídios e hospitais das interrupções.
Balanço
A AES Eletropaulo informou que o fornecimento de energia foi cortado para quase 2 milhões de habitantes em cidades da Grande São Paulo, como Vargem Grande Paulista, Embu, Diadema e Cotia, além de bairros populosos da capital paulista, como Capão Redondo, Pedreira, Cidade Ademar, Mooca, São Mateus, Vila Prudente, Itaquera, Vila Mariana, Guaianases e Vila Matilde.
No Rio de Janeiro, a história foi a mesma: mais de 800 mil pessoas ficaram sem luz no estado, segundo informações das concessionárias Light e Ampla. A pedido do ONS, na capital, foram afetados os bairros do Méier, Pavuna, Inhaúma, Irajá, Penha, Cascadura e Madureira, na Zona Norte, além de Bangu, Campo Grande, Guaratiba e Jacarepaguá, na Zona Oeste. Na Baixada Fluminense, foram atingindos os municípios de Mesquita, Belford Roxo, Queimados e Nova Iguaçu.
Apesar de o governo descartar qualquer conexão entre a elevada demanda de energia e as causas do primeiro apagão do ano, o ONS informou ontem que foi registrado novo recorde de consumo de eletricidade exatamente três minutos antes da interrupção. Às 14h da última terça-feira, a demanda da região Sul atingiu o pico de 17.412 megawatts (MW).
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário