Arícia Martins e Cristiano Romero - Valor Econômico
SÃO PAULO - Um choque inesperado de alimentos deve aumentar a inflação no curto prazo e levar o Banco Central a estender o ciclo de aperto monetário iniciado em abril do ano passado. Efeitos da estiagem sobre os preços agrícolas já foram capturados pelos índices de preços no atacado e devem chegar com mais intensidade aos índices ao consumidor em março, quando se espera que o IPCA, indicador oficial da inflação, tenha um repique e supere 6% na variação acumulada em 12 meses.
O BC reconheceu que enfrenta um novo choque de preços de alimentos, embora acredite que seja temporário - por decorrer de um fenômeno climático - e não tenha a mesma intensidade do ocorrido no início do ano passado, quando os preços in natura subiram 45,3% nos 12 meses até fevereiro. Ainda assim, a intenção da autoridade monetária é evitar que o choque se propague para outros preços da economia.
Ao participar ontem de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, incluiu a pressão dos preços agrícolas em sua comunicação e sinalizou a possibilidade de novas altas da taxa básica de juros (Selic).
Tombini disse aos senadores que a inflação acumulada em 12 meses mostra resistência e uma variação "ligeiramente acima" da prevista. "Somem-se a isso pressões localizadas que ora se manifestam, especialmente no segmento de alimentos in natura", disse. Tombini afirmou que, em princípio, trata-se de um choque temporário e que tende a se reverter nos próximos meses. "Mesmo assim, a política monetária deve atuar de modo a garantir que os efeitos desse choque se circunscrevam ao curto prazo".
Embora os produtos in natura, que têm um ciclo rápido de produção, possam devolver no meio do ano boa parte da alta provocada pela seca, o mesmo não vale para as carnes, que pesam bastante na cesta de consumo e costumam absorver pressões por um tempo maior.
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