Mesmo que o último apagão decorra de um problema de distribuição, e não de deficit na oferta de energia, Dilma terá custos eleitorais se ele não for resolvido este ano
Os adversários de Dilma Rousseff têm boas razões para se excitar com o apagão de terça-feira. O racionamento de 2001 foi uma contribuição fatal para a impopularidade final de Fernando Henrique e para o insucesso eleitoral de seu candidato à sucessão. Dilma foi chamada de “mãe do PAC” por Lula, mas ela gosta mesmo é de ser uma espécie de rainha do setor elétrico. Ela o remodelou quando ministra de Minas e Energia e forçou a queda das tarifas como presidente, reduzindo o faturamento das geradoras e logo a capacidade de investimento. Mas, entre os acidentes frequentes que vêm acontecendo, indicadores de que algo realmente tem funcionado mal no sistema, e um desabastecimento como o de 2001, segundo especialistas do setor, existe hoje boa distância. Os acidentes estariam ocorrendo na distribuição, por falhas técnicas ou operacionais, mas não por deficit na oferta.
Em dezembro, Dilma acabou cancelando participação na festa de inauguração da linha de transmissão da energia das usinas do Rio Madeira, levando-a de Porto Velho a Sorocaba-(SP), de onde é distribuída ao resto do país. Amanhã, acontecerá o leilão de distribuição da energia da usina de Belo Monte, que começará a operar no ano que vem. Por 2 mil km, ligando o Pará a Minas, passarão 4,5 mil megawatts, volume que hoje transita pela linha que sai do Madeira. A Eletronorte, em parceria com duas empresas chinesas, é forte concorrente. A geração de energia parece, portanto, garantida. Os reservatórios não estão rasos e as termelétricas estão descansando. Mas o problema de Dilma é este ano. Mesmo sendo o problema na distribuição, por falta de investimento ou de eficiência, haverá custos eleitorais para ela se não for resolvido e as quedas abrangentes de energia persistirem.
Voltando a si
Entre o estouro do mensalão em 2005 e as condenações de 2012/2013, o PT viveu uma espécie de catalepsia política e psicológica caracterizada pela falta de reação mais contundente aos ataques sofridos. O deputado João Paulo Cunha, nas ultimas semanas, rompeu essa postura com iniciativas agressivas em relação ao julgamento e ao ministro Joaquim Barbosa. As atitudes parecem estar começando a fazer escola. O presidente do PT, Rui Falcão, decidiu fazer uma interpelação judicial ao ministro do STF Gilmar Mendes, que defendeu investigações das contribuições obtidas pelos petistas José Genoino e Delúbio Soares, por meio de sites na internet, para o pagamento das multas judiciais a que foram condenados. Mendes declarou suspeitar de lavagem de dinheiro nessas doações, e de que os próprios petistas pudessem ter distribuído dinheiro para lhes ser limpamente doado. Na interpelação, quem acusa ou ofende a honra deve provar o que disse. Ou retratar-se.
A questão foi judicializada e o Ministério Público, concluídas as investigações, dirá se tem algo de irregular nas “vaquinhas do PT” ou atestará que foram limpas. Nesse último caso, Mendes e o STF poderão refletir sobre outros para benemerência dos milhares de doadores. Não lavaram dinheiro, mas o sentimento de injustiça em relação ao julgamento, à omissão e à desconsideração de provas, aos excessos penais e aos pesos e medidas diferentes. Acaba de ser decidido que o processo relativo à suposta corrupção no metrô de São Paulo transitará na Justiça comum, indo ao STF apenas os réus com direito ao foro especial.
Em vão
Lula teve uma longa conversa com o deputado João Paulo Cunha na terça-feira, tentando convencê-lo a renunciar para evitar a cassação. Aparentemente, não o demoveu. Ele acha que a renúncia não deixaria de ser uma forma de anuência com a condenação que ele combate como injusta e infundada.
Palavras no molhado
Eduardo Campos fez duros ataques ao governo, mas não foi desta vez que disse a quê veio, no campo das propostas de governo. Os competidores também defendem melhoras na educação, mais inovação, democratização do Estado, vida urbana com mais qualidade, crescimento com sustentabilidade e preservação das políticas sociais. A nota forte foi a condenação da “velha política”, do “pacto mofado” que Dilma representaria. Mas a queixa maior do pessoal da Rede é exatamente a de que ele ainda não “incorporou” o significado da nova política. Diferenças, veremos mesmo é se a situação econômica apertar. Aí veremos quem dirá que, pela estabilidade, teremos que sacrificar algumas conquistas, essas que todos eles hoje dizem que devem ser preservadas.
Olá, como vai?
Depois da reaproximação entre Roriz, Arruda e Luiz Estevão, os realinhamentos prosseguem na política do Distrito Federal. Ex-aliados, depois de longo afastamento, o senador Cristovam Buarque voltou a conversar com o governador petista, Agnelo Queiroz. Aparentemente, o assunto era a crise na PM local. Apesar do gelo quebrado, a tendência do PDT de Cristovam e Reguffe continua sendo apoiar o candidato do PSB, Rodrigo Rollemberg.
Fonte: Correio Braziliense
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