Raquel Ulhôa e Murillo Camarotto
BRASÍLIA e RECIFE - Os pré-candidatos da oposição à Presidência da República, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do seu partido, e o governador de Pernambuco, também presidente nacional de seu partido (PSB), Eduardo Campos, criticaram o apagão de energia registrado esta semana.
Para Aécio, os apagões registrados no país sob a gestão da presidente Dilma Rousseff é um dos símbolos mais facilmente compreensíveis para o eleitor do que considera incompetência do governo. Mesmo assim, não há clareza de como o assunto será tratado durante a campanha eleitoral.
"Não há nenhuma área do governo em que a atual presidente tenha responsabilidade direta tão grande e profunda quanto a de energia. Ela conduziu essa área com mão de ferro ao longo dos últimos 12 anos. Quando era ministra dessa área, quando foi chefe da Casa Civil e, agora, como presidente da República. E ela fazia questão de demonstrar sua autoridade no setor", disse Aécio.
Para ele, o que salva o país de apagões mais graves é o "pífio" crescimento da economia. "No fundo, ela deve comemorar o não crescimento, porque se o país crescesse no nível que o ministro Guido Mantega [Fazenda] anunciava no início de cada ano, 4%, não haveria energia elétrica", disse o tucano. Segundo ele, falta investimento, planejamento e fiscalização no setor. O senador diz que, ao longo dos três anos do governo Dilma, 50% do orçamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela fiscalização de todo o setor, tem sido contingenciado para fazer o superávit.
Embora tenha um diagnóstico do problema - a começar da medida provisória editada para reduzir a tarifa da energia elétrica em vez de isentar os impostos -, Aécio diz que sua preocupação "não é fazer um discurso oposicionista, mas dizer o que precisa ser feito para nós retomarmos os investimentos no setor: transparência absoluta na gestão fiscal, confiança aos investidores, sem nenhum intervencionismo do governo nos contratos assinados e investimentos em energias alternativas".
No Recife, o governador Eduardo Campos também não poupou Dilma ainda que de forma mais contida que Aécio. Segundo ele, o apagão que atingiu 13 Estados na tarde de ontem reflete o "momento delicado" vivido pelo país em termos de geração de energia elétrica.
Campos atacou desde a falta de incentivo à microgeração e à eficiência energética até a descapitalização das empresas do sistema Eletrobrás. "É preciso a gente perceber que a Eletrobrás, que em 2010 valia R$ 32 bilhões, hoje vale R$ 8 bilhões. O governo teve que colocar, no ano passado, R$ 9 bilhões nas distribuidoras de energia", disse o governador.
De acordo com ele, a redução nas tarifas, anunciada em 2013 pela presidente Dilma Rousseff, deveria ter sido acompanhada de incentivos às iniciativas de eficiência energética. Estimativas atribuídas pelo governador a "técnicos" apontam que, se não houver reajuste nas tarifas neste ano, o governo federal terá que tirar do orçamento pelo menos R$ 15 bilhões para garantir o abastecimento pelas térmicas.
"No mesmo dia em que o preço da energia no mercado livre atingiu seu pico histórico, neste mesmo dia teve apagão. É preciso um olhar muito cuidadoso sobre isso", disse Campos.
Uma pessoa que trabalha na preparação do programa de governo do pernambucano disse que, durante a campanha eleitoral, o tema energético será incluído nas críticas à falta de planejamento de longo prazo do governo petista. "Sabemos que falta planejamento em quase todas as áreas, mas, no caso específico da energia, isso leva a problemas não só de longo prazo, mas também de curto prazo, como pudemos ver com o apagão", disse a fonte.
Questionado, no entanto, se os apagões recentes poderiam remeter ao racionamento de energia ocorrido durante o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Campos descartou a preocupação com falta de energia.
"Nós não vivemos ainda uma situação de falta de energia, até porque as térmicas estão todas, a um só tempo, girando, e essas térmicas foram contratadas depois daquilo [racionamento]. Mas temos um regime hidrológico duro neste momento e temos que torcer para que haja chuvas importantes em fevereiro", completou.
Fonte: Valor Econômico
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