Fernando Rodrigues – Folha de S. Paulo Online
BRASÍLIA - Ao falar com empresários na semana passada, no Paraná, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou uma das abordagens que deve ser adotada pela campanha governista na corrida pelo Palácio do Planalto neste ano. O petista comparou, de maneira indireta, o pré-candidato de oposição Eduardo Campos (PSB) ao ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Num almoço com empresários, Lula enfatizou a necessidade de manter as políticas de governo por mais quatro anos, dizendo que Dilma Rousseff é a mais preparada para essa missão.
Nesse contexto, falando sobre como seria ruim haver uma interrupção, declarou: "A minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989: que venha um desconhecido, que se apresente muito bem, jovem e nós vimos o que deu".
Vários dos presentes entenderam a frase como uma comparação entre Fernando Collor de Mello e Campos.
Em 1989, Collor era apenas conhecido como governador de Alagoas. Era jovem, pregava renovação e ganhou o Palácio do Planalto. Depois, sofreu um processo de impeachment e o país passou por severa crise econômica.
Hoje, Campos também é um político pouco conhecido. Governa um Estado do Nordeste (Pernambuco) e se apresenta como o jovem que vai renovar a política.
No seu discurso no Paraná, Lula não fez citações a Aécio Neves (PSDB), outro pré-candidato a presidente oposicionista. Por ser do Sudeste, o tucano é mais conhecido nacionalmente.
No trecho em que fez uma menção indireta a Eduardo Campos, o ex-presidente afirmou que a atual ocupante do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, é a única que pode "dar garantia de manutenção de estabilidade no país".
Quando se tornou público ontem o teor da fala de Lula, aliados de Campos reagiram no Congresso. O deputado federal Márcio França (PSB-SP) escreveu em sua conta no microblog Twitter: "[Lula] acusou o golpe: Sabe que a chapa vai esquentar".
O discurso lulista, na avaliação dos que estiveram presentes ao encontro da última sexta-feira, revela um pouco a estratégia do PT: de um lado, vender que o atual governo está preparado para fazer com que o país retome o crescimento. Na outra ponta, classificar os adversários como um risco à estabilidade.
Há um temor específico a respeito de Campos pelo fato de o socialista ter saído do mesmo campo político ocupado por Lula e Dilma. O pernambucano tem aumentado o tom de suas críticas a respeito da maneira de governar da presidente, mas sempre poupa Lula.
Ao fazer um ataque a Campos, ainda que de forma indireta, Lula tenta disseminar a interpretação de que a partir de agora o pernambucano será tratado como adversário.
O PT deseja fazer uma espécie de vacina para a eventualidade de haver uma disputa de segundo turno entre Dilma e Campos num cenário em que parte do eleitorado não consiga distinguir com clareza quem é o nome predileto de Lula.
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