A presidente Dilma fez ontem um gesto de aproximação com o PMDB telefonando para seu vice Michel Temer, para combinar a retomada das negociações para o Ministério. Na segunda-feira, já havia comparecido a um jantar na casa do vice em que prefeitos paulistas e o candidato do partido ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, estavam presentes. Seu discurso naquela ocasião foi música para os ouvidos peemedebistas. Disse, de maneira genérica, mas que foi entendido como dirigido a São Paulo, que para ela tanto faz vencer o PT ou o PMDB.
Ontem, fez outra indicação séria, que foi vazada pelo Palácio do Planalto como maneira de fortalecer Temer: qualquer indicação do partido terá que ser avalizada pelo vice-presidente. Uma maneira de tentar escantear o líder do PMDB, deputado federal Eduardo Cunha. A relação dos dois partidos está, portanto, em processo de reaproximação, mas mais difícil do que se previa.
As razões: políticos não gostam de Dilma, talvez até em parte por suas qualidades. Eles não se sentem parte do processo, acham que ela não negocia com eles de igual para igual, acham que não recebem a necessária atenção do Palácio do Planalto, os pedidos não são atendidos da maneira que gostariam. Esse é um sentimento generalizado, não apenas do PMDB, e por isso sempre há motivos para uma revolta.
Prefeririam vencer com Eduardo Campos ou Aécio Neves, e só ficam do lado dela se for a única opção de ganhar as eleições presidenciais. É dito dentro do partido que a presidente Dilma usa com o PMDB uma lógica sindical de negociação, como se ela fosse o sindicato patronal e eles, o sindicato dos empregados.
Chega com a proposta patronal, apresenta-a aos empregados, e aguarda uma resposta. Nunca é uma conversa sobre o que pode ser feito para chegar a um acordo. Não é uma relação de igual para igual. Nessa lógica, os parlamentares também resolveram adotar a lógica sindical. Quando a terceira proposta patronal não atinge o que o dissídio coletivo queria, eles partem para operação padrão, greve, todas as táticas sindicais para enfrentar os patrões.
A presidente Dilma reagiu a isso interrompendo as negociações até o término do movimento paredista. A presidente tinha absoluta convicção de que eles não a enfrentariam, de que voltariam atrás. Mesmo na terça-feira, tinha a convicção de que poderia vencer, com a ajuda do Senado, a resistência aos vetos na lei que cria novos municípios. Esse é um típico exemplo de um caso em que a presidente está absolutamente certa ao vetar a esdrúxula criação de novos municípios, mas não consegue ter a vitória no Congresso.
Mesmo que vencesse no Senado, mas recebesse uma maciça votação contrária na Câmara, a derrota política continuaria pesada, e o problema ficaria do mesmo tamanho. Mas os aliados tiveram que se empenhar para adiar a votação porque, em cima da hora, o Palácio do Planalto percebeu que poderia perder também no Senado.
A crise política é grave como nunca antes. O novo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi transformado em Ideli Salvatti com duas semanas de cargo justamente por não ter autonomia para fechar acordos. O PMDB é a parte visível de um desgaste que atinge toda a base governista. Surge no horizonte a possibilidade, ainda incipiente, de o partido ficar neutro na eleição presidencial, o que na prática significaria um rompimento do partido com o governo.
O mapa do PMDB é diferente do do Brasil. Lá, Ceará é maior que São Paulo, por exemplo, pela lógica interna do partido. E a crise envolvendo o senador Eunício Oliveira é grave. A maior representação é a do Rio de Janeiro, onde a crise entre o PT e o PMDB continua sem solução. O que seria uma crise fácil de resolver está se transformando em insolúvel. É preciso ter dez a 12 estados na convenção para criar uma dissidência forte. Mas o governo não consegue resolver os casos para desmobilizar a dissidência em três ou quatro desses estados, o que enfraqueceria a rebelião.
O nome da senadora do PP pelo Rio Grande do Sul é Ana Amélia, e não Maria Amélia, como escrevi na coluna de ontem.
O deputado federal Alfredo Sirkis, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), resolveu apresentar seu nome para concorrer ao governo do Estado do Rio.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário