Comissão do DEM e PSDB vai analisar pendências
Enquanto PT e PMDB dão sinais de afastamento, colocando em risco a manutenção da aliança da presidente Dilma Rousseff na eleição de outubro, PSDB e DEM voltam a se sentar à mesa para discutir os problemas da relação e reforçar a união em prol da eleição do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para a Presidência da República.
Segundo interlocutores, Aécio teve uma "conversa de parceiros" com o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), na terça-feira. Eles decidiram criar uma comissão de oito políticos de cada partido para analisar o quadro eleitoral em cada Estado.
Pelo calendário definido pelos dois, o grupo deverá discutir a situação e definir os panoramas dos Estados considerados "nevrálgicos" até 30 de abril. Para delinear o cenário eleitoral nos demais Estados, foi fixada a data de 30 de maio. A primeira reunião deve acontecer na próxima semana.
A iniciativa do encontro partiu de Agripino, logo após uma tensa reunião da Comissão Executiva Nacional do DEM. Nela, deputados do partido fizeram várias queixas do PSDB. Uns exigiram a vaga de vice-presidente para o DEM apoiar Aécio e criticaram a possibilidade de um tucano, como o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), compor a chapa.
Outros disseram estar cansados de se coligar com o PSDB nas disputas pela Presidência da República - definindo a situação como "mais do mesmo" - e preferir candidatura própria do DEM.
Houve reclamações da falta de apoio do PSDB a candidatos a cargos majoritários (governador e senador) do DEM que são competitivos em vários Estados. Os dirigentes avaliaram que, sem opção, o partido deve apoiar Aécio, mas exigindo contrapartidas nos Estados, para que o DEM atinja suas prioridades: eleger pelo menos um governador - Paulo Souto, na Bahia, quarto colégio eleitoral do país -, seis senadores e uma bancada de no mínimo 35 deputados federais.
Se o DEM atingir esse tamanho, Agripino avalia que o partido volta a se "sentar na mesa com os grandes", num país com 32 partidos registrados, 21 deles com representação no Congresso. Hoje, o DEM tem uma governadora (RN), as prefeituras de duas capitais - Salvador (BA) e Aracaju (SE), quatro senadores e 26 deputados federais.
O DEM sofreu desfalque nas eleições de 2006 (estaduais e nacional) e 2008 (municipais) e foi enfraquecido em 2011, com a criação do PSD pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Outros golpes foram a expulsão de José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal, a saída de Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina, que foi para o PSD, e a cassação do ex-senador Demóstenes Torres (GO).
Agripino lembra que em 2012 o DEM recomeçou a crescer. Nas eleições municipais daquele ano, passou a administrar 6,9 milhões de eleitores, o que representa 2,1 milhões de eleitores a mais do que governava antes do pleito. O partido não tinha nenhuma prefeitura no grupo das 85 maiores cidades do país (26 capitais e 95 cidades com mais de 200 mil eleitores) e elegeu cinco prefeitos nessa faixa: de Salvador (BA), Aracaju (SE), Vila Velha (ES), Barueri (SP) e Feira de Santana (BA).
Na reunião da Executiva Nacional, após ouvir as queixas de deputados, Agripino afirmou que o objetivo do DEM é o fortalecimento das bancadas na Câmara e no Senado e a eleição de alguns governadores e que a posição do partido na eleição presidencial será uma decorrência dos arranjos feitos para atingir essas metas. Mas concordou quando alguém disse que seria uma "humilhação" o partido aliar-se ao PSDB sem ser convidado a ocupar a Vice-Presidência. "Isso [ocupar a vice] seria o fecho dessa história", afirmou.
Chamado por Agripino ao final da reunião da Executiva do DEM, Aécio foi rapidamente ao encontro do colega, que lhe apresentou um quadro das dificuldades e as prioridades da legenda. Uma das situações mais delicadas negociadas entre os dois é a de Goiás.
O desafio é aproximar o deputado Ronaldo Caiado (DEM), que deve disputar vaga no Senado, e o governador Marconi Perillo (PSDB), pré-candidato à reeleição. Os dois têm divergências e, por enquanto, essa aliança é pouco provável. Caiado chegou a se lançar pré-candidato à Presidência da República mas recuou. Aécio está pessoalmente empenhado nessa costura.
O DEM também quer apoio dos tucanos a candidatos do partido às eleições majoritárias (governo ou Senado) no Rio de Janeiro, para o ex-prefeito César Maia, e em Alagoas, para José Thomaz Nonô, entre outros.
Segundo tucanos, Aécio está empenhado em mostrar a importância do DEM para sua eleição. Ele sinaliza a Agripino que o DEM vai participar da definição do candidato a vice-presidente e pode ocupar cargo estratégico na campanha e em um futuro governo seu. Ainda não é hora de firmar compromissos.
A tendência mais óbvia é a aliança com Aécio. Mas o martelo não será batido antes de abril. Os dirigentes do partido estão mais interessados em fortalecer a base da legenda e, para isso, o momento é de procurar as melhores alianças.
A primeira opção do DEM é tentar a conciliação com o PSDB nos Estados prioritários, já que não há um nome eleitoralmente viável para lançar à Presidência da República.
Para o DEM, o mais importante por enquanto é garantir condições de competitividade para seus principais candidatos às eleições majoritárias. O presidente do partido afirma que é hora de "recuperar musculatura".
Com a legenda voltando a crescer - e a "sentar com os grandes" -, Agripino acha que a eleição de 2014 será a última na qual o DEM não apresentará candidato à Presidência da República. Meta ambiciosa para um partido que já foi considerado praticamente morto.
Fonte: Valor Econômico
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